Caixa de Pandora

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O professor pesquisador e reflexivo


“A verdadeira semente da violência é a pobreza e a intolerância.
Do que mais precisamos é de bom senso e de sentido de responsabilidade”.
Antônio Nóvoa

Vivemos uma época de grandes desafios: ao mesmo tempo em que nós, professores, temos que dominar toda uma gama de conceitos e saberes tradicionais, nós ainda temos que dominar, competentemente, as novas tecnologias de informação. Devemos conhecer nossa profissão profundamente, compreender como ocorre a apropriação do conhecimento, reorganizar, reelaborar esse conhecimento e torná-lo significativo para nosso aluno.

Outro desafio bastante grande é que vivemos em uma sociedade que não sabe muito bem o que deseja da escola. Ao mesmo tempo em que cria seus filhos de maneira bastante livre, exige que a escola “molde-os” numa cultura de obediência. Nas palavras de Nóvoa, citando Ortega y Gasset, “as escolas valem o que vale a sociedade”. E essa sociedade precisa respeitar e valorizar o professor e entender que a escola é apenas mais um entre os diversos espaços de aprendizado da contemporaneidade. E que é essencial ao exercício docente que ele tenha condições mínimas de desenvolver seu trabalho com calma e tranquilidade, em condições dignas de trabalho.

O contexto sócio-econômico-cultural é de mudanças profundas na sociedade: da globalização, da informatização, das comunidades em rede, dos ambientes virtuais de aprendizagem, da velocidade com que tudo nos chega às mãos ao contraste com algumas regiões sem água e esgoto, sem moradias decentes, com a violência e a fome batendo à porta de nossos alunos. É nesse ambiente que precisamos atuar como professores e conhecedores das pequenas glórias e grandes misérias de cada um de nossos alunos e mesmo assim acreditando em um mundo melhor. Não se trata de uma reclamação estéril, mas de uma construção de um pensamento crítico-reflexivo que possibilite melhor formação e informação que leve a um exercício mais consciente e menos ingênuo.

É a partir de nossa realidade que precisamos agir. Não dá para agir sem conhecer, sem pesquisar, sem traçar metas educativas claras para que cada aluno aprenda mais e melhor. Esse é um fazer coletivo, que só se dá na construção de espaços de troca de experiências e saberes, dentro do ambiente de trabalho, é na escola que cada professor reflete sobre sua prática e compartilha com seus pares, numa interação contínua. A partir dessas reflexões coletivas pensamos a educação, a escola, a comunidade escolar aprendente; em conjunto, dentro de um sistema integrado que interage e em que todos aprendem, sempre.


Reflexão produzida com base na entrevista de Antonio Nóvoa em 13 de setembro de 2001
http://www.tvebrasil.com.br/salto/entrevistas/antonio_novoa.htm

domingo, 30 de agosto de 2009

Colagem de fotos do Ensaio Fotográfico



A cada dia que aprendemos uma nova coisa, queremos experimentar. Fazer mais e melhor.


A Cianotipia já é uma realidade. Amamos as fotos azuis... Queremos fazer mais... muitas.

"Ontem" eu tinha preconceito com as fotografias digitais...


Hoje, ora vejam, estou aqui fazendo colagens de fotos. Quem diria?


Espero que o Curso de Artes Visuais continue assim, sempre trazendos belas surpresas.


terça-feira, 25 de agosto de 2009

Retrospectiva Artes Visuais 1º semestre


Tendo em vista atender a solicitação de organizar o portfólio-blog, pensei em fazer um balanço do primeiro semestre do curso de Artes Visuais, analisando o que aprendi até aqui através das diferentes atividades propostas pelos professores e tutores das cinco disciplinas: Instrumentalização para EAD, Seminário Integrador 1, Fundamentos da Linguagem Visual, Sistemas de Representação e Filosofia da Educação.

1. Quem sou?
Sou professora de Língua Portuguesa, Literatura, Redação, Ensino Religioso e Artes da rede estadual de ensino, em Alvorada, região metropolitana da grande Porto Alegre. Trabalho com alunos do Ensino Médio em todos os níveis e tenho uma turma de Ensino Fundamental de 5ª série e uma de EJA. Minha formação é em Letras-Licenciatura Plena, com habilitação em Língua e literatura, concluída em 1989; fiz ainda dois cursos de pós-graduação em nível de especialização em Ensino de Língua e Literatura – uma abordagem textual, concluído em 1997, e em Supervisão Educacional, concluído em 2004. Sempre que possível tento me atualizar através de cursos, seminários, palestras. Nos últimos anos tenho sido aluna PEC do curso de Pedagogia da UFRGS, em cadeiras como Sociologia, Filosofia da Educação e História da Educação. Acho importante esse vínculo com a Universidade, com a produção acadêmica, com a vida cultural e com pessoas de diferentes formações.

