Caixa de Pandora

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Leões e Cordeiros


O filme “Leões e cordeiros”, ao tratar de questões éticas envolvidas na guerra do Oriente Médio, fez muito mais do que propaganda do sistema de governo estadunidense, produziu um belo debate sobre as dicotomias implicadas nas três grandes forças de formação de opinião: a Imprensa, o Governo e a Escola (a universidade).

O primeiro núcleo, para mim, o mais interessante apresenta a ambição desmedida de um político em ascensão, que não vacila um segundo em colocar em risco vidas humanas para atingir seu propósito maior: vencer os “inimigos”. Representante do governo Bush, defende os ideais desse governo até as últimas conseqüências.

Ainda nesse núcleo temos uma jornalista veterana com crise de consciência, que já fez parte da propaganda governista e que, somente agora, compreende a trama de poder/corrupção, em que se meteu. Belíssimo embate entre a questão ética e a questão de sobrevivência (desemprego). Até que ponto vai minha responsabilidade com a verdade dos fatos? Pelo visto até chegar a conta do aluguel ou da hipoteca ou dos remédios da mãe doente. Ao que parece, todos temos nosso preço.

No segundo núcleo temos um professor universitário idealista que tenta influenciar seus jovens alunos a utilizar melhor seus talentos na construção de um país melhor. Influência essa que nem sempre é bem compreendida e que acaba trazendo muita tristeza para os envolvidos.

Dois dos seus alunos numa outra forma de idealismo (inconseqüente eu diria) se alistam no exército acreditando que assim estariam contribuindo para a construção de uma nova consciência, mais patriótica. São os legítimos jovens representantes do povo pobre, um negro e outro mexicano, sem condições de cursar uma boa universidade por falta de dinheiro, que buscam melhorar seu país através da participação em uma guerra sem volta e ganhar uma bolsa de estudos com essa participação. Foram enganados? Foram usados como isca. O que eles ganharam? Uma “bela lápide” e uma bandeira em cima de seu caixão.

Um terceiro aluno, decepcionado com o sistema educacional, discute com o professor questões que ligam as três histórias: a corrupção/poder, a guerra, o status quo, a educação... Ele é a representação do indivíduo que tenta ser dono de seu próprio destino, que conduz sua vida a partir do que ele vê e sente. Que conhece parte da história de seu país e que questiona os valores “herdados”. É um representante legítimo dessa nova geração, aparentemente mais preocupada com sua satisfação imediata, que apesar de inteligente e com potencial para realizar qualquer coisa que desejasse, não quer perder seu tempo com nada que seja sua própria vida.

É uma guerra de gigantes. Diria que não há inocentes nessa história, todos temos nossa parcela de “culpa” nessa engrenagem que toca o mundo. Por um lado pensamos estar fazendo a nossa parte ao trabalhar com educação, por outro poderíamos nos perguntar: sim, mas como fazemos isso? De que maneira estamos de fato contribuindo para a tão almejada sociedade mais justa e igualitária para todos? Quanto estamos desfazendo os preconceitos e estereótipos? Quanto discutimos(entendemos) sobre questões políticas com nossos alunos ou mesmo com nossos colegas? Estamos preparados para fazer escolhas éticas e responsáveis por nós mesmos e pelos outros? Julgar é fácil. Fico pensando no título do filme que assisti e a explicação do professor(do filme) sobre isso me parece insuficiente, não consigo me livrar da idéia de que todos temos dentro de nós um pouco dos dois: “leões e cordeiros”, acionados em diferentes momentos de nossa vida, mas estão lá, prontos para sair. Que medo!

Entre os muros da Escola


Assisti ao filme “Entre os muros da escola” na minha própria escola o que por si só já seria uma experiência interessante. O mais curioso dessa pequena história é que estávamos em uma jornada pedagógica de rotina, em que as atividades deveriam ser basicamente de refletir sobre nossas práticas educativas. Pode parecer inacreditável o que vou dizer, mas, houve uma certa reação negativa ao filme. Muitos colegas não entenderam e até questionaram o porquê e de estarmos assistindo aquele filme e não algum outro “mais divertido”. A certa altura achei que alguém iria sugerir que discutíssemos o “preço do cafezinho” ou algo parecido.


