Caixa de Pandora

quinta-feira, 23 de junho de 2011

PCN e as Artes Visuais

"TV e P&B" Tadeu Vilani
ensaio fotográfico na Vila Dique Porto alegre



Os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Artes Visuais

Sônia Maris Rittmann

UFRGS POLO POA 1

Discutir os PCN-EM e a forma como ele está estruturado, nos faz re-pensar na História da Educação e no caminho percorrido até chegarmos aos dias de hoje. É nessa perspectiva que trago um breve apanhado histórico e da importância dos PCN numa tentativa de responder a alguns dos questionamentos propostos pela disciplina, relacionando-o com o que considero ser relevante para um professor de artes visuais na contemporaneidade.

A partir da abertura política, de redemocratização, e dos novos ares que sopram no nosso país, os intelectuais passaram a pensar de forma consistente numa mais educação democrática e aberta e que contemplasse essa nova forma de organização da sociedade. Havia reivindicações de mudança no sistema educacional tanto na questão de valorização do magistério, como da recuperação da escola pública, “aviltada e empobrecida” durante muitos anos. Já nas discussões para a elaboração da Constituição de 1988 aparecem contribuições valiosas da sociedade civil organizada. O capítulo III da Constituição dedica-se exclusivamente da EDUCAÇÃO, e traz avanços nas discussões que são aprimoradas posteriormente através PEC, Propostas de Emendas a Constituição. Nesse capítulo, foram contemplados o “ensino laico, obrigatório, público e gratuito oferecido pelo Estado.” Além disso a Constituição assegurou que se elaborasse uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96).

Esse período histórico, pós regime militar, foi muito fértil e nos legou além da Constituição de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069) em 1990, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9396/96) em 1996, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) em 1998, culminando com o Plano Nacional de Educação (lei 10.172) em 2001.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são considerados referência de qualidade para os Ensinos Fundamental e Médio no país. A idéia dos PCNs era aproximar o ensino e a sociedade contemplando idéias do “que se deve ensinar”, “como se deve ensinar” e “para quem se quer ensinar”. Questões como cidadania, participação social, diálogo como forma de mediar conflitos, combate a discriminação permeiam todo o texto dos PCNs. Não se trata de regras, mas sim de, como o próprio nome sugere, parâmetros, pilares de sustentação que serviram de subsídio para o trabalho do professor em sala de aula.

Dentro dos PCNs, a Arte, que na Lei 5.692/71 fazia parte integrante da área da linguagem, passam a integrar a área de Linguagem, Códigos e suas Tecnologias, e como tal, trabalha a partir da representação, da comunicação, da linguagem, da questão estética.

“A linguagem permeia o conhecimento e as formas de conhecer, o pensamento e as formas de pensar, a comunicação e os modos de comunicar, a ação e os modos de agir. Ela é a roda inventada que movimenta o homem e é movimentada pelo homem. Produto e produção cultural nascida por força das práticas sociais, a linguagem é humana e, tal como o homem, destaca-se pelo seu caráter criativo, contraditório, pluridimensional, múltiplo e singular, a um só tempo” (PCNEM, 2002, p.125).

Diante disso, penso que o ensino de Arte deve ser pautado pelos aspectos da produção, a apreciação e a reflexão da Arte com a devida contextualização do momento histórico e da linguagem do seu tempo. A arte como representação de seu tempo e lugar, dos anseios, sentimentos e reflexão de sua época, sintetiza as diferentes visões de mundo de cada época e cada cultura, respeitando as diferenças e propiciando um olhar mais atento e aberto transformações ocorridas na sociedade em que estamos inseridos. A Arte como “conhecimento humano sensível-cognitivo”, em que se manifestam os diferentes “significados, sentimentos, modos de criação e comunicação sobre o mundo da natureza e da cultura”, que leve em conta não apenas o fazer artístico, mas o apreciar e compreender esse fazer artístico, seu e do outro, além da reflexão a partir dessa produção e apreciação, que considere a história e o contexto sócio-cultural.

