Caixa de Pandora

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Auto-Avaliação Coletiva


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O desafio dessa semana em Processos e Linguagens Tridimensionais talvez seja o mais difícil de todos: fazer uma auto-avaliação coletiva a partir das produções artísticas dos colegas do curso de Artes Visuais.

A princípio essa atividade gerou um certo desconforto, pois não fazia ideia de como avaliar minhas colegas e a mim mesma, sendo que estamos a tão pouco tempo inseridos nesse mundo da arte. Acredito que ainda não tenhamos repertório nem conceitual nem artístico para julgar tecnicamente nenhum trabalho.Podemos fazer algumas especulações em torno daquilo que julgamos estético, porém avaliar da forma como nos foi solicitado está fora de nossa alçada, ao menos por enquanto.

Vou seguir a dica de uma colega e ressaltar algumas atividades das colegas que me chamaram a atenção numa tentativa de auto-avaliação. Destaquei um trabalho para cada uma das atividades: Andante, Nicho Poético, Prensauto, Paisagens Urbanas e por fim, um trabalho extra, que considero emblemático desse curso.

Começo pelo Andante da colega Alexandra. A partir da referência artística que inspirou sua produção ela escolheu "Mulheres Errantes" de Lasar Segall, da realização do andante e, principalmente, do espaço escolhido para deixá-lo exposto percebo uma relação: espaço, andante e referencial artístico dialogam entre si, deixando a mostra o porquê se sua escolha.

O Andante da colega Leila também chamou muito a atenção por outro motivo. A mudança de percurso na confecção de seu andante a partir do acidente com o pede sua filha mostra o quanto o artista-professor-pesquisador sofre interferência do meio em que vive e em como podemos flexibilizar uma idéia sem perder o foco. Transformação e ressignificação do objeto produzido em sintonia com a vivência pessoal.

Depois parto para o Nicho poético da colega Daiana Rocha. A elaboração do mesmo me chamou a atenção pelo capricho na confecção do mesmo: a caixa escolhida pela colega como nicho foi pintada de branco, decorada com figuras humanas de um lado e uma silhueta de um prédio de outro, tudo em preto, contrastando com o fundo branco da caixa; na tampa da caixa a colega escreveu palavras significativas para aquele nicho que representam sentimentos, emoções, desejos. Muito interessante e o resultado final é belíssimo.

Ressalto também o projeto de Paisagens Urbanas da colega Neusa Vinhas. O que gostaria de salientar no trabalho da colega não é apenas a idéia da intervenção que é muito boa, mas, principalmente, os referenciais teóricos que ela nos traz e a articulação que nos propõe. Seu trabalho está solidamente embasado e refletido. Não se trata de uma simples tarefa a ser realizada. Há uma relação percebida entre o fazer artístico e o fazer docente, um compromisso total com a arte-educação, com seus alunos e com a sociedade em que vive e atua.

Por fim, mas não menos importante, gostaria de destacar o trabalho da colega Elizabete. Ao longo do curso a Bete tem descoberto muitas coisas e cada uma dessas coisas que ela aprende, compartilha com seus alunos, lá na sua cidade, Barra do Ribeiro. Ela coloca em prática tudo que aprende de forma muito corajosa e sensível. Sem medo de se expor e de errar. O que ela não sabe hoje, ela busca, pesquisa, pergunta e aprende. Ela é como o menino do vídeo “Captura do vento”, não cansa de se surpreender e se admirar. A Bete é um exemplo para todos.

Creio que muito mais do a mera realização de atividades, todos os alunos do curso tentaram a seu modo romper barreiras, entender mais a linguagem tridimensional, experimentar coisas novas, testar novos caminhos, compreender a sociedade em que estão inseridos e, principalmente, fazer da arte um caminho para reflexão, um caminho para um novo olhar sobre o mundo, uma caminho para aprendermos a sermos melhores: melhores professores, melhores artistas, melhores seres humanos.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Paisagem Urbana_projeto


Projeto e pequena ação demosntrativa


"As perguntas são mais importantes que as respostas"


A Educação deve ser um processo de construção de conhecimento
ao qual acorrem, em condição de complementaridade,
por um lado, os alunos e professores e,
por outro, os problemas sociais atuais e o conhecimento já construído
("acervo cultural da Humanidade").”¹ (BECKER)

A proposta de atividade que apresento é um Projeto de Intervenção Urbana Coletiva que tem como tema inspirador o lema da 6ª Bienal do Mercosul “A arte não responde, pergunta”.