2. Como cheguei aqui?
O ano de 2008 trouxe uma novidade: a possibilidade de fazer uma nova graduação em uma área que sempre foi de meu interesse: Artes Visuais. Melhor ainda, o curso seria na modalidade à distância, o que a princípio parecia um belo desafio e uma facilidade, pois não haveria o transtorno e a perda de tempo deslocamento até a capital. Inscrição no vestibular feita era só aguardar a data das provas. Provas realizadas. Gabarito conferido na Internet. Agora era só esperar a lista dos aprovados. Beleza! Lista publicada, meu nome nela, 6º lugar, nada mal. Isso foi realmente muito bom. Começar o planejamento e organização para realização do curso.


3. O curso de Artes Visuais:
O curso de Artes Visuais demorou um pouco a iniciar. Só tivemos nossa aula inaugural em 18 de outubro de 2008. A solenidade de abertura da primeira graduação à distância da REGESD ocorreu no prédio da faculdade de Direito da UFRGS. Belíssima arquitetura. O diretor da instituição, Dr. Júlio Alberto Nietzsch, fez um breve histórico da criação da REGESD e de sua importância como um marco histórico na graduação à distância.
Após as falas das autoridades presentes, passamos a palestra “A tecnologia como aliada dos educadores”, da Dra. Lea Cruz Fagundes. Nessa palestra, vimos que o professor ao se apropriar da tecnologia, a utiliza para repensar o mundo, a sociedade, o ser humano como uma forma de ampliar a sua consciência e de contribuir efetivamente na construção da paz. E que, a era digital, a sociedade em rede, já é uma realidade em muitas partes do mundo, inclusive no Brasil. E que, em Porto Alegre, temos um exemplo bem sucedido de informatização na escola Luciana de Abreu, em que cada aluno possui um laptop conectado à Internet e que lá, aprendizagem digital é uma realidade para essas crianças.
Na parte da tarde, tivemos uma explanação da profª Drª Umbelina Barreto, coordenadora geral do curso de Artes Visuais, sobre a organização do curso, o cronograma de atividades, os professores, os tutores, as disciplinas, o ambiente de aprendizagem Moodle, o laboratório de informática e o atelier. Muitas informações novas para processar.
4. Instrumentalização para EAD:
A primeira disciplina do curso de Artes Visuais foi a de Instrumentalização para EAD, com dois encontros presenciais em um laboratório de informática emprestado pela FABICO, da UFRGS. Não teremos aulas no Instituto de Artes como eu pensava. Teremos um Atelier específico para o curso à distância. O nosso laboratório não ficou pronto a tempo. Pelo que soube, somente em março do próximo ano estaremos no nosso laboratório definitivo.
As aulas de Instrumentalização para EAD foram tranqüilas. Tratava-se de se apropriar das ferramentas de informática que iremos utilizar durante o curso. Até aqui tudo bem. Nessa primeira fase pude contribuir ajudando as colegas um pouco menos experientes com o que eu já sabia de informática.
A primeira leitura dessa disciplina foi muito proveitosa “Como administrar o seu tempo”. Útil ao extremo, tendo em vista sermos todos professores da rede pública de ensino com jornadas de trabalho que oscilam de 20 a 60 horas semanais, com alunos. Além disso, ainda temos que conciliar o estudo com família, filhos, lazer e outras atividades variadas.
Parte da disciplina, 40h, foi realizada até o final de 2008. As outras 20h foram desenvolvidas no ano seguinte, até 18 de abril, quando fizemos uma prova sobre o que aprendemos até aquele momento. A ansiedade foi grande, mas tudo correu muito bem. As questões estavam de acordo com o que foi desenvolvido nas aulas.