Utilizar-se da Arte para pensar o mundo, as relações entre os seres humanos e a sociedade em que estamos inseridos. Trazer a Arte para o centro das discussões do ensino não como uma disciplina “a mais”, mas como uma forma de manifestação cultural própria, legítima, que auxilia o aluno a compreender-se. A compreender melhor o mundo em que vive e que se transforma a cada dia em uma velocidade intensa, e as relações complexas desse mundo em que nem sempre há espaço para a reflexão, em que as pessoas se movimentam como autômatos e que já não questionam os valores pré-estabelecidos e apenas seguem os paradigmas impostos que lhe são impostos.

Uma questão que me chama a atenção no texto da Ana Mae Barbosa é a do “conteúdo” de Artes. Parece que ela não errou tanto assim, pois embora a Arte já possua um conteúdo formal a ser desenvolvido, com currículo, gradação, além de avaliações e “notas” a serem trabalhadas, ainda é comum ouvirmos manifestações dos diferentes segmentos da escola como: “artes não reprova”, “para que artes?”, “poderíamos retirar um período de Artes e colocar Matemática (ou qualquer outra matéria tida como ‘séria’)” entre outras. Isso comprova que embora a Arte tenha direito de existir por si só, seja extremamente importante para a formação de seres pensantes, criativos e atuantes, ainda há um “ranço” de algumas pessoas com relação à importância da mesma.

Hoje, penso que saímos do que Ana Mae Barbosa chama de laissez-faire nas Artes. Embora eu não tenha certeza de que isso tenha sido totalmente abandonado no Ensino Fundamental, ao menos no Ensino Médio já há um esboço de um trabalho mais consistente. Trabalho que leva em conta o fazer, o apreciar e o refletir a Arte, com a utilização das imagens de obras de arte em sala de aula, sejam em reproduções, livros de Arte ou pelas mídias à disposição, e também com visitação aos espaços culturais, quando possível, para apreciação in loco das mesmas. Além disso, são feitas pesquisas sobre autores, períodos artísticos e contextos sócio-históricos. Relações são estabelecidas com outras produções artísticas de cada período de forma interdisciplinar, integrando outras matérias como Educação Física, Português, Literatura e Inglês. O uso da Informática, para alguns de nossos alunos, já é uma realidade. Eles produzem animações, avatares, filmes e fotografias. Manipulam programas de edição gráfica e montagem com alguma destreza e são capazes de criar coisas muito interessantes. Penso, porém, que ainda falta estrutura em nossas escolas para que todos os alunos tenham acesso às novas tecnologias. Algumas das produções dos alunos são releituras de obras, ou mesmo, numa relação de interdisciplinaridade com a literatura são produzidas obras a partir de textos literários ou mesmo letras de música. Há, mesmo que de forma insipiente uma tentativa de fazer das aulas de Arte um espaço de criação, fruição e prazer de produzir e “consumir” Arte.

O mundo hoje necessita de pessoas mais criativas, que pensem de maneira diferente e que solucionem problemas cada vez mais complexos, e essa complexidade faz com que todos se mobilizem para dar conta de resolver problemas nunca antes vistos. Nesse sentido, a arte surge como um espaço propício para o desenvolvimento de habilidades e competências na área das linguagens, dando condições para que a criatividade na busca de soluções aflore. Ao professor cabe criar as condições necessárias para que esse desenvolvimento seja articulado e potencialmente significativo. Penso que o tempo de transmitir informações ficou para trás e que agora, devamos abandonar velhos paradigmas e estarmos abertos a aprender. Aprender sempre.