Apresentação do projeto e objetivos:


O Projeto de Intervenção na Paisagem Urbana foi pensado a partir de uma provocação, uma tarefa a ser realizada para a disciplina de Processos e Linguagens Tridimensionais, e que deveria necessariamente envolver nossos alunos nas escolas em que trabalhamos.


A primeira questão foi descobrir qual a motivação de nossos alunos e que tipo de intervenção faria sentido no momento-espaço que estamos vivendo atualmente. Após várias idéias, uma constante inquietação do mundo atual foi decisiva para a decisão pelo projeto: estamos questionando as coisas que nos são impostas diariamente? Por que o ser humano tem a falsa impressão de ter certezas absolutas sobre determinadas coisas? Por que questionamos tão pouco o que nos cerca? Onde foi parar nossa curiosidade? Onde estão as perguntas?


Chamei a esse projeto filosófico-poético-artístico de “As perguntas são mais importantes do que as respostas” por considerar que esse é o cerne da questão: estamos muito acomodados, fazendo coisas como autômatos, sem questionar, sem pensar, sem refletir e pior, sem duvidar. Penso que a arte pode nos servir como espaço-tempo de questionamento e reflexão.

A idéia é fazer com que as pessoas parem por um segundo e pensem. Duvidem das coisas que são ditas. Desconfiem do que veem. Passem a fazer perguntas sobre tudo. Fiquem atordoadas. Bombardeadas de dúvidas.


Descrição Detalhada:


A princípio a intenção é realizar com os alunos um debate a respeito das certezas que eles trazem e por em cheque essas “verdades” propondo que ao duvidar das coisas eles podem apreciar as mesmas de forma mais intensa. A curiosidade ao contrário do dito popular não matou gato nenhum. A curiosidade gera aprendizado. São nossas perguntas que nos fazem mudar, renovar, evoluir como seres humanos. Penso que ao propor qualquer atividade aos alunos devemos sempre considerar os conhecimentos que eles já trazem na bagagem, somando a esses conhecimentos novos estímulos que possam despertar o interesse deles pelo que se está propondo. Essa idéia está ancorada no que diz Fernando Becker sobre conhecimento:

“O conhecimento é uma construção. O sujeito age, espontaneamente - isto é, independentemente do ensino, mas não independentemente dos estímulos sociais-, com os esquemas ou estruturas que já tem, sobre o meio físico ou social. Retira (abstração) deste meio o que é do seu interesse. Em seguida, reconstrói (reflexão) o que já tem, por força dos elementos novos que acaba de abstrair. Temos, então, a síntese dinâmica da ação e da abstração, do fazer e do compreender, da teoria e da prática.”¹

Após essa discussão que pode levar um tempo bastante longo, penso em propor a partir de outras perguntas que se pense em um símbolo (orto) gráfico que represente de forma muito singela, mas profundamente impactante e visualmente reconhecível o “questionamento”.
Espero que eles cheguem ao (?) ponto de interrogação. Caso não cheguem meu projeto terá que ser reavaliado e, talvez, repensado e reestruturado. Posso ter errado na escolha do símbolo. Ajustes são fundamentais para que se possa construir algo realmente novo. Ninguém sabe tudo a priori, as respostas não estão dadas, elas devem ser construídas, tanto pelo aluno quanto pelo professor, numa relação dinâmica, em ambas as direções. Professor e aluno se determinando mutuamente, aprendendo conjuntamente, de forma construtivista. Nas palavras do professor Fernando Becker:
“Construtivismo significa isto: a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do Indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento.”¹


