Caixa de Pandora

domingo, 15 de julho de 2012

pré-projeto (artigo): Projeto Ler é Arte: as diferentes linguagens da arte


PROJETO LER É ARTE: AS DIFERENTES LINGUAGENS DA ARTE



Sônia Maris Rittmann[1]


Resumo: Esse artigo é uma reflexão sobre as diferentes linguagens da Arte presentes nos 10 anos do Projeto Ler é Arte. Pretende-se aqui enfatizar o processo de ensino e da aprendizagem em artes visuais baseado na experiência concreta do pensar-fazer-contextualizar arte em sintonia com as vivências e poéticas pessoais dos alunos e professores. 
Palavras-chave: arte, educação, ensino e aprendizagem, linguagens, leitura

INTRODUÇÃO

“Toda linguagem artística é um modo singular de o homem refletir – reflexão/reflexo – seu estar no mundo”.
(Miriam Celeste Martins)


O presente pré-projeto pretende se debruçar sobre as diferentes linguagens da arte, desenvolvidas a partir do Projeto Ler é Arte, realizado há 10 anos na EEEB Profº Gentil Viegas Cardoso, em Alvorada-RS.




Figura 1 – Desenho à lápis de cor
Fonte: aluno Gabriel, 2011

DESENVOLVIMENTO

Quando falamos em linguagens, devemos lembrar que o homem é um ser simbólico, e como tal, capaz de criar símbolos, que têm a função de ordenar e interpretar o mundo em que vive. Usamos a linguagem, verbal e não-verbal, para nos expressar e re-ordenar o mundo a nossa volta. Dito de outra forma é através da linguagem que interagimos com o outro e com o mundo. Nas palavras de Miriam Celeste Martins:

 (...)nossa penetração na realidade, portanto, é sempre mediada por linguagens, por sistemas simbólicos. O mundo, por sua vez, tem o significado que construímos para ele. Uma construção que se realiza pela representação de objetos, ideias e conceitos que, por meio dos diferentes sistemas simbólicos, diferentes linguagens, a nossa consciência produz.¹

            Pensar a arte-educação, a partir da experiência concreta do Projeto Ler é Arte², pretende ser um debruçar-se com um olhar aprofundado sobre o ensino-aprendizagem em artes visuais, mais especificamente, seguindo a proposta triangular de Ana Mae Barbosa³, sobre a criação, percepção e conhecimento histórico e cultural das artes visuais; sobre as relações estabelecidas entre as diferentes linguagens – teatro, dança, fotografia, escultura, desenho, poesia, instalações, videoarte, cinema, etc. - desenvolvidas pelos alunos durante o Projeto.

            A arte é criação das linguagens – visual, musical, cinema, dança, poesia – que se articulam, se conectam e dão corpo ao que o homem pretende dizer. Lembremos que o homem se utiliza das linguagens desde os remotos tempos das cavernas, manifestando seus desejos, sonhos, ideias, medos... Hoje, os grafites nas paredes e muros espalhadas pelo mundo comprovam que esse desejo de expressar-se plasticamente não morreu. O ser humano, por ser um ser da linguagem, deixa sua marca, seus signos, seus símbolos em todas as partes.

O pré-projeto de pesquisa, embasado no Projeto Ler é Arte, parte do pressuposto que toda aprendizagem deva tentar estabelecer um processo de inferências entre os conhecimentos que se possui e os novos conhecimentos a serem construídos. Para tanto, apresentar as obras de arte contextualizadas, como produto cultural e histórico, situadas em tempos e locais diferentes, com formas e conteúdos distintos, possibilitará uma maior compreensão das diferentes linguagens e códigos utilizados pelos artistas. Apreendendo esses códigos, os alunos serão capazes de criar seus próprios trabalhos, relacionando-os ao seu mundo, as suas concepções de vida, expressando-se através das diferentes linguagens com as quais tiveram contato, seja através das pranchas de imagens, dos mapas conceituais construídos, dos objetos de aprendizagem, das diversas leituras e atividades propostas no “atelier de artes”. Materiais que foram pensados e criados ao longo do curso de Artes Visuais e que são constantemente re-significados na prática pedagógica e na relação estabelecida com o Projeto Ler é Arte.

CONCLUSÃO

            Re-pensar a função da arte na educação, na escola ou fora dela, parece ser essencial para o entendimento do pré-projeto. A experiência estética-criativa proporcionada pelo Projeto Ler é Arte; o desenvolvimento das diferentes linguagens, a leitura de imagens (ROSSI), a interpretação do mundo contemporâneo a partir das relações entre arte e educação; a possibilidade de ensinar-aprender arte através da experiência em arte, como um ser humano que produz, pensa e contextualiza arte são os requisitos indispensáveis para a realização e aprofundamento dessa pesquisa em arte. Nesse ir e vir do pensamento, da criação, da pesquisa, da escuta do outro, e, por que não, do prazer em fazer arte, aprender em conjunto, duvidando de nossas certezas, tentando entender esse mundo em que vivemos, muitas vezes tão caótico e incompreensível, como uma possibilidade de transgressão (HERNANDÈZ), de mudança de paradigmas, de “desautomatização”, de “desrotinização” de nossas práticas escolares, de ver as coisas com outros olhos, ou pelo menos, a partir de outros pontos de vista, de forma mais poética.