5. Seminário Arte e Cultura:
Tivemos uma pausa e só retomamos as atividades em 23/05 com o Seminário “Arte e Cultura”. Nesse Seminário, tivemos a oportunidade de assistir a palestra da coordenadora adjunta do curso de Arte Visuais, Drª Maria Helena Wagner Rossi, sobre “A compreensão estético-visual” em que ela nos falou sobre os diferentes níveis de compreensão da Arte.
Nossa tutora presencial, professora Jaqueline Maissiat, apresentou-nos o belíssimo filme curta-metragem francês “Le Ballon Rouge” e utilizou-o para nos falar sobre “Alfabetização áudio-visual: relação entre imagem e educação”, em que salientou a importância da contextualização para a interpretação das imagens; sobre o estabelecimento de relações entre as diferentes linguagens: fotografia, cinema, pintura, etc.; sobre o uso de imagens como recurso didático e sobre a leitura de imagens como forma de reflexão.
A terceira palestra do tutor Márcio Monticelli foi sobre “Arte e Artesanato”, em que nos apresentou as implicações conceituais e as possibilidades pedagógicas dos dois termos, além dos principais historiadores da Arte.
A última palestra foi com a professora Dr Umbelina Barreto, que falou-nos sobre o livro “Cidades Invisíveis” de Ítalo Calvino, em que ele trabalha com as 10 categorias de Aristóteles e as ressignifica e pressupõe os seus opostos. Falou-nos também sobre o “multiculturalismo” que trabalha-se hoje nas escolas e deu uma ênfase especial ao fato de que “discutir as obras de arte é fundamental para o conhecimento da linguagem visual”.




6. Fundamentos da Linguagem Visual:
À tarde, no mesmo dia do Seminário, tivemos nossa primeira aula de desenho, na disciplina de Fundamentos da Linguagem Visual, com as professoras Laura Castilhos e Betina Friechmann, e os tutores Claudia Paranho e Rogério. A aula realizou-se já no nosso Atelier definitivo, na sala 316 do anexo 1 da Reitoria da UFRGS. O espaço é ótimo, mas nesse dia, ficou pequeno para tantos alunos.
Assistimos a uma apresentação multimídia de fotos e depois fomos divididas em dois grupos para termos nossa primeira experiência: “Desenho Cego”. Fomos instruídas a desenhar por um minuto olhando apenas para o objeto observado, sem olhar para o papel. Muito interessante. O resultado ficou mais interessante ainda. Aquilo que parecia um emaranhado de linhas, na verdade, é o que realmente vemos, a essência do desenho, longe dos estereótipos. Eu gostei muito. Segundo nossa professora Betina, trata-se de trabalhar com o lado direito do cérebro, o lado da criatividade.
Tivemos muitas aulas à distância, exploramos nosso lado criativo, como disse a profª Umbelina “nos descobrimos desenhadores”. A professora Betina estava sempre atenta e nos fez trabalhar muito, dando-nos feedbacks constantes de nossos desenhos. A tutora Claudia e o tutor Rogério foram muito solícitos também e sempre nos auxiliavam em nossas dúvidas. Foram realmente aulas muito bacanas, aprendemos muito.
No encerramento da disciplina, dia 18/06, ocorreu um encontro presencial para apresentarmos os trabalhos e fazermos uma auto-avaliação. Belo momento! Além de encontrarmos nossos colegas ainda tivemos a oportunidade de ouvir as professoras e tutoras sobre luz e sombra, perspectiva, volume... Dicas preciosas. Ficou uma vontade de que essas aulas não terminassem...



7. Seminário Integrador 1:
A disciplina de Seminário Integrador 1, ministrada pela professora Drª Umbelina Barreto e tendo como tutora a professora Jaqueline foi a que mais exigiu de nós. Primeiro pelo formato a princípio difícil de ser compreendido, depois, por ser aquela que foi nos proporcionando a maior quantidade e qualidade de informações necessárias a nossa prática docente.
Foi no Seminário que nos demos conta das transformações da educação em uma nova sociedade, a da informação, em que paradigmas devem ser quebrados e embora a resistência exista, os ventos da mudança, da inovação tecnológica são inevitáveis. E que é a partir dessa nova realidade que nossa prática educativa deve ser alicerçada.
No Seminário tivemos também um contato mais profundo com a legislação educacional, sobre as implicações da LDB de 1996 para a nossa atuação, sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais, sobre a regulamentação da formação de professores de Artes.
E, principalmente, foi a partir desse Seminário que descobrimos que ser professor é ser um pesquisador, que uma coisa está interligada a outra, num fazer conjunto, que a própria professora Umbelina sempre diz “pensar, fazer, contextualizar”. Creio que isso é decisivo para nossa atuação como professor-pesquisador, como mediador do conhecimento.
Muitas leituras, diversas técnicas, filmes, vídeos, criação de blogs, trabalhos em grupo, muitos fóruns de discussão, debates algumas vezes intermináveis que nos deixavam com mais dúvidas do que certezas. Aprendemos coisas que não imaginávamos que seríamos capazes, não apenas na questão tecnológica, mas na questão do conhecimento mesmo. Dominar as ferramentas é uma coisa, outra é conseguir usá-las de forma a crescer pessoal e profissionalmente. Mudamos sem dúvida alguma. Nos transformamos em pessoas melhores. Eu penso que aprendi muito. Tinha uma arrogância intelectual descabida, me julgava detentora de saberes que outras pessoas não possuíam. Quanta tolice. Não sabemos quase nada. E o que sabemos devemos compartilhar, socializar com nossos colegas, com nossos alunos, com todos que quiserem. Isso foi uma coisa que aprendi nessa disciplina. Aprendemos sempre...



