Caixa de Pandora

terça-feira, 21 de junho de 2011

História e Memória 02 - Proposta Triangular


História e Memória 2 – Proposta Triangular
(palestra com Ana Mae- UFRGS- 2011)

Sônia Maris Rittmann
Polo Poa 1 UFRGS

Para podermos entender melhor o que de positivo e negativo gerou a Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa, julgo ser necessário entendermos o contexto histórico e social vivido desde o final dos anos 60 no Brasil. Lembremos que o Brasil vinha de uma ditadura militar que deixou marcas profundas na sociedade e, não poderia ser diferente, na educação. Direitos civis e políticos foram cassados. A liberdade de expressão e de ação estava cerceada. Dentro e fora da escola havia um incessante patrulhamento ideológico que fazia com que muitos professores ficassem receosos de propor qualquer coisa que fugisse ao “padrão” do período. Embora as aulas de Artes tivessem se tornado obrigatórias, em 1971, com a LDB 5692, muitas dessas aulas de arte, nessa época, acabaram virando meros espaços que se prestavam a produzir decorações alusivas às datas comemorativas, em geral de caráter cívico ou religioso, impregnados de imagens estereotipadas que pouco contribuíam para qualquer desenvolvimento estético dos estudantes.

Somente a partir dos anos 80, com a perspectiva de novos ventos democráticos no horizonte, a partir da abertura política, com a Semana da Arte e Ensino, em um encontro com mais de 3000 professores houve uma mobilização de forma organizada que faria o enfrentamento das questões políticas da Arte/Educação, que gerou a criação da Associação de Arte Educadores de São Paulo. Um aspecto bastante positivo foi que a partir desse momento, com o fortalecimentos dos professores de arte, muitos cursos de pós-graduação foram criados, linhas de pesquisa abertas, congressos e festivais realizados, com as mais diversas linhas de pesquisa e ação. Muitas delas com base na Proposta Triangular de Ana Mae.

“A Proposta Triangular foi sistematizada a partir das condições estéticas e culturais da pós-modernidade. A Pós-Modernidade em Arte/Educação caracterizou-se pela entrada da imagem, sua decodificação e interpretações na sala de aula junto com a já conquistada expressividade.”

Algumas diferenças e semelhanças de abordagem são percebidas entre o Critical Studies, manifestação pós-moderna inglesa no Ensino da Arte; o DBAE – que era baseado nas disciplinas: Estética-História-Crítica e no fazer artístico, nos EUA; e a Proposta Triangular, manifestação pós-moderna brasileira – embasada nas ações: fazer-ler-contextualizar. Pode-se dizer que a semelhança entre as propostas seja reflexo dos conceitos pós-modernos de Arte e Educação. Uma das diferenças ficaria por conta da “ideia antropofágica” que devora o que é estrangeiro, transformando em algo diferente, brasileiro.

Acredito que o fato de a Proposta Triangular vir sendo re-sistematizada constantemente pelos professores seja um ponto positivo da proposta por que a torna dinâmica e faz com que a mesma não se transforme em “receita de bolo”, mas sim que a mesma seja sempre considerada a partir da realidade de cada grupo, cada região, cada faixa etária, como possibilidade de expansão e não como “regra” a ser seguida.

Não quero dizer com isso que não haja problemas nessa flexibilização da Proposta. Com certeza isso pode dar margem a interpretações errôneas que nada contribuem para o desenvolvimento estético. A própria autora aponta excessos nos enfoques estéticos e metodológicos na questão dos modos de leitura. Porém, hoje, percebe-se que “o exercício da escolha e a qualidade da análise na recepção das obras são mais importantes para desenvolver a capacidade de atribuição de significados do que os métodos de leitura”.

Um outro fator que considero muito positivo na Proposta Triangular é o conceito de educação inclusiva, que surgiu nos cursos do MAC, no Projeto de Amanda Tojal, e que permite que arte seja realmente democrática e acessível a todos, independente de sua condição física.

Um aspecto que considero bastante negativo foi a desconsideração, em 1997, na construção dos PCNs, da Proposta Triangular. Ignorou-se também a contribuição dos trabalhos de “revolução curricular desenvolvido por Paulo Freire” enquanto secretário da educação em São Paulo. Nas palavras de Ana Mae, “desistoricizam nossa experiência educacional” ao deixar a cargo de um educador espanhol a responsabilidade de criação dos PCNs.

Como se isso não bastasse, a fim de se fazer entender, o MEC cria uma “cartilha” designada Parâmetros em Ação, que tem a intenção de explicar os PCNs, onde aparecem até mesmo o tempo que devemos dispor para apreciar determinada obra de arte. “Um autêntico exemplo da educação bancária que Paulo Freire tanto rejeitou”.

Penso que entre os méritos da Proposta Triangular, destaco a questão da apreciação crítica das imagens, com o estabelecimento das relações sociais e culturais (contextualização) de forma integrada: leitura enquanto ampliação do olhar e construção de novos significados a partir do que se vê, se analisa, se interpreta; desenvolvendo e ampliando o pensamento visual a partir da leitura.

Referências Bibliográficas:

http://moodle.regesd.tche.br/mod/resource/view.php?id=14686

http://pt.wikipedia.org/wiki/Abertura_pol%C3%ADtica


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