Caixa de Pandora

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Tunel do Tempo: Neoconcretismo - 1959

Manifesto neoconcreto -1959

Museu de Arte Moderna - Rio de Janeiro

Museu de Arte Moderna - RJ - construção em 1954

meus aluns em 1959 em frente à escola, saindo para a exposição

a cidade "maravilhosa"

material audiovisual "moderno"

Acordei bem disposta, moro na capital do país, praticamente em um cartão postal, é domingo e eu não preciso trabalhar, posso descansar e aproveitar a vida. Sem alunos, sem obrigações, sem trabalho da faculdade para fazer... delícia! Deveria tomar um café, mas como sou gaúcha, tomei foi um chimarrão bem amargo e depois de ler o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, escutando a Rádio Nacional, um texto me chamou a atenção: era o Manifesto Neoconcreto, de Ferreira Gullar. Já apreciava as poesias e textos de escritor então resolvi ir à 1ª Exposição de Arte Neoconcreta que está acontecendo no Museu de Arte Moderna do Rio de janeiro. Peguei um ônibus e fui. Passei o dia no Museu, circulando entre as obras, aproveitando o espaço. Voltei para casa com a cabeça fervilhando de ideias e em como eu poderia retomar a exposição com meus alunos.

Penso que antes de visitar novamente a exposição, desta vez com os alunos, deveríamos retomar alguns conceitos que julgo importantes para a compreensão do Movimento Neoconcreto, que poderia seguir alguns dos pontos elencados abaixo:

a) Um breve panorama histórico no Brasil e no mundo: o contexto das guerras, das mudanças políticas no Brasil (populismo) e no mundo. Estamos vivendo o final dos anos 50, período marcado por grandes avanços científicos, tecnológicos e de mudanças culturais e comportamentais. A década em que começaram as transmissões de televisão (lançada em 1950), embora poucos possuíssem, e a maioria se utilizasse do rádio para saber das novidades. Em 1958, o Brasil ganhou sua primeira Copa do Mundo de Futebol, há uma euforia no ar. Estamos em 1959, no Distrito Federal, no olho do furacão; Getúlio Vargas se “suicidou” há poucos anos(1954), foi uma comoção nacional; Juscelino Kubitschek, eleito em 1955, com seu projeto “cinquenta anos em cinco” está construindo Brasília, moderna ao extremo, com projeto de Oscar Niemmayer. No plano internacional, os conflitos entre os blocos capitalista e socialista ganham força, estamos em plena Guerra Fria. Fidel Castro, através da Revolução Cubana, assume a presidência de Cuba. No outro lado do planeta, a guerra do Vietnã se inicia. Não dá para ignorar tais fatos.

b) Os movimentos antecessores que marcaram rupturas: do modernismo para o concretismo, por exemplo. “A partir de uma perspectiva crítica e formalista, tentando radicalizar uma visão geométrica e racional das artes e, assim, refletir sobre o papel das artes numa sociedade marcada pêlos meios de comunicação de massa e pela indústria, consagrou-se em 1956, uma proposta estética radical: o concretismo”; Inicialmente, o movimento concretista se articulou nas artes plásticas, com o Grupo Ruptura, de São Paulo, consagrando-se pouco depois a partir das experiências poéticas do Grupo Noigrandes: Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari, que também haviam participado do Grupo Ruptura. Nessa nova proposta, a palavra, como unidade básica da comunicação linguística e poética, passava a ser questionada e, na perspectiva do movimento, deveria ser fragmentada, decomposta em signos e colocada numa perspectiva visual e concreta. Por outro lado, a expressão nas várias artes - poesia, artes plásticas e, mais tarde, na música - deveria buscar a abstração racionalista, geométrica, antiintuitiva e incorporar novas técnicas e materiais - gráficos, sonoros, imagéticos - proporcionados pela sociedade industrial e pela nova linguagem da publicidade, com seus cartazes e efeitos visuais inovadores;

c) Um breve panorama cultural: Da Bauhaus à Escola da Forma em Ulm...

d) A questão da Imprensa: a importante mudança gráfica decorrente dos movimentos concretos e neoconcreto; mostrar aos alunos a disposição gráfica predominante nos jornais da época e a mudança introduzida pelas ideias que surgiram com o movemento Neoconcreto ( a questão dos espaços em branco, da disposição gráfica dos elementos, do planejamento da página...)

e) A questão da mudança na linguagem: da música estrangeira (o surgimento do rock com Elvis Presley) em contraponto com a nacional, Tom Jobim, Vinicios de Moraes e João Gilberto que inova com a criação da Bossa Nova...da poesia... do cinema que se torna muito popular (as chanchadas)... o teatro de vanguarda que busca o oposto... e das respectivas relações estabelecidas entre as diferentes artes; “Uma arte que não tenha linguagem não pode existir” Ferreira Gullar... “uma arte tem que ter o máximo de significado num mínimo de forma, nem mais, nem menos, precisão” FG...