Esse filme, apesar de não ser um documentário, tem uma linguagem própria de um documentário. Os personagens são professores, alunos e pais de verdade, interpretando papéis que poderiam ser os seus próprios. Claro que havia um roteiro a seguir, mas o diretor do filme deu uma certa liberdade para o improviso nas falas dos personagens. . A própria câmera se move como nos documentários, basta observar os movimentos que são meio inconstantes e interrompidos, com ângulos “estranhos”. Isso criou um filme bem mais realista do que estamos acostumados a ver.


O professor do filme é um professor de Língua e Literatura. Ele trabalha essas questões através da leitura do “Diário de Anne Frank” de forma a fazer com que o aluno entenda o uso da língua como expressão própria, legítima dentro de um país (França) composto por imigrantes de várias partes do planeta, que sofrem com a distância de suas pátrias, com as diferenças lingüísticas e culturais. A outra abordagem que ele faz, também dentro dessa questão da valorização da língua e da identidade, é o auto-retrato. Com essa técnica, oriunda das artes plásticas, o professor tenta regatar a auto-estima de seus alunos, tão massacrados social e culturalmente. Lembrem que a classe é formada basicamente por filhos de imigrantes árabes, chineses e africanos. Tentando fugir dos “achismos”, todo professor sabe que conhecer seu aluno e o meio em que ele vive, seu contexto, é o caminho mais fácil para que o aprendizado se desenvolva. Penso que foi isso que ele tentou fazer.

A discussão sobre as punições que deveriam ser aplicadas aos alunos “infratores” é sensacional. O professor, defensor da democracia e da liberdade de expressão de seus alunos, questiona tais punições e elas simplesmente não são alteradas. Há uma franca aceitação da manutenção das punições, por parte dos professores, é claro, sem que com isso haja de fato uma melhoria no comportamento dos alunos. Muito pelo contrário, quanto mais severas são as punições mais eles reagem a elas. Bom começo para uma bela discussão: Todo esse autoritarismo é mesmo necessário? Punições são necessárias? Punições levam a algum lugar? Não haveria outras formas de conseguir um comportamento adequado dos alunos?

Os limites simplesmente já não existem. Tanto os alunos como o professor ultrapassaram esse limite faz tempo. Há uma perda de controle generalizada. A tentativa de diálogo proposta pelo professor dá lugar a um bate-boca desrespeitoso que não contribui para a melhoria do relacionamento professor-aluno. Quantos de nós já passamos por semelhante situação: se diz uma coisa e outra é entendida? Não há como consertar esse tipo de coisa. O prejuízo é grande para todos os envolvidos.

Penso que enquanto não houver uma mudança significativa na sociedade, e dentro de cada um de nós, estaremos dando “muros em ponta de faca”. A sociedade, que também somos nós, já decidiu quais são as suas prioridades e nós não estamos nos encaixando nelas. A educação, embora seja almejada por todos e até enaltecida em belos discursos, não é prioridade de fato para boa parte da sociedade. Há um pensamento, quase que generalizado, de que devemos adquirir condições mínimas de sobrevivência, e se a educação formal contribui para isso ela é incluída, caso contrário é a primeira a ser descartada. Supérfluo. Luxo.

O conhecimento por si só já não interessa. Interessam os resultados. É o mundo globalizado. Mercantilizado. Tudo é transformado em produto. Tudo pode ser comprado. Só a nota interessa, o aprendizado pouco importa. Vemos isso a cada reunião de pais. Eles não estão interessados em saber o que seu filho aprendeu, eles querem saber se com “aquela nota” seu filho vai passar de ano. Triste, porém real. Um filme realizado do outro lado do planeta, em um país, dito de primeiro mundo, retratando alguns problemas tão iguais aos nossos. O que aprendemos com isso? Primeiro que não estamos sós, ou melhor, estamos sós em nossa luta, mas não somos os únicos lutando. Estranho isso. Pois é exatamente isso. O sistema engole o indivíduo, mas mesmo assim ele não deixa de lutar. Talvez haja sim uma pontinha de esperança. Que há uma revolução silenciosa que passa mais pela atuação individual de uns poucos professores que insistem em não desistir e, que apesar de tudo o que passam, não perderam sua humanidade, sua capacidade de errar e tentar novamente até acertar. E, contrariando tudo que os cerca, ainda acreditam na educação.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Aula Presencial