Muito ainda há que se fazer para se ter o espaço ideal de trabalho, com matéria prima à disposição, salas apropriadas, professores atualizados e atuantes, alunos motivados, mas penso que devemos trabalhar com o que temos, mesmo que seja pouco e difícil. Sempre é melhor do que nada. O fazer sem recursos pode ser também muito criativo e instigante para os alunos e para nós também. Creio que isso é o que a professora Umbelina chama de “sair da nossa zona de conforto” e ir à luta. Trabalhar com tudo “certinho” não é desafio. Desafio é o contrário, é fazer onde não seria possível que se fizesse. É transformar a necessidade em motivo de criação em reflexão sobre o hoje, sobre os nossos desafios diários, sobre a nossa relação com as formas de poder, com os limites de nosso fazer e de como resolvemos essas questões a nós impostas. Esse é o nosso tempo, esse é o nosso mundo. A partir dele devemos criar, pensar, refletir e fazer Arte.

Referências bibliográficas:

BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação no Brasil: realidade hoje e expectativas futuras. Estudos Avançados. [online]. 1989, vol.3, n.7, p. 170-182. ISSN 0103-4014. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141989000300010&script=sci_arttext

Parâmetros Curriculares Nacionais- Ensino Médio. Disponível em

http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14_24.pdf

Referencial Curricular. Lições do Rio Grande. Voume II. Linguagens, Códigos e sua Tecnologias. Arte e Educação Física. Disponível em

http://www.educacao.rs.gov.br/pse/html/refer_curric.jsp?ACAO=acao1


terça-feira, 21 de junho de 2011

29 Bienal de São Paulo MARGS Projeto Educativo


Sábado, estive no MARGS, à tarde, para uma conversa bastante produtiva sobre Arte Contemporânea a partir da mostra (de 17 junho a 17 de julho) que está sendo realizada com obras selecionadas da 29ª Bienal de São Paulo.
ARTE
POLÍTICA
EXPERIÊNCIA
EMANCIPAÇÃO
AFETO
COTIDIANO
DEBATE
Diálogos possíveis, embates inevitáveis, discussões e ações compartilhadas, formulação de perguntas geradoras de pensamentos. Foi uma tarde magnífica, que terminou com a visitação e a apreciação das obras dos artistas que foram selecionados: David Goldblatt, Allan Sekulla, Andrew Esiebo e Jimmie Durhan. Vale a pena ir até o MARGS e ver de perto as obras... Claro que vimos as obras em São Paulo, no meio de mais de oitocentas outras... Aqui o recorte é bem menor... mais focalizado...Vejam com seus próprios olhos.

História e Memória 02 - Proposta Triangular


História e Memória 2 – Proposta Triangular
(palestra com Ana Mae- UFRGS- 2011)

Sônia Maris Rittmann
Polo Poa 1 UFRGS

Para podermos entender melhor o que de positivo e negativo gerou a Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa, julgo ser necessário entendermos o contexto histórico e social vivido desde o final dos anos 60 no Brasil. Lembremos que o Brasil vinha de uma ditadura militar que deixou marcas profundas na sociedade e, não poderia ser diferente, na educação. Direitos civis e políticos foram cassados. A liberdade de expressão e de ação estava cerceada. Dentro e fora da escola havia um incessante patrulhamento ideológico que fazia com que muitos professores ficassem receosos de propor qualquer coisa que fugisse ao “padrão” do período. Embora as aulas de Artes tivessem se tornado obrigatórias, em 1971, com a LDB 5692, muitas dessas aulas de arte, nessa época, acabaram virando meros espaços que se prestavam a produzir decorações alusivas às datas comemorativas, em geral de caráter cívico ou religioso, impregnados de imagens estereotipadas que pouco contribuíam para qualquer desenvolvimento estético dos estudantes.

Somente a partir dos anos 80, com a perspectiva de novos ventos democráticos no horizonte, a partir da abertura política, com a Semana da Arte e Ensino, em um encontro com mais de 3000 professores houve uma mobilização de forma organizada que faria o enfrentamento das questões políticas da Arte/Educação, que gerou a criação da Associação de Arte Educadores de São Paulo. Um aspecto bastante positivo foi que a partir desse momento, com o fortalecimentos dos professores de arte, muitos cursos de pós-graduação foram criados, linhas de pesquisa abertas, congressos e festivais realizados, com as mais diversas linhas de pesquisa e ação. Muitas delas com base na Proposta Triangular de Ana Mae.