8. Sistemas de Representação:
Dia 04/06 começamos as aulas de Sistemas de Representação, com a profª Patrícia Câmera e os tutores Vau e Gunther. Pelo que pude sentir nos fóruns, essa era uma das disciplinas mais esperadas e desejadas do curso, se não por todos, por uma grande maioria. Quem não gosta de fotografia? Eu conheço bem poucas pessoas que não se fascinam com uma fotografia. Se todos já amavam fotografia sem saber direito fotografar, imagina agora com os textos do fotógrafo e professor Achutti e as orientações da professora Patrícia e dos tutores Vau e Gunther.
Aprendemos muito sobre composição, luz, enquadramento, foco, tema... Fizemos muitas experiências interessantes. Eu, particularmente, não usava o editor de imagens. Preconceito meu com as fotografias digitais. Agora, vejo que ela possui outras possibilidades tão expressivas quanto as antigas fotos analógicas. É uma questão de sensibilidade e estilo pessoal. Temos que evoluir.
Nossa aula presencial de Fotografia Antiga – Cianotipia foi bárbara. Fizemos imagens com a luz solar com objetos diversos sobre papel e algumas com negativo na mesa de luz no laboratório. A vontade era de que a aula não terminasse. Espero podermos ter outras aulas como essa. Talvez de outra técnica fotográfica. Quem sabe?



9. Filosofia da Educação:
As aulas de Filosofia da Educação começaram no mesmo dia das de fotografia, dia 04/06, com o professor Drº Evandro Kuiava e o tutor Rogério Rosa, sempre presente, interagindo constantemente conosco.
Filosofia trouxe-nos uma nova maneira de pensar e agir no mundo. Enriquecedor sob todos os aspectos: pessoal, profissional, cultural. Como diz o nosso professor "É preciso pensar e refletir sobre os rumos da vida e da sociedade, compreender a realidade em que se vive para depois poder agir, transformar e construir um mundo mais humano e, acima de tudo, adotar uma postura ética diante de tudo o que acontece na sociedade".
Creio que a partir dos questionamentos que vamos fazendo ao longo não apenas do curso de Artes Visuais, mas ao longo de nossa vida é que nos constituímos enquanto seres humanos. E a Filosofia contribui muito nesse processo. Ao discutirmos sobre educação, ética, moral, conhecimento, verdade, ideologia e buscarmos bases teóricas sólidas para tais ensinamentos nos tornamos melhores professores e melhores seres humanos.

10. Perspectivas:
Pensei em finalizar essa retrospectiva do semestre apontando uma possibilidade de continuidade da construção do protfólio-blog através, não de uma retomada semestral, mas, de um balanço mensal das aprendizagens. Penso que algumas coisas podem ter passado despercebidas devido ao distanciamento das atividades realizadas. Se tivesse feito essa reflexão mensalmente teria conseguido um relato mais rico e instigante. É uma sugestão. Uma possibilidade para essa jornada que será longa e, espero, prazerosa. Como na fala da professora Umbelina é uma transformação é “tornar visível o que antes era invisível”.



sábado, 22 de agosto de 2009

Cianotipia

Cianotipia 1
primeiras impresssões

Cianotipia:
o processo/a composição
Nesse sábado, dia 22/08, tivemos nossa primeira aula prática de CIANOTIPIA .
A experiência foi maravilhosa. Ficamos todos com vontade de fazer mais experiências.
A professora Patrícia Camera foi encantadora e atenciosa com todos.
O laboratório do professor Achutti ficou pequeno para tantos alunos.
Bela experiência para um sábado, deveríamos repetir.