Encontro Presencial do dia 18 de julho de 2009

Tudo bem que o mundo virtual facilite a vida de todos nós e tenha inúmeras vantagens.
Penso que de outra forma talvez não fosse possível fazer, hoje, o curso de Artes Visuais.
Porém, não posso deixar de registrar o belo momento que tive na tarde de sábado no Atelier.
Colegas de várias regiões do estado fizeram de tudo para estar no Campus da UFRGS para a aula presencial de Fundamentos da Linguagem Visual. Foi um belíssimo encontro. Foi o espaço das trocas, do conhecimento, de uma aproximação real.
Colegas com as quais realizamos várias atividades de forma on-line, tiramos dúvidas nas madrugadas de trabalho árduo, de conversas pelo MSN, nas horas de dúvidas e de partilhas de saberes... De repente se encontram e se reconhecem. Foi muito bacana.
Penso que teremos outras oportunidades ao longo dessa jornada. Apenas queria deixar essa primeira impressão, esse primeiro sentimento de pertencimento ao grupo.
Faltou tempo para falar com todas as colegas...
Quero registrar apenas algumas colegas que partilharam desse momento mágico: Robianca, Meire, Dinha, André Leão, Tânia e Sandra, Bete (PET), Eloisa, Claudia Faccini, Luciane, Rossele, Leila, Andréa (e seus três filhotes lindos), Eliana, Maria da Graça , Roberto, Sol, Juliana e Val.... Ufa! Espero não ter esquecido de nenhuma colega.
As queridas tutoras Jaque, Luciane e Lisiane, que nos receberam de forma tão carinhosa.
As professoras Betina e Umbelina sempre tão atenciosas, mesmo com tantos alunos e tantas dúvidas a sanar.
As tutoras Claudia e Lu pelas avaliações e orientações e dicas para que melhoremos nosso olhar sobre o mundo e conseqüentemente melhoremos nossos desenhos.
Peço desculpas se esqueci de mencionar o nome de algum colega com quem tenha conversado... Mas foram tantos que ficou difícil gravar o nome de todos. Algum nome pode ter escapado.
Foi realmente muito proveitosa essa aula.
Esse encontro transformou uma tarde fria de sábado em um dia muito caloroso.
Abraços a todo(a)s
Sônia Maris

Resgatando a visão

Desenho cego


Ao reler a tarefa “Resgatando a visão”, junto com as observações da professora, das tutoras e das colegas percebi que devia refazer a tarefa. Fiz o desenho cego no Art-Pad conforme as orientações, sem olhar para a tela do computador, que fez as vezes do papel. Achei muito interessante o recurso de observar como o desenho se materializa na tela. Fiz várias experiências antes de enviar o trabalho final. Porém não fiz a devida reflexão sobre o processo de produção do desenho cego em relação com a reflexão criativa do “Isso é Arte?”. Faço-a agora.

Penso que por mais que saibamos sobre nossa prática como professores, das mais distintas áreas, sempre podemos aprender mais.E, em se tratando de arte, esse é um mundo inteiramente novo e inexplorado para nós. E, nessa perspectiva, o desenho cego nos proporcionou foi, em parte, isto: a abertura de portas para um mundo novo, o mundo da arte. Ao sermos privados de um de nossos sentidos, ou apenas limitados na medida em que o desenho é todo feito visualizando apenas o objeto e não o suporte em que desenhamos, abrimos outras portas de nossa percepção.


Dá mesma forma que os personagens do livro “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago, ao serem acometidos pela cegueira passam a “ver” suas vidas de outra forma, nós, também, ao sentirmo-nos impossibilitados de olhar para o desenho, mesmo que por um período tão curto, percebemos que podemos fazer uso mais intenso de outros sentidos: o tato ao sentirmos a textura e os limites do papel, da audição ao perceber melhor o som que o lápis faz deslizando na folha de papel, do olfato pelos odores percebidos ao nosso redor. Isso tudo é assustador num primeiro momento mas, aos poucos, deixa-nos uma sensação de prazer indescritível. O medo inicial, assim como o que acometeu o homem no mito da caverna, de Platão, dá lugar ao deslumbramento com a imagem desconhecida que surge do processo. Uma imagem que foge ao esperado. Uma imagem que não corresponde ao que julgávamos ser a representação daquele objeto. Nos primeiros esboços sentimo-nos presas, tensas, travadas mas, com a repetição do exercício, descobrimos que podemos nos soltar e soltar nossa mão, deixando espaço para que nossa criatividade aflore. Assim, aos poucos nossos traços vão se tornando mais leves, nossos rabiscos transformam-se em algo mais próximo de uma representação desestereotipada (acho que tal qual Guimarães Rosa, criei uma nova expressão) do objeto.