“A Proposta Triangular foi sistematizada a partir das condições estéticas e culturais da pós-modernidade. A Pós-Modernidade em Arte/Educação caracterizou-se pela entrada da imagem, sua decodificação e interpretações na sala de aula junto com a já conquistada expressividade.”

Algumas diferenças e semelhanças de abordagem são percebidas entre o Critical Studies, manifestação pós-moderna inglesa no Ensino da Arte; o DBAE – que era baseado nas disciplinas: Estética-História-Crítica e no fazer artístico, nos EUA; e a Proposta Triangular, manifestação pós-moderna brasileira – embasada nas ações: fazer-ler-contextualizar. Pode-se dizer que a semelhança entre as propostas seja reflexo dos conceitos pós-modernos de Arte e Educação. Uma das diferenças ficaria por conta da “ideia antropofágica” que devora o que é estrangeiro, transformando em algo diferente, brasileiro.

Acredito que o fato de a Proposta Triangular vir sendo re-sistematizada constantemente pelos professores seja um ponto positivo da proposta por que a torna dinâmica e faz com que a mesma não se transforme em “receita de bolo”, mas sim que a mesma seja sempre considerada a partir da realidade de cada grupo, cada região, cada faixa etária, como possibilidade de expansão e não como “regra” a ser seguida.

Não quero dizer com isso que não haja problemas nessa flexibilização da Proposta. Com certeza isso pode dar margem a interpretações errôneas que nada contribuem para o desenvolvimento estético. A própria autora aponta excessos nos enfoques estéticos e metodológicos na questão dos modos de leitura. Porém, hoje, percebe-se que “o exercício da escolha e a qualidade da análise na recepção das obras são mais importantes para desenvolver a capacidade de atribuição de significados do que os métodos de leitura”.

Um outro fator que considero muito positivo na Proposta Triangular é o conceito de educação inclusiva, que surgiu nos cursos do MAC, no Projeto de Amanda Tojal, e que permite que arte seja realmente democrática e acessível a todos, independente de sua condição física.

Um aspecto que considero bastante negativo foi a desconsideração, em 1997, na construção dos PCNs, da Proposta Triangular. Ignorou-se também a contribuição dos trabalhos de “revolução curricular desenvolvido por Paulo Freire” enquanto secretário da educação em São Paulo. Nas palavras de Ana Mae, “desistoricizam nossa experiência educacional” ao deixar a cargo de um educador espanhol a responsabilidade de criação dos PCNs.

Como se isso não bastasse, a fim de se fazer entender, o MEC cria uma “cartilha” designada Parâmetros em Ação, que tem a intenção de explicar os PCNs, onde aparecem até mesmo o tempo que devemos dispor para apreciar determinada obra de arte. “Um autêntico exemplo da educação bancária que Paulo Freire tanto rejeitou”.

Penso que entre os méritos da Proposta Triangular, destaco a questão da apreciação crítica das imagens, com o estabelecimento das relações sociais e culturais (contextualização) de forma integrada: leitura enquanto ampliação do olhar e construção de novos significados a partir do que se vê, se analisa, se interpreta; desenvolvendo e ampliando o pensamento visual a partir da leitura.

Referências Bibliográficas:

http://moodle.regesd.tche.br/mod/resource/view.php?id=14686

http://pt.wikipedia.org/wiki/Abertura_pol%C3%ADtica


Os anos 60 na arte brasileira

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Tunel do Tempo: Neoconcretismo - 1959

Manifesto neoconcreto -1959

Museu de Arte Moderna - Rio de Janeiro

Museu de Arte Moderna - RJ - construção em 1954

meus aluns em 1959 em frente à escola, saindo para a exposição

a cidade "maravilhosa"

material audiovisual "moderno"

Acordei bem disposta, moro na capital do país, praticamente em um cartão postal, é domingo e eu não preciso trabalhar, posso descansar e aproveitar a vida. Sem alunos, sem obrigações, sem trabalho da faculdade para fazer... delícia! Deveria tomar um café, mas como sou gaúcha, tomei foi um chimarrão bem amargo e depois de ler o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, escutando a Rádio Nacional, um texto me chamou a atenção: era o Manifesto Neoconcreto, de Ferreira Gullar. Já apreciava as poesias e textos de escritor então resolvi ir à 1ª Exposição de Arte Neoconcreta que está acontecendo no Museu de Arte Moderna do Rio de janeiro. Peguei um ônibus e fui. Passei o dia no Museu, circulando entre as obras, aproveitando o espaço. Voltei para casa com a cabeça fervilhando de ideias e em como eu poderia retomar a exposição com meus alunos.

Penso que antes de visitar novamente a exposição, desta vez com os alunos, deveríamos retomar alguns conceitos que julgo importantes para a compreensão do Movimento Neoconcreto, que poderia seguir alguns dos pontos elencados abaixo:

a) Um breve panorama histórico no Brasil e no mundo: o contexto das guerras, das mudanças políticas no Brasil (populismo) e no mundo. Estamos vivendo o final dos anos 50, período marcado por grandes avanços científicos, tecnológicos e de mudanças culturais e comportamentais. A década em que começaram as transmissões de televisão (lançada em 1950), embora poucos possuíssem, e a maioria se utilizasse do rádio para saber das novidades. Em 1958, o Brasil ganhou sua primeira Copa do Mundo de Futebol, há uma euforia no ar. Estamos em 1959, no Distrito Federal, no olho do furacão; Getúlio Vargas se “suicidou” há poucos anos(1954), foi uma comoção nacional; Juscelino Kubitschek, eleito em 1955, com seu projeto “cinquenta anos em cinco” está construindo Brasília, moderna ao extremo, com projeto de Oscar Niemmayer. No plano internacional, os conflitos entre os blocos capitalista e socialista ganham força, estamos em plena Guerra Fria. Fidel Castro, através da Revolução Cubana, assume a presidência de Cuba. No outro lado do planeta, a guerra do Vietnã se inicia. Não dá para ignorar tais fatos.

b) Os movimentos antecessores que marcaram rupturas: do modernismo para o concretismo, por exemplo. “A partir de uma perspectiva crítica e formalista, tentando radicalizar uma visão geométrica e racional das artes e, assim, refletir sobre o papel das artes numa sociedade marcada pêlos meios de comunicação de massa e pela indústria, consagrou-se em 1956, uma proposta estética radical: o concretismo”; Inicialmente, o movimento concretista se articulou nas artes plásticas, com o Grupo Ruptura, de São Paulo, consagrando-se pouco depois a partir das experiências poéticas do Grupo Noigrandes: Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari, que também haviam participado do Grupo Ruptura. Nessa nova proposta, a palavra, como unidade básica da comunicação linguística e poética, passava a ser questionada e, na perspectiva do movimento, deveria ser fragmentada, decomposta em signos e colocada numa perspectiva visual e concreta. Por outro lado, a expressão nas várias artes - poesia, artes plásticas e, mais tarde, na música - deveria buscar a abstração racionalista, geométrica, antiintuitiva e incorporar novas técnicas e materiais - gráficos, sonoros, imagéticos - proporcionados pela sociedade industrial e pela nova linguagem da publicidade, com seus cartazes e efeitos visuais inovadores;

c) Um breve panorama cultural: Da Bauhaus à Escola da Forma em Ulm...

d) A questão da Imprensa: a importante mudança gráfica decorrente dos movimentos concretos e neoconcreto; mostrar aos alunos a disposição gráfica predominante nos jornais da época e a mudança introduzida pelas ideias que surgiram com o movemento Neoconcreto ( a questão dos espaços em branco, da disposição gráfica dos elementos, do planejamento da página...)

e) A questão da mudança na linguagem: da música estrangeira (o surgimento do rock com Elvis Presley) em contraponto com a nacional, Tom Jobim, Vinicios de Moraes e João Gilberto que inova com a criação da Bossa Nova...da poesia... do cinema que se torna muito popular (as chanchadas)... o teatro de vanguarda que busca o oposto... e das respectivas relações estabelecidas entre as diferentes artes; “Uma arte que não tenha linguagem não pode existir” Ferreira Gullar... “uma arte tem que ter o máximo de significado num mínimo de forma, nem mais, nem menos, precisão” FG...