Cianotipia:
Solução (receita)

Solução A:
25g citrato férrico amoniacal verde
100ml água destilada

Solução B:
10g ferrecianeto de potássio
100ml água destilada

Utilização: misture partes iguais das duas soluções e aplique sobre a superfície desejada. (deve-se misturar apenas a quantidade a ser utilizada) após exposição à luz, lavar com água corrente. não é necessária a utilização de fixador para a imagem.

Essa receita e várias imagens feitas nesse processo podem ser visualizadas no BLOG BLEU, blog sobre CIANOTIPIA do Grupo de Pesquisas em Processos Antigos de Fotografia, do curso de Fotografia do profº Luis Eduardo Robinson Achutti.
http://projetociano.blogspot.com/

sábado, 15 de agosto de 2009

Modos de Ver

“A maneira como vemos as coisas é afetada pelo que sabemos ou pelo que acreditamos.
Só vemos aquilo que olhamos.
Olhar é um ato de escolha e tocar alguma coisa é situar-se em relação a ela.”
John Berger, em “Modos de Ver”

domingo, 9 de agosto de 2009

Tranquilidade

Nada como umas férias prolongadas para deixar o ser humano se achando o dono do mundo...
Não dá vontade de voltar para a correria do dia-a-dia, das aulas, dos trabahos por corrigir, da poluição, do trânsito, das pequenas frustrações que nos permitidos por acharmos que "precisamos" trabalhar sempre mais e mais...
Essa semana, por exemplo, para os "pernilongos" - sim, esse é o nome dos pássaros da foto ai em cima - será tão gratificante como a anterior ou a próxima... Ô vidão!... Só na pescaria! Na verdade eles não estão pescando - isso é apenas uma figura de linguagem - eles estão é caçando mariscos, ostras e pequenos crustáceos.

Antes que alguém diga que esse post não tem nada a ver com Artes Visuais, essa foto é a minha primeira experiência com edição de imagens no Picasa, para a aula de "Sistemas de Representação". Até que não ficou ruim.
Abraços a todos

Como aprendemos o que aprendemos?

“Mestre não é quem sempre ensina
mas quem, de repente, aprende.”
Guimarães Rosa

Acredito que o conhecimento é um processo e, como tal, ocorre ininterruptamente, em diferentes momentos ao longo da nossa vida de diversas maneiras. Pode ser a partir de sessões de cinema, ao assistirmos os filmes indicados pelos professores, ao debatermos com os colegas os temas listados no roteiro de reflexão, nos muitos fóruns de discussão, a partir da apreciação de algo desconhecido, entre outras coisas. É um processo contínuo. Juntamos o que não sabíamos com algo já conhecido e assim criamos conexões para um novo conhecimento que extrapola os limites anteriores.

Imagino que esse conhecimento será mais significativo dependendo das características de cada um de nós, indivíduos que somos, em função dos diferentes contextos histórico-sociais em que nos encontramos; de nossas experiências de vida; de nossas motivações ou mesmo de nossos interesses pessoais. Muitas vezes algo se mostra extremamente interessante para uma mim e, para outra pessoa não tem a menor significação. Percebemos isso através dos fóruns de discussão dos filmes “O Sorriso de Monalisa”, “Leões e Cordeiros”, “Nascidos em Bordéis” e “Entre os Muros da Escola”, proporcionados pelo Seminário Integrador I.

Nesse fórum, cada colega além de considerar as questões do roteiro de reflexão dos filmes ainda demonstrou clara preferência por um ou outro filme, identificando-se com os mesmos ou refutando idéias que os filmes trouxeram. Isso também faz parte do processo de aprendizagem. Quando nos posicionamos contra ou a favor, buscamos argumentos lógicos que confirmem nossa tese, embasamos nossa crítica, comparamos as idéias apresentadas, confrontamos as diferenças, contemplamos no nosso discurso a diversidade. É uma construção coletiva que se dá. A contribuição de cada colega do fórum - concordando ou não com ela - nos modifica de alguma forma. Às vezes nossa contribuição é mais afetiva, emocional, outras vezes é mais racional, cognitiva. Somos, muitas vezes, levados por questões morais, éticas ou sociais. Vai depender do momento e da maturidade de cada um, mas aprendemos com isso.