Se “isso é arte” ou não é uma questão que dependerá de fatores alheios a nossa vontade. Conforme vimos no material instigante do “Isso é Arte”, <> os limites são muito imprecisos, as técnicas e os suportes variados, os estilos mais ainda. Quem, de fato, sabe dar uma definição de arte? O que consideramos arte depende de muitas variantes: tempo, espaço, especialistas em arte, críticos de arte, do conceito do belo... São tantos os elementos envolvidos que fica difícil chegar a uma definição precisa de arte. Penso que estamos apenas começando a trilhar esse caminho das artes e se não nos livrarmos de nossas pseudocertezas, não conseguiremos aproveitar/desfrutar desse momento maravilhoso. “Aprender a aprender”, estarmos abertos ao novo, dispostos a correr riscos, tentar “ver com outros olhos”, soltar as amarras que nos prendem. Dar uma chance à transformação que nós mesmos tanto desejamos e que nesse primeiro momento nos assusta tanto.


Por fim, deixo um trecho do poeta mexicano Otávio Paz, que foi usado em uma das jornadas pedagógicas que participamos há alguns anos em minha escola. “O homem imanta o mundo... todos os seres e objetos que o rodeiam se impregnam de sentido. Tudo aponta e revela o homem para o próprio homem, e para onde aponta o homem? O homem é temporalidade e mudança.”

sábado, 18 de julho de 2009

A educação no terceiro milênio

Foto de Nuno de Sousa



Vivemos em uma época de profundas transformações que nos obrigam a adotar um outro estilo de vida, novos usos e costumes e de um convívio intenso com as novas tecnologias. Tais tecnologias “subvertem o espaço e o tempo do homem contemporâneo”. Se, por um lado aproxima milhares, talvez milhões, de pessoas por intermédio das facilidades da comunicação via Internet, por outro as isola em sua casas, criando uma imensa comunidade que vive mais o “virtual” do que o “real”.

É nesse contexto que surgem com força total, os meios de comunicação de massa, que cumprem seu papel intensificando a avalanche de informações/produtos disponibilizada a um público/cliente em geral alienado e consumista. Nessa lógica maluca, tudo pode se transformar em produto/espetáculo. Tudo pode ser consumido e descartado, inclusive os relacionamentos. Só o que é novo interessa. Nesse mundo caótico e sem sentido, a lógica da banalização da vida deixa a população perplexa e sem parâmetros que possam ajudar a “pensar, sentir e agir” nessa nova realidade. Palavras como fragmentação, desencanto, pessimismo, perplexidade, desorientação são apenas algumas dentre as muitas que definem o sentimento desse início de século.

Como pensar a educação nesse contexto? Como tornar a educação atraente aos olhos dos nossos alunos ávidos por novidade/tecnologia? Como romper com a cultura dos conteúdos fragmentados em compartimentos separados? Que conteúdos são pertinentes nesse novo contexto? Como globalizar esses conteúdos de forma que eles façam sentido para nossos alunos? Muitas são as perguntas e muitas são as teorias que tentam responder a essas questões... As dúvidas são maiores que as certezas.

E o professor como fica nisso tudo? O professor, da mesma forma que o aluno, é fruto desse mundo fragmentado. Ele também é vítima desse processo. Ele também precisa ser resgatado e valorizado. Ele, mais do que qualquer outro, precisa de tempo para refletir sobre sua condição e a condição do mundo em que vive, para estudar as alternativas possíveis, estudar muito e agir de forma a contribuir de melhor forma possível para a transformação da educação, tão desejada por todos.

Fonte bibliográfica:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2. ed. rev. atual.. São Paulo. Moderna. 1996.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

"Ser professor no contexto atual"

Vivemos na “sociedade do conhecimento”. Isso é público e notório. Porém, o que estamos fazendo para que essa mesma sociedade não nos engula e nos transforme em purê?

Os estudantes não são os mesmos de anos atrás e isso é ótimo. A linguagem não é a mesma. A cultura não é a mesma. A tecnologia não é a mesma. A economia e a política não são mais as mesmas. Tudo evolui e muito rapidamente e nós corremos atrás do prejuízo. Estudamos, lemos, nos informamos, trocamos experiências com profissionais das mais variadas áreas do conhecimento humano... E, mesmo assim, não é o suficiente. A variedade de informações disponíveis a todos nessa sociedade pode nos levar a loucura se não tivermos presente que não somos “dicionários humanos”, não temos necessidade de saber tudo sobre todos os assuntos. Precisamos saber algumas coisas e saber, principalmente, onde buscar aquilo que não sabemos, não apenas para nós mesmos, mas, também, para orientar nossos alunos. Precisamos ter critério, seleção, discernimento na escolhas que fazemos e é para isso devemos estar preparados.
Alguns pensadores, do passado e do presente, ajudam-nos nessa busca com suas idéias inovadoras para as suas respectivas épocas.

Duas das idéias de John Dewey, um dos pensadores da Escola Nova, devem ser consideradas: a primeira é aquela em que ele defende que devemos ter “respeito pelos alunos”. É uma questão de valorizar o pensar do aluno. A segunda, mas não menos importante, é a idéia da “integração entre vida e educação”. Aproximar os problemas cotidianos, as atividades diárias das escolares.

Um grande pensador que nos trouxe o “construtivismo” foi Jean Piaget. Dele, recorto a seguinte idéia: “o aprendizado é construído pelo aluno, ele não é repassado pelo professor”. Essa idéia de que “o conhecimento não se transfere, se constrói” reaparece com força também nas palavras de Paulo Freire. O papel do professor se alterou de forma significativa, passou-se a pensar em um professor como “estimulador” na busca pelo conhecimento.

“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre”. Utilizo esse recorte das palavras de Paulo Freire para falar da importância da “formação continuada” para esse educador. É o que fazemos sempre, mesmo fora das universidades, aprendemos. Sem querer desvalorizar o saber acadêmico, mas boa parte do somos e do fazemos foi aprendido dentro da sala de aula, na interação com nossos alunos. Muitas teorias, construídas para um mundo ideal, foram colocadas de lado ao longo dos anos por não ter nenhum vínculo possível com o mundo real. Esta aí uma boa questão para um próximo debate.

“A crítica ao modo fragmentado como os conteúdos são concebidos nos currículos escolares” é uma das idéias do grande pensador Edgar Morin. Ele defende que a vida não é fragmentada. Defende também por uma unificação dos conteúdos através da contextualização dos mesmos, pois o aluno aprende através das relações que tenta estabelecer. Trata-se de trazer os problemas do mundo cotidiano para dentro do currículo e de fazer uma interligação entre eles.

Dentre as várias idéias defendidas por Philippe Perrenoud quero ressaltar a questão das “competências”. É uma nova forma de ver, pensar e fazer educação. Não é uma fórmula pronta, é um fazer... Um processo que vai depender de muitos dados que deverão necessariamente ser coletados e adaptados a cada situação de aprendizagem, a cada espaço escolar, a cada estudante e a cada professor, a cada novo interesse que surge, aos diferentes grupos de trabalho, as diferentes comunidades onde estivermos inseridos, a questão política local e global, a utilização e disponibilização das novas tecnologias a todos os envolvidos na educação, aos dilemas éticos diários e a nossa formação continuada. É uma questão de “agir” de forma contextualizada, globalizada, integrados com o mundo que nos cerca.

Estamos todos conectados a essa “sociedade do conhecimento”, buscando soluções para uma melhor educação, melhores aulas, melhor compreensão de nossos alunos, melhor entendimento do mundo que nos cerca...Como fazemos isso? Acredito que seja uma questão de adequar afinidades e interesses, nossos e dos alunos. É uma luta diária, um ir e vir constante. É uma relação que se baseia no diálogo, na negociação. Cedemos aqui para conquistarmos lá adiante, não pensem que é fácil. Acredito em uma mudança pessoal, no crescimento, no amadurecimento das idéias, na reflexão constante sobre o que pensamos e fazemos, pensando e agindo de forma ética. E, principalmente, acredito que o valor da educação está em si mesma (conhecimento) e não fora dela (mercado).

