Caixa de Pandora

terça-feira, 26 de abril de 2011

Intervalo!!!????


Pausa reflexiva

Ao ler as orientações da tarefa do Seminário Integrador 5 desta semana, uma parte muito pequena do texto me tirou do sério: “(...)talvez esta seja a etapa mais densa do semestre, com muitas disciplinas em sobreposição, mas utilizem os intervalos entre uma e outra para parar, respirar e, simplesmente, olhar o que já fizeram(...). Tive o que uma colega querida de Santo Antônio chama de síncope. Perdi completamente a razão e comecei a chorar. Intervalo!!!??? Quem tem um intervalo nesse curso? Quem está conseguindo levar uma vida normal, fora do ambiente acadêmico. Falamos em arte, lemos arte, pensamos arte, sonhamos arte, ou temos pesadelos vinte quatro horas por dia. E, mesmo assim, não damos conta. Estamos cansadas, estressadas, chatas... Não gostamos mais de nós mesmas. Nossos amigos, colegas de trabalho e familiares estão em segundo plano. Não temos mais tempo para nada. Nem meu chimarrão tenho vontade de tomar. Isso é sério. Antes, arte era um prazer, agora, é obrigação. Penso que a medicação matou o paciente. Metaforicamente, é claro. Continuamos vivas, ou quase. Zumbis da REGESD vagando na noite em meio a livros, sites e ambientes de aprendizagem.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Uma foto por dia

15/04 Seminário e palestra com Ana Mae Machado
16/04 Seminário e palestra com nosso quarteto fantástico de tutoras da Regesd:
Adriana Daccache, Jaqueline Maissiat, Lisiane Rabelo e Luciana Campana Tomasini



A ideia foi da colega e amiga Leila...no dia do seminário... Depois de algumas considerações e da óbvia fascinação que a fotografia provoca, eis que topei o desafio: fofografar todos os dias... e postar em algum lugar...
Antes de mais nada... tentar não banalizar a fotografia, mas sim, pensar e ver de outra maneira... um registro de algo que marcou... um pensamento que só poderia ser expresso em imagem...
sei lá... vamos pensando...construindo...ver onde vai dar.
Para armazenar as imagens com alguma ordem... sou "linear", às vezes, confesso! usarei meu blog pessoal e uma marcador UMA FOTO POR DIA.
Acessem e descubram comigo o que vemos...ou deixamos de ver...
Abraços, Sônia Maris


P.S. Essas fotos não ficaram com qualidade por terem sido tiradas de um celular... vale pelo registro histórico!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A complicada arte de ver

Ilustração Airton Barreto

Rubem Alves

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.


William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".

Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...


O texto acima foi extraído da seção "Sinapse", jornal "Folha de S.Paulo", versão on line, publicado em 26/10/2004.

Texto disponível em Releituras


domingo, 17 de abril de 2011

Arte Postal - uma situação de aprendizagem

Rastros (Pintura aeropostale num. 13 by Eugenio Dittborn

Latin American Collection of the Jack S. Blanton Museum of Art



Eugenio Dittborn - The 6th History of The Human Face (Black and red camino) Airmail Painting No. 70,

serigrafia fotográfica sobre 10 fragmentos de tecido-não-tecido, 210 x 1440 cm, 1989

Arte Postal – uma situação de aprendizagem

A proposta de situação de aprendizagem que trago é fruto de uma reflexão sobre linguagens, comunicação e arte contemporânea. Penso em propor um diálogo entre diferentes áreas tendo como foco principal a ARTE POSTAL.

Para tanto trago algumas imagens dos Aeropostais do artista contemporâneo, chileno, Eugênio Dittborn, que será o artista homenageado da 8ª Bienal do Mercosul, que acontecerá de 9 de setembro a 15 de novembro, em Porto Alegre.

O artista apresentado aos alunos, uma turma de 3º ano do ensino médio, poderia servir de ponto de partida para uma pesquisa sobre arte portal, sobre os formatos, os temas, as técnicas utilizadas pelo artista (desenho, colagem, costura, pintura...), sobre as fronteiras geográficas e políticas que são ultrapassadas quando se produz e se envia um postal.

A apresentação de um vídeo Arte Postal: um modo diferente de tratar a Arte, serviria como introdução ao tema e discussão sobre a viabilidade desse formato nos dias atuais, com tantas ferramentas à disposição da comunicação humana. Paralelos entre o ontem, hoje, amanhã podem ser traçados, possibilitando uma contextualização da arte, da história, da política...

Penso que além de conhecer a Arte Postal, pesquisar sobre a mesma e sobre o artista Dittborn e outros que trabalhem com o mesmo formato, refletir sobre os conceitos estéticos, políticos e culturais envolvidos na produção da Arte Postal os alunos poderiam eles próprios pensar em como se apropriar dessa arte e colocar em prática esses conhecimentos.

Sugeriria a produção de postais, preferencialmente, a partir de algum tema de interesse dos próprios alunos: tecnologia, música, relacionamentos, mudanças, trabalho, participação social, moda... Algum tema que eles pudessem se envolver e que fosse significativo para eles, possibilitando algum crescimento, seja pessoal, profissional, cultural, educativo...

Produzir uma exposição dos trabalhos para toda a escola também seria uma forma de aprendizagem e socialização do que foi feito pelos alunos. A maioria dos alunos tem muito prazer em mostrar seus trabalhos e sente-se valorizado quando essas exposições acontecem. Não de forma impositiva, mas como um convite ao compartilhar, ao refletir sobre o que foi produzido em uma discussão ampliada, fora das quatro paredes da sala de aula, de forma mais abrangente, em contato com o outro, o espectador, num exercício que é também reflexivo.

Imagino que dependendo da época da realização do trabalho pudéssemos fazer uma visitação à 8ª Bienal do Mercosul para ver e conhecer os trabalhos de Eugênio Dittborn e até ampliar a reflexão sobre nosso trabalho de sala de aula, com novas leituras, novos olhares, novas possibilidades de fazer arte.

Sobre os aeropostais de dittborn http://www.revistapuntodefuga.com/?p=275

Sobre a arte postal http://revista.escaner.cl/node/19

Sobre a arte postal http://revista.escaner.cl/node/19 Acesso em 17/04/2011

HERNANDEZ, F. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. Disponível em

http://moodle.regesd.tche.br/file.php/276/hernandez_fernando_cap5.pdf Acesso em 17/04/2011

http://moodle.regesd.tche.br/file.php/276/pillar_cap2.pdf Acesso em 17/04/2011

http://moodle.regesd.tche.br/mod/resource/view.php?id=13934 Acesso em 17/04/2011

http://moodle.regesd.tche.br/file.php/276/frange.pdf Acesso em 17/04/2011