f) As mudanças nas artes plásticas e os artistas que fizeram parte do movimento; os grupos que antecederam o manifesto e a sua importante participação: Grupo Ruptura e Grupo Frente.... “o mundo das artes plásticas, mesmo circunscrito a um pequeno círculo social, foi fundamental para consolidar um outro fenómeno da cultura brasileira moderna: a tendência formalista da vanguarda, em muitos casos próxima à abstração pura, que será vista como sinónimo de sofisticação e modernidade por amplos segmentos da elite, cujo impacto inicial se viu nas áreas de arquitetura, escultura e pintura. Destacavam-se as formas geométricas, consideradas frias e racionalistas, sem ornamentos decorativos, exageros ou elementos sem funcionalidade no conjunto da obra; Enquanto o MASP expõe a arte dos grandes gênios da pintura, Renoir, Degas, Van Gogh, o MAM passou a se dedicar às vanguardas da arte contemporânea:

Além da apreciação dos slides com imagens das obras dos grupos, os alunos podem realizar uma pesquisa sobre os Grupos Frente e Ruptura poderia ser feita in loco... dividindo a turma em grupos e enviando-os até os espaços em que cada um dos grupos atua ou está em exposição, para a referida pesquisa. O Grupo Frente foi liderado por Ivan Serpa e é associado ao movimento construtivo no Brasil. A primeira exposição do grupo ocorreu em 1954, no Rio de Janeiro, e dela participaram, entre outros, Aluísio Carvão, Décio Vieira, Lygia Clark e Lygia Pape . Numa segunda exposição do grupo, em 1955, participam artistas que se tornaram referência para a arte brasileira construtiva, como Abraham Palatnik, Franz Weissman e Hélio Oiticica. O grupo Ruptura: A arte concreta no Brasil tem início oficial, por assim dizer, com a exposição Ruptura, aberta em 9 de dezembro de 1952, no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP. Dela participaram sete artistas que residiam em São Paulo e tiveram em Waldemar Cordeiro uma espécie de líder. Além de Cordeiro, integraram a mostra os brasileiros Geraldo de Barros e Luiz Sacilotto ; Anatol Wladyslaw e Leopoldo Haar , ambos de origem polonesa; Lothar Charoux, austríaco; e o húngaro Kazmer Féjer.

g) A questão filosófica, Merleau Ponty (fenomenologia), que está implícita no Manifesto Neoconcreto;

h) Os novos espaços expositivos que se criaram na década são bastante relevantes e devem fazer parte da aula: em 1951, a criação da 1ª Bienal de Arte de São Paulo, no parque Trianon, por exemplo;

i) A disputa entre Rio de Janeiro e São Paulo: disputa que não se restringe às questões políticas, e que chega a esfera cultural, afetando a maneira como os intelectuais e o povo se vêm; o caipira e o intelectual, o ingênuo e o cafajeste, estereótipos construídos e divulgados com intencionalidade...

j) O comportamento dos jovens é ditado pelo que eles “consomem” no cinema e nas revistas da época: a camiseta branca de Marlon Brando vira “uniforme e símbolo da juventude; No cinema James Dean vira culto com “Juventude Transviada”;

k) Leitura e exploração do Manifesto Neoconcreto: penso que a leitura do manifesto, depois de exploradas algumas das questões acima, fará mais sentido se for acompanhada das imagens (slides), para que se possa ir pontuando as características, diferenças e semelhanças, inovações...

Alguns pontos ainda precisam ser pensados melhor e organizados de forma que tenhamos condições de preparar melhor a aula. Acredito que o ideal seja desenvolver esses conceitos através de diálogos que teriam como ponto de partida imagens, fotografias formatadas em slides (o Colégio Theodoro da Fonseca, famoso por sua arquitetura do início do século XX, conta com um auditório amplo e possui um “projetor de slides” além de um belo e um novíssimo “toca-discos” para uso dos professores ) ; músicas (no Brasil vivemos o início da bossa nova, professora “a frente do seu tempo” possui e o lançamento em primeiríssima mão do LP de João Gillberto “Chega de Saudade”, enquanto no mundo a explosão do rock é o que há de mais moderno) e alguns textos (poemas neoconcretos) que serão transcritos no quadro negro para que os estudantes, meninas e meninos, possam apreciar.

Penso que não seria necessariamente preciso seguir todo o roteiro, mas que as questões pudessem ter um significado para que se pudessem estabelecer algumas relações entre o contexto histórico-cultural que estamos vivendo e as produções artísticas. Se os alunos pudessem estar familiarizados com esse panorama antes da visitação creio que a mesma seria muito mais proveitosa. Durante e após a exposição poderíamos tentar identificar as características que aprendemos no Manifesto Neoconcretisma e tentar relacionar com as obras dos artistas que estão expostas; pensar em qual seria o cerne de cada obra, o que elas teriam de comum, o que teriam de diferente entre elas e as obras concretistas... Penso que poderá ser um trabalho bastante interessante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário