Caixa de Pandora

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Resgatando a visão

Desenho cego


Ao reler a tarefa “Resgatando a visão”, junto com as observações da professora, das tutoras e das colegas percebi que devia refazer a tarefa. Fiz o desenho cego no Art-Pad conforme as orientações, sem olhar para a tela do computador, que fez as vezes do papel. Achei muito interessante o recurso de observar como o desenho se materializa na tela. Fiz várias experiências antes de enviar o trabalho final. Porém não fiz a devida reflexão sobre o processo de produção do desenho cego em relação com a reflexão criativa do “Isso é Arte?”. Faço-a agora.

Penso que por mais que saibamos sobre nossa prática como professores, das mais distintas áreas, sempre podemos aprender mais.E, em se tratando de arte, esse é um mundo inteiramente novo e inexplorado para nós. E, nessa perspectiva, o desenho cego nos proporcionou foi, em parte, isto: a abertura de portas para um mundo novo, o mundo da arte. Ao sermos privados de um de nossos sentidos, ou apenas limitados na medida em que o desenho é todo feito visualizando apenas o objeto e não o suporte em que desenhamos, abrimos outras portas de nossa percepção.


Dá mesma forma que os personagens do livro “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago, ao serem acometidos pela cegueira passam a “ver” suas vidas de outra forma, nós, também, ao sentirmo-nos impossibilitados de olhar para o desenho, mesmo que por um período tão curto, percebemos que podemos fazer uso mais intenso de outros sentidos: o tato ao sentirmos a textura e os limites do papel, da audição ao perceber melhor o som que o lápis faz deslizando na folha de papel, do olfato pelos odores percebidos ao nosso redor. Isso tudo é assustador num primeiro momento mas, aos poucos, deixa-nos uma sensação de prazer indescritível. O medo inicial, assim como o que acometeu o homem no mito da caverna, de Platão, dá lugar ao deslumbramento com a imagem desconhecida que surge do processo. Uma imagem que foge ao esperado. Uma imagem que não corresponde ao que julgávamos ser a representação daquele objeto. Nos primeiros esboços sentimo-nos presas, tensas, travadas mas, com a repetição do exercício, descobrimos que podemos nos soltar e soltar nossa mão, deixando espaço para que nossa criatividade aflore. Assim, aos poucos nossos traços vão se tornando mais leves, nossos rabiscos transformam-se em algo mais próximo de uma representação desestereotipada (acho que tal qual Guimarães Rosa, criei uma nova expressão) do objeto.

Se “isso é arte” ou não é uma questão que dependerá de fatores alheios a nossa vontade. Conforme vimos no material instigante do “Isso é Arte”, <> os limites são muito imprecisos, as técnicas e os suportes variados, os estilos mais ainda. Quem, de fato, sabe dar uma definição de arte? O que consideramos arte depende de muitas variantes: tempo, espaço, especialistas em arte, críticos de arte, do conceito do belo... São tantos os elementos envolvidos que fica difícil chegar a uma definição precisa de arte. Penso que estamos apenas começando a trilhar esse caminho das artes e se não nos livrarmos de nossas pseudocertezas, não conseguiremos aproveitar/desfrutar desse momento maravilhoso. “Aprender a aprender”, estarmos abertos ao novo, dispostos a correr riscos, tentar “ver com outros olhos”, soltar as amarras que nos prendem. Dar uma chance à transformação que nós mesmos tanto desejamos e que nesse primeiro momento nos assusta tanto.


Por fim, deixo um trecho do poeta mexicano Otávio Paz, que foi usado em uma das jornadas pedagógicas que participamos há alguns anos em minha escola. “O homem imanta o mundo... todos os seres e objetos que o rodeiam se impregnam de sentido. Tudo aponta e revela o homem para o próprio homem, e para onde aponta o homem? O homem é temporalidade e mudança.”

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