f) As mudanças nas artes plásticas e os artistas que fizeram parte do movimento; os grupos que antecederam o manifesto e a sua importante participação: Grupo Ruptura e Grupo Frente.... “o mundo das artes plásticas, mesmo circunscrito a um pequeno círculo social, foi fundamental para consolidar um outro fenómeno da cultura brasileira moderna: a tendência formalista da vanguarda, em muitos casos próxima à abstração pura, que será vista como sinónimo de sofisticação e modernidade por amplos segmentos da elite, cujo impacto inicial se viu nas áreas de arquitetura, escultura e pintura. Destacavam-se as formas geométricas, consideradas frias e racionalistas, sem ornamentos decorativos, exageros ou elementos sem funcionalidade no conjunto da obra; Enquanto o MASP expõe a arte dos grandes gênios da pintura, Renoir, Degas, Van Gogh, o MAM passou a se dedicar às vanguardas da arte contemporânea:

Além da apreciação dos slides com imagens das obras dos grupos, os alunos podem realizar uma pesquisa sobre os Grupos Frente e Ruptura poderia ser feita in loco... dividindo a turma em grupos e enviando-os até os espaços em que cada um dos grupos atua ou está em exposição, para a referida pesquisa. O Grupo Frente foi liderado por Ivan Serpa e é associado ao movimento construtivo no Brasil. A primeira exposição do grupo ocorreu em 1954, no Rio de Janeiro, e dela participaram, entre outros, Aluísio Carvão, Décio Vieira, Lygia Clark e Lygia Pape . Numa segunda exposição do grupo, em 1955, participam artistas que se tornaram referência para a arte brasileira construtiva, como Abraham Palatnik, Franz Weissman e Hélio Oiticica. O grupo Ruptura: A arte concreta no Brasil tem início oficial, por assim dizer, com a exposição Ruptura, aberta em 9 de dezembro de 1952, no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP. Dela participaram sete artistas que residiam em São Paulo e tiveram em Waldemar Cordeiro uma espécie de líder. Além de Cordeiro, integraram a mostra os brasileiros Geraldo de Barros e Luiz Sacilotto ; Anatol Wladyslaw e Leopoldo Haar , ambos de origem polonesa; Lothar Charoux, austríaco; e o húngaro Kazmer Féjer.

g) A questão filosófica, Merleau Ponty (fenomenologia), que está implícita no Manifesto Neoconcreto;

h) Os novos espaços expositivos que se criaram na década são bastante relevantes e devem fazer parte da aula: em 1951, a criação da 1ª Bienal de Arte de São Paulo, no parque Trianon, por exemplo;

i) A disputa entre Rio de Janeiro e São Paulo: disputa que não se restringe às questões políticas, e que chega a esfera cultural, afetando a maneira como os intelectuais e o povo se vêm; o caipira e o intelectual, o ingênuo e o cafajeste, estereótipos construídos e divulgados com intencionalidade...

j) O comportamento dos jovens é ditado pelo que eles “consomem” no cinema e nas revistas da época: a camiseta branca de Marlon Brando vira “uniforme e símbolo da juventude; No cinema James Dean vira culto com “Juventude Transviada”;

k) Leitura e exploração do Manifesto Neoconcreto: penso que a leitura do manifesto, depois de exploradas algumas das questões acima, fará mais sentido se for acompanhada das imagens (slides), para que se possa ir pontuando as características, diferenças e semelhanças, inovações...