Supondo que os alunos cheguem ao esperado PONTO DE INTERROGAÇÃO, passamos a segunda etapa do projeto: a intervenção propriamente dita. Novo debate: como fazer com que mais pessoas passem a questionar suas verdades tidas até então como absolutas? Falo sobre algumas experiências de grupos e de artistas que realizam intervenções urbanas em outros lugares do mundo. Posso falar de Christo e Jeanne-Claude, de Richard Long, do Poro... Aluno é sempre muito receptivo a atividades diferenciadas, gosta do novo, da liberdade de criar, de andar na rua... Fernado Becker disse em uma entrevista que “O aluno atual é semelhante e diferente ao aluno de todos os tempos. É um ser humano que pergunta sobre tudo o que incomoda; se não pergunta é porque está sendo reprimido”². Então imagino que não será nada difícil convencê-los da importância de uma intervenção realizada no pátio da escola ou mesmo do bairro. O espaço sala de aula foi reconfigurado, deixamos as quatro paredes e passamos a agir na rua em interação com o meio. Passamos a utilizar espaços mais amplos para as atividades educativas. Penso que tanto o pátio da escola, como o entorno serviram bem a proposta dessa intervenção.

A partir da aceitação do grupo passamos a pensar em como fazer essa intervenção de maneira que não fique óbvia e que cause estranheza e reflexão. Várias idéias de como, onde, por que, que materiais utilizar, como realizar, quando realizar. Algumas limitações financeiras e temporais, outras estéticas. Nem todo material poderá ser tridimensional, teremos que utilizar algum material bidimensional.

Penso em pequenos pontos de interrogação feitos em isopor ou papel cartaz colorido, talvez EVA, colados em palitos de churrasquinho, cravados no jardim da escola, na calçada em frente, na cancha de esportes... Penso em arte-xerox, reproduções de pontos de interrogação variadas coladas nos postes do bairro... Talvez, pontos de interrogação, recortados e colados nas calçadas, fazendo um caminho, nos moldes dos nossos andantes, espalhados pelo chão. Talvez adesivos colados nos banheiros, nas classes, nas cadeiras... (Ok. Vou ser chamada na direção da escola para explicar, a menos que seja feito na calada da noite... Impossível nossa escola possui câmeras de vigilância, coisas da vida moderna.) Não dá para ser um trabalho anônimo, como eu havia pensado a princípio. Teremos que nos adequar as limitações “legais”: nada de colar adesivos nas classes. Pensei também em aproveitar a idéia dos carimbos feitos para os números e carimbar pontos de interrogação na mão das pessoas. Podemos ainda colocar panfletos nos pára-brisas dos carros dos professores. Fazer alguns Pontos de Interrogação gigantes e colocá-los no saguão de entrada da escola. Todo esse processo de escolha dos materiais deverá necessariamente ser discutido com o grupo de alunos. A viabilidade de um ou outro material será decidida dessa forma. Essas decisões em conjunto fazem parte da aprendizagem. O como e porque utilizar esse ou aquele material deverá levar a discussões que vão desde questões ambientais (alguns matérias são altamente poluentes), questões estéticas (é um trabalho artístico, pensamos em desenvolver também o senso estético) até questões éticas (nossos limites para a intervenção).

Escolhidas as formas e os materiais partimos para a execução. Tempo curto, deveremos optar por apenas algumas das atividades. Farei a atividade apenas com uma das minhas turmas. A turma escolhida para a intervenção urbana é uma sétima série do ensino fundamental, com 39 alunos, composta basicamente por jovens de 12 a 14 anos, adolescentes, super criativos e bastante críticos também. O trabalho de campo deve ser coletivo. A turma escolhida para a realização do trabalho deve se organizar de forma a distribuir as tarefas para que todos possam participar de forma ativa e se sintam responsáveis por todo o processo. Porém penso que quanto menos pessoas envolvidas na execução do projeto mais pessoas poderão desfrutar do espanto, da surpresa, da apreciação estética, da emoção gerada pela intervenção.Nesse caso menos é mais.

O papel do professor é de propor a atividade, de estimular os alunos na elaboração da intervenção. Ele não deve interferir, mas ajudar. Trazer questionamentos que ajudem a construção da atividade pelos próprios alunos. A idéia é criar situações em que os alunos serão desafiados a recriar levando em consideração múltiplos aspectos: cognitivos, afetivos, éticos e estéticos.

A intenção deliberada é que as pessoas ao tomarem um choque-estético, que penso ser filosófico-poético-artístico, saiam do seu conformismo habitual, fiquem com uma “pulga atrás da orelha”, transformem-se, tornem-se mais críticas, pensem com mais profundidade, não aceitem coisas impostas sem uma dúvida razoável, passem a vi(ver) de uma forma diferente. Durante a realização da atividade não haverá explicações, nem discursos, muito menos “respostas”...Isso não faria o menor sentido dentro da proposta. Questionar é a proposta!
A atividade será avaliada durante todo o processo. Desde as discussões preliminares feitas em sala de aula, passando pela elaboração de um plano de ação para a intervenção, dos esboços criados, até a realização da atividade na rua. A questão central é o envolvimento dos alunos com a proposta. Podemos considerar duas avaliações: uma individual e uma coletiva. Para a coletiva podemos ao final da atividade realizar em um seminário para troca de informações sobre o que aconteceu, se as expectativas dos alunos foram alcançadas, se eles fariam algo diferente se tivessem oportunidade...A idéia é valorizar o processo vivido por cada indivíduo e pelo grupo e tentar reorganizar as etapas para que se assimilem conceitos e idéias que não ficaram claras durante a intervenção.

Penso que não fui eu quem escolheu a teoria, foi ela que me escolheu. A atividade, Intervenção na Paisagem Urbana, foi criada para a disciplina de Processos e Linguagens Tridimensionais, sem que eu pensasse explicitamente eu uma ou outra teoria. Creio que já está internalizada em mim essa maneira de pensar e fazer educação. Somente depois de a atividade pronta e realizada, dei-me conta da possibilidade de utilizar a atividade para a atividade de Psicologia. Penso que somos a soma de nossas escolhas e nossos estudos ao longo de muitos anos de vida. Essas escolhas nos constituem. Podemos e devemos (re) pensar o que estamos fazendo para o bem de nossos alunos. Refletir sobre esses processos e como essas escolhas, aparentemente inofensivas, podem ajudar ou prejudicar o desenvolvimento de nossos alunos. Difícil tarefa, porém necessária. Essa reflexão deverá levar em conta o aluno e o professor que temos hoje, suas necessidades frente ao mundo em que vivemos. Como bem falou Fernando Becker:

“O aluno de hoje - esta, parece-me, é sua marca – demanda informação de qualidade (ciência, ética, estética) e reivindica direito ao debate dessas informações. Ele demanda uma relação pedagógica ativa, por excelência. Um modelo pedagógico relacional é o único que conseguirá dar conta dessa demanda. Posto isso, toda informação de qualidade é bem vinda. Penso que o aluno de hoje postula uma renovação profunda da escola – talvez ele não saiba explicitar isso. O professor, com certeza, deve aprender a ler isso no comportamento do aluno. (...) O professor precisa compreender que a inteligência humana não é outra coisa que a síntese das ações e emoções humanas sintetizadas num sujeito individual, num determinado momento histórico – dos indivíduos em particular ou da humanidade como um todo”. ²

Creio que essa “escolha” deve-se ao fato de acreditar que a aprendizagem não tem fim nem começo, é constante e que o aluno é capaz de aprender sempre através da ação, da interação, da socialização dos saberes e dos conhecimentos velhos e novos, refletidos e ressignificados. Penso que o próprio tema da intervenção realizada já demonstra esse posicionamento crítico e reflexivo: “As perguntas são mais importantes que as respostas”. É isso que desejo do fundo de meu coração: alunos críticos, criativos, que pensem por suas próprias cabeças, que não sejam manipulados pela sociedade que vivem, não repitam o que todos dizem e fazem por modismo, e que busquem soluções para as questões no mundo em que vivem de forma coletiva.



Bibliografia consultada:

¹ BECKER, Fernando. Modelos Pedagógicos e Modelos Epistemológicos. Disponível em <> Acesso em 27/04/2010.

² BECKER, Fernando. Entrevista para a revista Psicopedagogia, disponível em http://www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrID=45
Acesso em 27/04/2010.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A Porta do Inferno

A porta do Inferno, Auguste Rodin, século XIX-XX, Museu Rodin, Paris,
Em Gesso 576 X 380 X 130 cm


Apesar de o forte do Impressionismo ser a pintura, escolho como representante desse período o escultor Auguste Rodin. Faço essa escolha, primeiro por não ser muito óbvia e repetitiva e segundo por uma questão de apreciação pessoal mesmo.