E o professor/tutor onde fica nisso? O professor/tutor ao elaborar a atividade, ao selecionar e organizar os materiais didáticos (filmes, roteiro, dinâmica, etc.) pensou nessa construção do saber por parte do aluno, individual e coletiva simultaneamente. Deixou-nos livres como sujeitos para que pudéssemos construir nosso próprio processo de aprendizado, deu-nos autonomia. O professor/tutor agiu como um mediador do processo.

Como cada um compreendeu e aproveitou esse momento creio que só o tempo dirá. Penso que foi enriquecedor e que desde o início do curso de Artes Visuais, que não tem um semestre fechado ainda, já podemos perceber as diferenças: de postura, de discurso, de construção do pensamento, da prática... Crescemos, evoluímos, pensamos de outra forma, vemos de outra forma... E isso é muito bom.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O Sorriso de Monalisa




“...Nem todo errante é sem propósito,
especialmente aquele que busca a verdade
além da tradição, além da definição, além da imagem.”

O filme “O Sorriso de Monalisa” apresenta-nos uma jovem professora de História da Arte, recém formada, idealista, profundamente engajada na causa da Arte e da emancipação das mulheres, questões essas consideradas muito avançadas em 1953. Ao chegar à escola, a professora enfrenta alunas “brilhantes”, que sabem muito do que está nos livros (apostilas), mas que pouco pensam sobre o que estão repetindo mecanicamente. O confronto é inevitável: de um lado a escola tradicional, que representa a sociedade da época, que não quer mudanças, que não quer perder o controle sobre suas alunas, jovens “casadoiras”, que estudam não como forma de ascensão social, cultural ou profissional, mas “apenas” como ilustração para a vida de casada.

Não há como separar o contexto histórico-social da análise pedagógica do filme. O fazer pedagógico da personagem está intrinsecamente unido com o seu fazer político-socio-cultural. Há na escola/sociedade da época uma evidente rotulação de tudo que é “certo” e do que não é. Ao questionar a forma como suas alunas entendem a arte, a professora também está questionando a forma como essas alunas estão entendendo e construindo as suas próprias vidas. Frases como “Não há resposta errada nem livro ensinando o que é”, “O que é arte? O que faz dela boa ou ruim? Quem decide?”, “Olhem além da pintura”, “abram a mente para uma nova concepção” são emblemáticas e demonstram o quanto a professora está engajada em uma mudança de paradigmas, uma mudança de mentalidades.

Ao apresentar novos artistas, representantes de uma arte de vanguarda, revolucionária e questionadora e suas obras (“A carcaça” de Soutine, “Les demoiselles d'Avignon” de Picasso, “Doze girassóis em uma jarra” de Van Gogh, “Greyed Rainbow” de Pollock) a professora tenta levar suas jovens alunas a verem além, a fugirem do convencional, do que lhes é dado como arte, a fazerem suas próprias escolhas, não apenas das obras, mas de suas próprias vidas. Na visita a uma galeria-depósito (?), ela leva suas alunas para apreciarem um Pollock e diz “Façam um favor a vocês, parem de falar e olhem. Vocês não precisam gostar, apenas apreciem.” Ao falar de Picasso ela diz “Picasso pintava o que sentia e não o que via, sem camuflagem, sem romantismo.” Novamente ao falar de arte, ela fala da sociedade, dos costumes, das regras, das aparências. É o mote para reflexão pessoal, para a construção do seu próprio saber.

Outra passagem do filme digna de nota é o momento em que a professora leva para aula slides de comerciais em que as mulheres são apresentadas como “rainhas do lar”, cumprindo “o papel que nasceram para desempenhar”. É o início do que chamamos de sociedade do consumo, do ideal do ter ao invés de ser. Mulheres que estudaram, formaram-se com louvor, “os cérebros femininos mais inteligentes do país”, com um futuro brilhante pela frente se acomodando e aceitando viver menos do que merecem, menos do que podem, se contentando em ficar o resto das vidas cuidando de casas, lavando, passando, cuidando de bebês... É incrível pensar que o filme retrata a sociedade de 1953, mas que hoje ainda vemos algumas pessoas, homens e mulheres, com essa mesma mentalidade.