Alguns pontos ainda precisam ser pensados melhor e organizados de forma que tenhamos condições de preparar melhor a aula. Acredito que o ideal seja desenvolver esses conceitos através de diálogos que teriam como ponto de partida imagens, fotografias formatadas em slides (o Colégio Theodoro da Fonseca, famoso por sua arquitetura do início do século XX, conta com um auditório amplo e possui um “projetor de slides” além de um belo e um novíssimo “toca-discos” para uso dos professores ) ; músicas (no Brasil vivemos o início da bossa nova, professora “a frente do seu tempo” possui e o lançamento em primeiríssima mão do LP de João Gillberto “Chega de Saudade”, enquanto no mundo a explosão do rock é o que há de mais moderno) e alguns textos (poemas neoconcretos) que serão transcritos no quadro negro para que os estudantes, meninas e meninos, possam apreciar.

Penso que não seria necessariamente preciso seguir todo o roteiro, mas que as questões pudessem ter um significado para que se pudessem estabelecer algumas relações entre o contexto histórico-cultural que estamos vivendo e as produções artísticas. Se os alunos pudessem estar familiarizados com esse panorama antes da visitação creio que a mesma seria muito mais proveitosa. Durante e após a exposição poderíamos tentar identificar as características que aprendemos no Manifesto Neoconcretisma e tentar relacionar com as obras dos artistas que estão expostas; pensar em qual seria o cerne de cada obra, o que elas teriam de comum, o que teriam de diferente entre elas e as obras concretistas... Penso que poderá ser um trabalho bastante interessante.

sábado, 11 de junho de 2011

vídeo "Os quatro elementos - água"



Os quatro elementos - Água

Sônia Maris Rittmann

POLO POA 1- UFRGS

O vídeo da semana, “Os quatro elementos-Água”, é uma tentiva de dar continuidade ao vídeo anterior “Os quatro elementos” e é, também, um processo de percepção de que a humanidade hoje esqueceu que basicamente é a energia que constitui tudo que existe sobre o planeta. Energia da água, do fogo, do ar e da terra...

Elegi a Água como o primeiro elemeto por suas características simbólicas de fonte, começo, princípio, representação dos sentimentos e emoções profundas. Dependendo da pesquisa que se faça, ela, aparece ora positivamente ora negativamente mas, sempre ligada a questões emocionais, intuitivas, “ancestrais” como diz a professora Umbelina.

Pensando do ponto de vista estético, a água foi representada em diferentes artes, na literatura, na psicanálise, no cinema, na mitologia. Nas artes visuais ela aparece de muitas formas: seja tradicionalmente como em marinhas, ou mesmo como pano de fundo da última Bienal de São Paulo, em que o tema “Há sempre um copo de mar para um homem navegar” nos levou por mares nunca dantes navegados... Penso que a água é realmente um tema que fascina tanto pela sua plasticidade como pelo mistério que carrega. Pode-se pensar em diferentes poéticas a partir do tema: intimidade, subjetividade, instintivo, irracionalidade, imprevisibilidade...

A água é sempre um convite ao mergulho em suas profundezas, sempre escuras e enigmáticas, sugerem mais do que dizem. Metáfora de reflexão que ultrapassa a superfície, que é sempre outra, que nunca se repete. Foi Heráclito quem disse, sabiamente, “Tudo flui nada persiste, nem permanece o mesmo.Não se pode entrar duas vezes na mesma corrente; o rio corre e toca-se outra água.” É dessa fuidez, desse movimento que torna tudo sempre diferente que parto para minha produção visual. Água que mesmo parecendo parada, muda a cada movimento, do vento, da chuva, também água, dos peixes, representação da vida que habita seu interior, ora aparecendo ora desaparecendo, transparência e solidez, conexão e disjunção, sempre em relação com o(s) outro(s); envolve, equilibra nossasenergias, limpa e renova as pessoas, a vida, os sentimentos...