A escultura do final do século XIX tentou de maneira brilhante renovar sua linguagem baseando-se nos conceitos da fusão da luz e das sombras, na visibilidade a obra pelo maior número possível de ângulos e, na questão que julgo mais interessante da escultura, a obra inacabada. A temática das esculturas do período impressionista, tal qual na pintura, baseiam-se no cotidiano e, no caso do Rodin, na literatura clássica da época.

A obra que escolhi para ilustrar essa reflexão é “O Portal do Inferno”, obra inacabada em Gesso que o escultor Auguste Rodin começou a fazer como uma encomenda e que serviu de base para outras obras, como “O beijo”, o “Pensador” e “As Três Sombras”, obra que esteve em São Paulo para uma breve exposição ano passado.







Auguste Rodin executou esta monumental escultura de grupo, que em 1880 foi encomendado para o Museu de Artes Decorativas de Paris. O projeto seria entretanto cancelado e o escultor foi trabalhando com essa porta até a sua morte em 1917. Ela mede 6 metros de altura, 4 de largura e 1 de profundidade e contém 180 figuras. A iconografia é baseada na Divina Comédia de Dante e do poema de Baudelaire "As Flores do Mal". Rodin só fez uma versão em gesso e após a sua morte três cópias foram feitas em bronze que estão em diferentes museus. Um trabalho que é simplesmente impressionante.

Vídeo disponível em

http://mais.uol.com.br/view/wgqk25yv4e94/detalhes-de-os-portoes-do-inferno-de-rodin-gesso-04023172C4C173E6?types=A

Captura do vento





Ao assistir ao vídeo “Captura do vento” pensei em várias coisas, mas não pude evitar o pensamento em que cada gesto, cada “palavra”, cada ação está impregnada de múltiplos sentidos e que as escolhas que fazemos tem sempre uma intencionalidade, mesmo que não tão óbvias ou tão poéticas.

A publicidade faz isso há bastante tempo e com maestria. Utiliza-se das metáforas visuais ou sonoras para causar determinadas reações nos seus “públicos” alvo. Nós, professores, fazemos isso constantemente. No nosso trabalho, seja com jovens ou adolescentes, tentamos “vender” uma idéia, com palavras, gestos, olhares e imagens. A própria forma com que nos vestimos transmite uma idéia do que somos ou do que queremos que os outros pensem de nós. Um outro exemplo pode ser a maneira como organizamos nossos blogs, as cores escolhidas, as imagens selecionadas, tudo mostra quem somos e em que acreditamos. Mostra nossa identidade, nossa singularidade. Embora em alguns momentos possa parecer, nunca estamos sozinhos, sempre estamos nessa relação com o outro, nosso interlocutor. Lidamos o tempo todo com a relação entre o novo e o velho, o conhecido e o desconhecido, com algo que se sabe, algo que se desconhece, algo que se passa a conhecer. Vamos incorporando essas coisas a nossa vida e a vida daqueles que nos cercam, num eterno aprendizado.

O vídeo está repleto dessas imagens e as utiliza de forma belíssima. Os amplos planos com cenários de montanhas nevadas, riachos, animais soltos no campos, caminhos singelos de pedras nos remetem a um lugar bucólico, quase de sonho, longe das metrópoles poluídas em que não se pode mais “respirar” nem viver mais. A questão da energia limpa, ou renovável como é chamada, é abordada como uma solução, um “presente” que veio para dar mais “fôlego” a um planeta que precisa tanto de soluções ecologicamente sustentáveis e que substituíam as tradicionais formas de produção de energia. A resposta, como diria Bob Dylan (o estilo country e o tema da música fez lembrar dele), está sendo soprada pelo vento. A resposta vem das mãos de uma criança, metáfora do novo, da juventude, de renovação e é dada ao “avô” centenário. O “novo” e o “velho” em relação de encontro, de troca, de aprendizado, de mudança...

Cito um pequeno trecho de autoria do Juremir Machado da Silva, do livro “Aprender a (vi)ver” que tem uma relação direta com o que estamos (vi)vendo: “Quantas vezes deixamos de ir à janela, por indiferença, fitar a lua cheia sangrando acima dos arranha-céus? Quantos crepúsculos perdemos por falta de coragem de fechar o livro, desligar a televisão, interromper o trabalho ou apenas de espiar pelos olhos franzidos das nossas janelas? Quantas vezes perdemos o amanhecer, com seus cheiros, matizes e cores, por incapacidade de crer que é único na sua repetição? Quantas vezes deixamos de admirar a beleza singular do nosso pequeno universo particular por falta de visão de mundo?”

