
Minha aprendizagem começou muito cedo... Fui alfabetizada antes de entrar na escola pela minha mãe, em um tempo em que as mães ficavam em casa tomando conta dos filhos e os maridos saiam para o trabalho fora. Minha lembrança mais remota dessa fase fica por conta de minha mãe lendo histórias para dormirmos... Foi uma época de descobertas e aprendizados prazerosos, sem cobranças, só estímulos e isso foi muito rico para despertar em mim o gosto pela leitura e pelo desenho.
Meu pai era militar e gostava muito de ler. Sempre tivemos livros em casa. Meu pai tinha um tipo de escritório com estantes cheias de livros... Aquilo era um espaço de magia e curiosidade. Lembro de que antes de aprender a ler, já olhava para o livro com encantamento. As figuras despertavam a imaginação... Inventava histórias para meus irmãos a partir dessas imagens. Desenhávamos em um quadro negro que tínhamos numa casinha de boneca... Era um espaço de criação, uma sala de fazer arte(s)... Meus irmãos e vizinhos foram meus primeiros alunos.
Quando entrei para a escola, aprendi a ler oficialmente. Os livros eram outros, as cartilhas eram muito chatas (Ivo ainda via a uva! hihihihhi). A educação nesse período era super tradicional, sem espaço para inovações. Gostava de fugir para a biblioteca da escola e ler outras coisas...Nessa época havia livros proibidos...Lembro de ter que levar uma autorização por escrito de minha mãe para que eu pudesse ler Jorge Amado e Ernest Hemmingway...Credo! Quanto mais proibiam mais curiosa e interessada eu ficava...
Creio que usava a escola para meus voos independentes...por espaços diferentes.
Fazia teatro, canto, música... participava do grêmios estudantis e grupo ecológico de ciências (na época estavam começando a falar em meio ambiente), até de um grupo de handbool participei. Passava mais tempo fora do que dentro da sala de aula... Não espalhem isso!
Acho que não perdi muita coisa em sala de aula... Aprendia só o que me interessava. O restante eu passava os olhos por obrigação e depois jogava fora...
O modelo educacional era extremamente diretivo, de acordo com o modelo epistemológico Empirista... sem muito espaço para a criação em sala de aula.
Em compensação, o espaço de aprendizagens fora da sala de aula era muito rico e significativo e foi nesse espaço que vivi a maior parte de meu tempo. E isso foi muito bom. Penso hoje, que sem saber estava já diante de um aprendizado significativo, em que o conhecimento era construido em relação com o mundo concreto em que eu estava inserida, de acordo com o que eu vivia e sentia necessidade, de forma Relacional, baseado numa epistemologia Construtivista, como diz Fernado Becker.
Penso que é mais ou menos isso que acontece com nossos alunos hoje. Se a aula não interessa, eles dão um jeito de aprender as coisas que interessam por outros canais: internet, televisão, cinema, teatro ... Geralmente fora do espaço escolar. Eles não ficam esperando as coisas virem até eles. Eles buscam os aprendizados significativos e ignoram as coisas que não o são. Certo eles. Não acham?
Nenhum comentário:
Postar um comentário