domingo, 5 de julho de 2009

Portólio-blog

"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Começo meu texto sobre Portfólio citando dois versos do poeta espanhol Antonio Machado (1875-1939), por entender que estes versos representam a síntese perfeita do que estou sentindo nesse momento “caminhando...”. Momento não apenas do curso de Artes Visuais, momento de vida, em que tudo está em processo de construção, melhor dizendo de desconstrução. Velhos paradigmas sendo quebrados diariamente, velhos estereótipos sendo colocados definitivamente no lixo... É um momento de refletir sobre aquilo que andamos lendo/vendo/ouvindo/sentindo durante nossas diferenciadas trajetórias como professores-alunos e de que forma vamos incorporando tudo isso à nossa prática educacional e a nossa personalidade.
Estamos nos reinventando diariamente e para não perdermos o rumo penso que devemos ter um fio condutor que nos guie durante essa reinvenção. Para que essas experiências não se transformem em um amontoado caótico de saberes desconectados e incoerentes. Fio esse que pode ser melhor entendido a partir da construção do portfólio-blog... Alguns professores já utilizam uma espécie de diário em que registram mais especificamente as questões de aprendizagem de seus alunos. Outros fazem anotações mais esparsas em agendas de maneira muito resumida sobre acertos e erros cometidos durante suas práticas visando uma possível e necessária correção de rumo. Acredito que a maioria dos professores, por razões que não cabe aqui explicitar, não anotam nada. Penso que o Portfólio contribuirá de forma bastante rica para que nós, professores-alunos, possamos organizar de maneira dinâmica essa reflexão crítica, que muitas vezes se perde por falta de organização de nossa parte. Pensamos e falamos muito sobre ensino-aprendizagem no nosso cotidiano escolar, porém, pouco escrevemos sobre essas nossas experiências como educadores-educandos.
Confesso que não só conhecia o portfólio particular ou profissional, que para mim, era uma espécie de pasta em que os profissionais de áreas como publicidade e propaganda, arquitetos, artistas plásticos, produtores teatrais e etc organizavam suas produções para “vender” a algum cliente. Quanto ao blog, também tinha a meu ver, outra utilidade: um diário – uma forma que jornalistas, publicitários, donas de casa, etc... tem de dizer o que pensam a quem interessar possa. É uma forma bastante democrática de divulgar sua produção. Nunca tinha pensado em juntar blog e portfólio em uma única “coisa”. É interessante e ao mesmo tempo assustador... Principalmente pelo caráter expositivo do mesmo. Nas palavras da Profª Drª Umbelina Barreto, citando Jorge Larrosa, o sujeito da experiência em educação é um sujeito ex-posto ao risco daquilo que experimenta. É difícil se expor e, mais difícil ainda, refletir em “voz alta” enquanto construímos essa reflexão. É um aprendizado que valoriza o processo. Incorporamos essas mudanças ao nosso fazer, ao nosso pensar e vamos crescendo com eles. Vamos socializando nossas pequenas descobertas e nossas grandes dúvidas. Num ir e vir constante que pretende juntar a dinâmica do fluxo constante da vida ao nosso fazer pedagógico. Para tentar dar um fecho a esse começo do que me parece vai ser uma grande reflexão gostaria de citar um pequeno trecho de Paulo Freire, grande mestre-educador brasileiro, retirado da Pedagogia do Oprimido “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” Eu acrescento que é isso que dá sabor ao que fazemos.
O texto acima, que pretende ser um começo de uma grande reflexão, que irá permear minha trajetória no curso de artes-visuais, teve como base, além das conversas-discussões, formais e informais com colegas, velhos e novos amigos, tutoras e professora, os textos:

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho. Porto Alegre: ARTMED, 2000.

HYPOLITTO, Dinéia. O uso do portfolio, a reflexão e a avaliação. Disponível em: <
http://br.geocities.com/dineia.hypolitto/arquivos/artigos/291_19.pdf> Acesso em 26 de junho de 2009.

VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. O portfólio no curso de Pedagogia: ampliando o diálogo entre professor e aluno. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/es/v26n90/a13v2690.pdf> Acesso em 26 de junho de 2009.

Portofolio-Investigação Educacional.Disponível em:
http://webfoliando1.blogspot.com/ acesso em 05/07/2009.