Penso que o vídeo “Captura do Vento” traz a tona essa possibilidade: de ver as coisas em sua essência, a sua “alma”. Apreciar as surpresas da vida, sejam elas boas ou ruins, simplesmente apreciar, viver, sentir...Aprender a (vi)ver. Disse em outra oportunidade que aprendemos mais com nossos erros do que com nossos acertos. Acho que esse caminho é uma possibilidade, experimentar as coisas sem medo, ou pelo menos com um medo saudável, testar sempre que possível, inovar, acreditar na renovação, na mudança... Creio que isso é uma das coisas que estamos aprendendo nesse curso de Artes Visuais: a quebrar paradigmas, a questionar as “verdades” absolutas... Como disse o Iberê Camargo “(...) Renovação é condição de vida (...)”. Isso é muito bom. Todos ganham.


Namastê, Sônia Maris

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Caminante... caminos sobre el mar...



Caminante

Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.

Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse…

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar…

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
“Caminante no hay camino,
se hace camino al andar…”

Golpe a golpe, verso a verso…

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
“Caminante no hay camino,
se hace camino al andar…”

Golpe a golpe, verso a verso…

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
“Caminante no hay camino,
se hace camino al andar…”

Golpe a golpe, verso a verso.

Poema de Antônio Machado

sábado, 17 de abril de 2010

Caderno de Registros...

processo de elaboração do andante

Paisagens Urbanas
processo de elaboração da intervenção coletiva
muitas ideias descartadas...
deixadas hibernando...quem sabe para uma próxima?







Andante_em processo

Andante-primeira etapa:
Criação da matriz em EVA a partir de releituras das obras
"Guernica" e "Dove of Peace" de Pablo Picasso
e das séries "Ciclistas" e "Carreteis" de Iberê Camargo.
Andante_segunda etapa:
Decalcar as matrizes em argila no formato de chinelos e sair por ai...
Ponto de partida: calçada em frente da minha casa.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Andante_inspiração 2_Iberê Camargo

Ciclista 3 - Iberê Camargo

“- Sou um andante. Carrego comigo o fardo do meu passado. Minha bagagem são os meus sonhos. Como meus ciclistas, cruzo desertos e busco horizontes que recuam e se apagam nas brumas da incerteza”.

Iberê Camargo

Andante_inspiração 1_Pablo Picasso

Guernica - Pablo Picasso


"Não, a pintura não está feita para decorar os cômodos.
É um instrumento de guerra ofensivo e defensivo contra o inimigo."
Pablo Picasso sobre Guernica

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Digitais Urbanas



Oi, pessoal!

A proposta de trabalho de andar pela cidade e coletar "impressões" da mesma foi bem interessante. A começar que não estamos habituados a olhar os detalhes do que nos cerca. Passamos correndo em nossos automóveis com os vidros fechados, apavorados com a possibilidade de que o mundo entre em nossas vidas. A violência nos deixa cada vez mais paranóicos. Vemos isso na imensa maioria das casas de nossas cidades: grades, portões, cercas eletrificadas, alarmes, segurança privada, cães ferozes... Isso e o lixo... Estamos sendo soterrados em "segurança" e lixo.
Olhamos mas não vemos... Isso é ao mesmo tempo curioso e assustador.
Meu endereço do álbum das Digitais Urbanas é
Meu endereço do Mapa das Digitais Urbanas é
Agradeço as visitas, Sônia Maris

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Exposição dos Prensautos



Fico me perguntando se um dia terei coragem de expor meu prensauto...
Supondo que eu tivesse, imagino que deveria ser algo assim: um espaço que lembre uma floresta (se é que existirá alguma ainda), algo escuro, luzes apenas nos prensautos, trilha sonora que simule os sons de pássaros, os cheiros de terra molhada, as folhas caídas no chão (influência do outono: os plátanos estão ficando lindos), os diversos pedaços de troncos cortados... um contraste entre o que os sentidos nos remetem e o que vemos... e as "pegadas", os prensautos... uma representação dessa caminhada do ser humano que ao mesmo tempo que "evoluí" vai destruindo tudo pelo caminho. Ecológico até as raízes...
Pode ficar interessante... Pode levar a uma reflexão...Quem sabe?
Isso nem é uma exposição, é quase uma instalação.