REFERÊNCIAS

³BARBOSA, Ana Mae. (org.) Inquietações e mudanças no ensino de arte. São Paulo: Cortez, 2002.
HERNANDEZ, Fernando. Cultura Visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000.
_____________. Transgressão e mudança na educação. Porto Alegre: Artmed, 1998.

¹MARTINS, Miriam Celeste. Teoria e prática do ensino de arte: a língua do mundo. São Paulo: FTD. 2009.
____________. Aprendiz da arte: trilhas do sensível olhar-pensante. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1992.
ROSSI, Maria Helena Wagner. Imagens que falam: leitura da arte na escola. Porto Alegre: Editora Mediação, 2003.
²PROJETO LER É ARTE. Disponível em http://projetolerearte.blogspot.com.br/ . Acesso em 15/07/2012
RITTMANN, Sônia Maris. Objetos de Aprendizagem, Mapas Conceituais, Pranchas de Imagens. Plurissignificação. Disponível em  http://plurissignificacao.blogspot.com.br/
Acesso em 15³07/2012.


[1] Professora de Língua, Literatura e Artes. EEEB Profº Gentil Viegas Cardoso. Alvorada-RS.

terça-feira, 10 de julho de 2012

leituras do mundo...


"Existem dois tipos de livros, os que se lê e os que se lê sublinhando. Na adolescência, eu certamente teria sublinhado essa frase. Fui uma sublinhadora voraz e nem sempre imune aos clichês. Certos trechos que pareciam encerrar toda a sabedoria do mundo e a chave para decifrar o sentido da vida conquistavam a glória suprema de ganhar um espaço na parede do quarto - copiados com caligrafia caprichada e fixados com durex enroladinha. Quando, em fim, a cola sumia e o cartazinho desabava junto com a pintura, já a tal frase havia ficado invisível no mosaico de fotografias, cartazes e recortes de revistas que então cumpriam a função de anunciar ao mundo - se por acaso o mundo um dia espiasse pela porta do meu quarto - quem morava ali e com o que sonhava quando estava acordada."
Claudia Laitano
Zero Hora, 1/10/03

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Estágio: Arte Contemporânea (turma 1103)










O essencial é saber ver
Alberto Caeiro*

“O que nós vemos das cousas são cousas.
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem quando se pensa.

Mais isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender (...)”

 

*Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIV"
Heterônimo de Fernando Pessoa


Gostaria de agradecer a todos os alunos da turma 1103, 
da EEE Profº gentil Viegas Cardoso, 
sem os quais essa aventura não seria possível.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Arte Contemporânea: novas linguagens - reflexões



Arte Contemporânea: novas linguagens

Sônia Maris Rittmann

“Desconfia daqueles que te ensinam
Lista de nomes, fórmulas e datas e que
Sempre repetem modelos de cultura
Que são a triste herança que aborrece.

NÃO APRENDE APENAS COISAS
Pense nelas
E constrói sob teu desejo
E imagens que rompam a barreira que asseguram
Existir entre a realidade e a utopia:

Vive num mundo côncavo e oco,
Imagine como seria uma selva queimada,
Detém o movimento das ondas nas arrebentações,
Tinge o mar de vermelho,
Segue algumas paralelas até que te devolvam
Ao ponto de partida,
Coloque o horizonte na vertical,
Faz uivar um deserto,
Familiariza-te com a loucura.”

 José Agustín Goytisolo

Trabalhar com educação é estar sempre se reinventando e aprendendo coisas novas. Com a prática de estágio II não foi diferente. Nossa experiência anterior é extremamente válida na hora de planejar e organizar as seqüências didáticas, mas de pouco valem se na hora de por em prática não conseguimos perceber se as escolhas feitas estão funcionando para aquela turma em especial.

Trabalhar com artes visuais, muito especificamente, arte contemporânea foi uma experiência bastante especial. Primeiramente, pelo fato de que esse é um conteúdo que a professora de artes da escola dificilmente conseguia trabalhar, tanto por questões de currículo, como por questões de falta de entendimento de sua importância. Segundo, por que os alunos, nessa faixa etária - imersos em no mundo contemporâneo, sentindo-se muitas vezes incomunicáveis, em que a velocidade e o individualismo é quem manda, onde o mundo a sua volta causa estranhamento e espanto - estão mais do que prontos para enfrentar esse desafio.

Provocar os alunos a pensar e produzir arte como forma de desenvolver a sensibilidade e a expressão artística, fazendo com que eles pudessem experimentar os diferentes processos de criação no qual a ideia, a ação e o projeto é muito mais significativo do que o resultado final; levá-los a perceber que qualquer material pode servir para criar arte, que não precisamos de materiais caros e inacessíveis para expressarmos nossa criatividade; perceber como a arte pode estar conectada com a vida cotidiana de forma mais presente do que imaginamos.

A experiência proporcionada de leitura de imagens, pesquisa, apreciação, relacionando as obras com a vida cotidiana a partir das novas linguagens da arte contemporânea, do trabalhar coletivamente para um mesmo fim, das produções textuais que tinham por fim levá-los a pensar sobre a arte contemporânea possibilitou que os alunos se expressassem de forma mais livre e pudessem ver com outros olhos a arte contemporânea, tantas vezes incompreendida por falta de proximidade e desconhecimento de seus signos.  Muito mais do que adquirir informação, os alunos tiveram uma experiência ímpar para desenvolver sua percepção, observação, imaginação e sensibilidade para a arte contemporânea, através de exercícios de fruição, pesquisa e prática de forma contextualizada.

Arte Contemporânea: novas linguagens - seleção de imagens