No meu singelo ponto de vista, a escola tradicional do filme vence a batalha. Faz uma lista de exigências para a professora que despersonaliza completamente o trabalho dela: apostila padrão, planos de aula pré-vistoriados para aprovação, nada de “conselhos” às alunas, relacionamento apenas profissional com todos os membros da instituição, nada de arte moderna (considerada muito perigosa por fazer refletir). Não há clima para que ela continue, não há porque continuar... Ela desiste, vai para Europa, seguir seu caminho, mas não sei deixar algumas seguidoras, não sem deixar pequenas sementes, jovens que passaram a ver o mundo de uma outra maneira, que foram irremediavelmente contagiadas pelas ideias da professora, idéias de autonomia, de construção de identidade, de personalidade. Para o bem ou para o mal, temos esse poder, temos essa responsabilidade: tudo o que dizemos e/ou fazemos pode influenciar nossos alunos.

domingo, 2 de agosto de 2009

Nascidos em Bordéis



O filme “Nascido em Bordéis”, diferentemente dos demais assistidos (“Leões e Cordeiros”, “O Sorriso de Monalisa” e “Entre os muros da Escola”) é um documentário. O que por si só já nos traz uma estética e uma concepção completamente diferentes.

Ao acompanhar uma fotógrafa-professora-artista, Zana Briski, em sua incursão pelo Distrito da Luz Vermelha, em Calcutá, na Índia, o documentário mostra-nos a difícil vida de meninos e meninas, filhos de prostitutas, para poderem sobreviver em um meio hostil e sonhar com uma vida um pouco melhor. Trata-se de crianças que estão à margem da sociedade indiana, tão festejada como rica em tecnologia da informação e, na realidade, tão pobre socialmente. Sujeira, caos, burocracia, drogas, preconceito, tudo conspira para que essas crianças, em situação de risco, continuem vivendo em condições sub-humanas.

Zana, que a princípio buscava apenas registrar imagens do distrito, acaba se envolvendo de forma irremediável com o grupo de crianças que ela ensina a fotografar. Nas palavras da fotógrafa, “ensinando a verem o mundo com outros olhos”, proporcionando que aquelas crianças desenvolvam uma sensibilidade para encarar os desafios do mundo que as cerca, a serem produtores de algo, a registrarem seu cotidiano, e consequentemente a pensarem sobre seu mundo, sua vida, seus problemas, a vislumbrarem outras possibilidades. É um resgate da auto-estima que Zana está propondo, é uma tomada das rédeas das suas vidas através desse processo de aprendizado de fotografia, mas, principalmente, um aprendizado da vida. É a busca de uma auto-consciência através da arte, da sensibilidade do olhar.

Os depoimentos das crianças sobre os processos de captação de imagens, sobre os conceitos de belo e do gosto, sobre as técnicas de composição e edição de imagens são bem significativos. Vemos crianças, que apesar de bem jovens em idade, são bastante maduras, que desenvolvem um olhar estético-crítico sobre o que estão produzindo, sobre o como estão produzindo suas fotos, sobre a reação das pessoas retratadas por eles.

Diferente do que poderia se esperar de um choque cultural tão violento, não há um julgamento moral, há apenas uma constatação da miséria e a busca incessante de Zana por escolas para colocar as crianças. É comovente a luta da fotógrafa por essa causa. Uma luta solitária, de formiguinha, que produz pequenos, porém, importantes resultados.

Uma luta que nos faz pensar no nosso papel como professores e cidadãos. Faz pensar em quanto mais se conseguiria se não nos acomodássemos nas nossas vidinhas confortáveis e procurássemos ajudar mais e reclamar menos. É difícil e duramente verdadeiro. Pouco estamos fazendo no nosso dia-a-dia que cause um efeito modificador de vidas tão grande quanto o que a fotógrafa fez. Cumprimos nosso papel, algumas vezes burocraticamente, outras vezes de forma mais comprometida, mas não vamos muito além dos muros da escola.

Já falei em outros fóruns sobre isso, porém, aqui se faz necessário repetir: o que de concreto estamos fazendo pela sociedade que vivemos? Como poderemos usar o ensino de artes como forma de transformação da sociedade? Queremos essa mudança? Estamos dispostos a abrir mão de pequenos luxos para que todos tenham o minimamente necessário a sua sobrevivência? Do que estamos dispostos a abrir mão para que isso aconteça? Difícil de responder... Podemos ao menos começar a pensar no assunto. E penso que esse filme serviu para isso: pensarmos no assunto, pois o Distrito da Luz Vermelha em Calcutá não é assim tão diferente de algumas regiões da periferia de nossa amada capital.