Digitais Urbanas (guia de altelier)

http://picasaweb.google.com.br/carustocamargo/GUIADEATELIEDADIGITALURBANA?authkey=Gv1sRgCOuO6Ka0_Zn2ugE#slideshow/5441406962221165010


O link acima traz instruções de como fazer as Digitais Urbanas.

domingo, 4 de abril de 2010

Olaria


Olá, pessoal!
Estamos pesquisando Olarias para as queimas dos nossas Digitais Urbanas.
Encontrei uma bem bacana em Osório, próximo aos "cataventos"... no bairro Laranjeiras.
Estou em tratativas com o proprietário... Aguardem.

A professora Rosely, da Barra do Ribeiro, também ofereceu ajuda.
O pai possui uma Olaria na cidade. Adoro a Barra do Ribeiro e ela ainda disse que nos aguardaria com um chimarrão ... Acho que vou para a Barra...

Por enquanto deixo a foto da Olaria de Osório, o "guarda" é maravilhoso...Espero que apreciem.

Construtivismo


“Entendemos que construtivismo na Educação poderá ser a forma teórica ampla que reúna as várias tendências atuais do pensamento educacional. Tendências que têm em comum a insatisfação com um sistema educacional que teima (ideologia) em continuar essa forma particular de transmissão que é a Escola, que consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto, em vez de fazer agir, operar, criar, construir a partir da realidade vivida por alunos e professores, isto é, pela sociedade - a próxima e, aos poucos, as distantes. A Educação deve ser um processo de construção de conhecimento ao qual acorrem, em condição de complementaridade, por um lado, os alunos e professores e, por outro, os problemas sociais atuais e o conhecimento já construído ("acervo cultural da Humanidade").” Fernando Becker

Penso que devemos sim sonhar com uma escola construtivista, em que alunos e professores possam sonhar e criar seus conhecimentos, partilhando suas descobertas e ressignificando suas ações. Porém, penso também que esse processo não se dará de forma tranqüila, sem conflitos. Há muitos interesses em jogo. A sociedade espera determinadas “coisas” da escola, principalmente da escola pública. E a cada governo que se estabelece, as prioridades mudam.

Vivemos hoje um paradoxo incrível: de um lado um plano nacional para a educação com ênfase na qualidade sem perder de vista a questão social e cidadã e, de outro, um plano estadual que quer transformar a educação no estado em um sistema “meritocrático”. Enquanto isso, os alunos e professores, ostras jogadas do mar para as pedras são estraçalhados. Jogo de interesses. Políticas educacionais. Chamem do que quiserem. O fato é que quem mais perde nessa disputa de vaidades são os estudantes que a cada ano ficam mais perdidos

Penso que enquanto o sistema educacional funcionar da forma como funciona hoje, continuaremos com um discurso progressista, construtivista e revolucionário e uma prática autoritária, reprodutivista e conservadora. Esse é, infelizmente, modelo educacional que vemos nas escolas hoje. Salas superlotadas (tenho turmas com 50 alunos), professores estressados e desvalorizados, direções burocráticas e antidemocráticas, alunos desinteressados e desestimulados.

Quem sabe esse não será o ambiente propício para a geração de uma nova forma de pensar e agir na sociedade e na educação? Quem sabe não será esse o mote para desencadear uma mudança generalizada? Quem sabe as pessoas vão passar a ver a educação com outros olhos a partir desses acontecimentos? Quem sabe essa não será a grande transformação pela qual aguardamos faz tanto tempo? Penso que seja possível...Penso que devemos sonhar...Penso que devemos lutar pelo que acreditamos. Somos professores.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Depoimento Reflexivo sobre o Prensauto