O processo de produção de vídeo foi semelhante ao anterior: muito mas tempo dispendido no processo de criação da ideia do que propriamente a execução do vídeo. Depois de escolhido o local das filmagens, planejar a ida ao local para a sua execução. Depois, de posse das filmagens, converter para o formato wmv e passar a edição. Cortar os exessos, inverter uma das filmagens, inserir as fade in e fade on, mixar dois dos takes com transposição das cenas, escolher o trecho e inserir o áudio “sons da natureza”, criar o título e os créditos de acordo com o solicitado. Rever o filme, aprovado, finalizar e salvar projeto e filme. Publicar.









domingo, 5 de junho de 2011

Os quatro elementos - vídeo


Exercício 4- vídeo com tema;
O que estamos pensando?
Arte e tecnologia Digital II


Os Quatro Elementos

Sônia Maris Rittmann

POLO POA 1- UFRGS

"Um pouco de possível, senão sufoco" (Deleuze)

O vídeo “Os Quatro Elementos” produzido para a disciplina de Arte e Tecnologia Digital II, parte da pergunta “o quê estamos pensando?” Pensamos milhares de coisas todos os dias e quando nos fazem essa pergunta, não sabemos o que selecionar entre todas elas. Podemos dizer que vivemos o nosso cotidiano em um ritmo alucinante: trabalho, escola, família, amigos...

O mundo contemporâneo nos obriga a viver nessa correria. Tempo e movimento, dois conceitos explorados por Deleuze quando falamos de cinema-vídeo. Justamente o que nos traz até aqui: a falta de um (tempo) e o excesso de outro (movimento). Entre o que queremos e o que podemos, entre o real e o virtual: o que nos motiva a levantar todos os dias da cama? Qual o nosso olhar sobre o mundo em que vivemos? Quais as experiências que nos acrescentam, nos transformam fazendo-nos crescer? O que nos faz singular? O que produzimos-criamos?

Nosso cotidiano nos impele a viver uma multiplicidade de papeis e funções que nos faz quase esquecer quem nós verdadeiramente somos: seres humanos. Iguais em essência a todos os demais seres vivos. Essa percepção de humanidade faz pensar na energia que constitui tudo que existe sobre o planeta. Faz pensar nos quatro elementos cultuados em todo o mundo, seja nas tradições filosóficas, religiosas ou mitológicas: gregos, chineses, indianos, muito antes de nós, se debruçavam sobre o tema, sendo que para alguns, havia ainda um quinto elemento. Fico com os quatro elementos, ar, água, fogo e terra, embora pense que a possibilidade de um quinto elemento seja muito possível embora improvável. Essa é uma temática que aparece de forma embrionária em trabalhos anteriores, fotografias, sem que tivesse me apercebido. Penso que o tema, os quatro elementos, servirá de base para criação de muitos outros que ainda virão. Penso que talvez não tenhamos o tempo que gostaríamos para a realização dos trabalhos, mas que de certa forma, a pressão da urgência nos faz parar um momento e fazer, experimentar agora, sem deixar para depois, o que me parece muito positivo.

O processo de produção do vídeo, mesmo que demorado, foi mais tranqüilo do que o processo do planejamento e da escritura. Depois de definido o tema, partir para as filmagens, que foram muitas, com ângulos, cortes, edições e áudios diferentes, até chegar aos dois vídeos finais foram várias horas de filmagem. Escolher e editar, cortar o que não fazia parte da ideia central. Os entrelaçamentos das imagens sobrepostas são propositais, assim como o áudio que mistura o barulho das ondas do mar e do vento com a música instrumental primorosa de Ângelo Primon.

Minha experiência com produção de vídeo é bastante recente, até o início de disciplina era apenas uma apreciadora da arte. Amo cinema e fotografia e acredito que essa disciplina trouxe muitas experiências novas que transformaram a forma com que verei cinema e vídeo daqui para frente. Uma coisa é assistir uma produção, outra bastante diferente é fazer essa produção. Ganhamos muito com essa disciplina. Hoje, compreendo melhor por que há tantas obras em vídeo nas Bienais, principalmente as do Mercosul. É um campo fascinante. Possui um amplo raio de ação, que nos envolve de forma tão intensa, através da experimentação, que nos leva a perceber de outra maneira tudo que nos cerca.

Versão final do vídeo “Os Quatro Elementos”:

http://www.youtube.com/watch?v=ZRsb-VkeNco