DR_PRENSAUTO

OBJETIVOS
Antes de começar a realizar meu Prensauto, não imaginava onde poderia parar. Nem sequer sabia o que era um Prensauto. Pensava nos objetos autobiográficos, objetos significativos para mim, mas não em como utilizá-los. Tanto que ao longo do processo precisei trocar os objetos. Uma coisa é pensar uma obra, outra bem diferente é realizá-la e contextualizá-la a partir de nosso cotidiano. O percurso que traçamos para a nossa criação pode fugir ao nosso controle durante o processo. Penso nas criações literárias, onde o escritor muitas vezes diz que os personagens ganham vida própria e ditam o seu próprio destino e que o autor passa a ser um mero coadjuvante da sua própria escrita tornando-se refém de sua obra. Creio que com o Prensauto aconteceu algo semelhante, a própria forma, com seu espaço limitado, foi definindo o que era possível ser inserido. Creio que como os “Sapatinhos Vermelhos”, da Paula Mastroberti, meu Prensauto ganhou vida e saiu por ai, dançando sem parar.

EXPOSIÇÃO

Gostaria de expor meu Prensauto sobre um cepo de madeira que obtive em uma serraria (espaço em que beneficiam árvores; transformam árvores, geralmente eucaliptos retirados do mato, em tábuas para os mais diversos fins: casas, móveis, lenha, etc...) Penso em nossa caminhada, como seres humanos... Isso leva-me a pensar que estamos destruindo, depredando a natureza sem pensar nas consequências para toda a humanidade...Uma coisa é obter algum conforto mínimo, outra é derrubar florestas inteiras para fazer papel... Ou para criar gado, ou plantar soja transgênica... São muitos os caminhos possíveis para fazer a leitura do meu suporte do Prensauto... Ainda estou pensando nas possibilidades...

OS ALUNOS
Imagino que os prensautos realizados pelos alunos... Caso fossem feitos a partir de seus pés poderiam também representar suas caminhadas... Seus diferentes percursos para chegar até o dia de hoje...Embora acredite que eles tenham “caminhado” pouco, devido a pouca idade. O universo deles ainda está se expandindo.
Penso também que talvez pudéssemos fazer outras configurações, talvez mãos, que remeteriam ao fazer artístico, processo que envolve a “mão” como principal ferramenta do fazer artístico...
Ou quem sabe as placas de argila, como os alunos do IA fizeram. A placas por terem um espaço mais amplo para a inserção de objetos autobiográficos que possibilitariam várias configurações, mesmo que não fossem queimadas em fornos... Penso que as placas, por serem de argila, trariam um maior envolvimento do aluno com a matéria prima do processo cerâmico. Além disso, a argila é maleável, podemos entrar em contato direto com ela durante o processo...Fazer e refazer várias vezes o Prensauto, modificando durante o processo, dialogando com a matéria prima. O gesso pareceu-me um material frio, distante, passando do líquido para o sólido sem entrar em contato conosco. Pouco atraente do ponto de vista da criação.

PERCEPÇÃO DO OUTRO
A percepção do outro vai depender principalmente de dois fatores:

a) que significados cada um desses elementos (pé + cepo) trará para ele?
b) quais as referências de mundo que esse outro traz para fazer a leitura desses objetos?
Ou seja, a leitura do mundo do observador vai direcionar sua leitura do Prensauto... Posso até dar algumas pistas para o observador, colocar uma música, criar uma ambientação olfativa, uma iluminação, talvez algum elemento adicional como umas fotos do processo talvez, que "direcione" o olhar.... mas creio que ficará mais interessante se deixar que o observador faça sua própria leitura e tire suas próprias conclusões...Ou melhor, que ele não chegue a nenhuma conclusão...mas sim, que ele fique cheio de questionamentos...Isso seria o ideal... Quem sabe?



PA_prensauto



Escolhi essas duas colagens para ilustrar minha Produção Artística do Prensauto por considerar que o processo de criação foi tão significativo quanto o resultado final. Não consegui separar uma etapa da outra. Sei que na maioria das vezes a obra é o mais importante, que a fruição da obra é o que interessa, mas, nesse caso, creio que o processo foi até mais significativo do que o resultado final. Deve ser influência das leituras de Piaget e do Construtivismo. Deve ser reflexo desse entendimento que sujeito e objeto se constituem e se constróem mutuamente, constantemente, coletivamente, em interação com o outro e com o mundo em que vivemos.