Caixa de Pandora

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Janelas (Im)Possíveis



“Janelas (Im)Possíveis”

Sônia Maris Rittmann

O artigo Janela Baça: a Bienal de São Paulo e seu formato recente¹, escrito pelo professor Roberto Luís Torres Conduru ² em 1998, aponta as transformações ocorridas na Bienal desde sua criação nos anos 50, focando, principalmente, na 22ª e 23ª edições, dos anos de 1994 e 1996, respectivamente.

De forma bastante didática, o artigo traça um breve panorama das Bienais, começando pela sua criação, nos anos 50, como uma mostra internacional de arte contemporânea; suas edições mais significativas; os artistas internacionais e nacionais que fizeram parte das mostras, integrando o local ao universal, a Bienal como a “grande janela da arte no Brasil”. Passando pelos anos 60, a crise política e social, tanto local, como mundial, reflete também nas artes e, conseqüentemente, afeta as Bienais do período de forma drástica, com vários países recusando-se a participar da Bienal de 1969. Da crise surgem as inovações, a Bienal a partir dos anos 80, já com a figura do curador, inspirada na Documenta da Kassel³, abandona, temporariamente, o caráter competitivo, e passa a se organizar pela “analogia de linguagens” e pautada por temas. No início dos anos 90, com inscrições universais, a 21ªBienal¹, considerada a mais polêmica de todas e que protagonizou uma de suas piores crises.

A partir desse momento, o artigo se debruça mais detidamente nas transformações ocorridas a partir da 22ª e 23ª Bienal¹: o novo formato tripartite, com a limitação das Representações Nacionais a um único artista por país, a re-nomeação do Espaço Museológico como Núcleo Histórico, e a criação da Universalis, uma mostra organizada por curadores tendo como base regiões ao invés de países. É a partir da análise mais detalhada dessas duas Bienais que o autor tece seus comentários mais contundentes. Ao mesmo tempo em que ele aponta as transformações necessárias ao novo formato da Bienal, enquanto instituição, administrada por uma Fundação, e enquanto exposição, tecendo uma crítica feroz ao pouco efeito que essas mudanças trouxeram a efetiva consolidação da Bienal como espaço de discussão sobre a criação artística e a linguagem da arte contemporânea. A crítica do autor parte da grandiosidade da bienal como forma de espetáculo de massa, passando pela diversidade de públicos que pretende atender, pelas questões políticas na “escolha” dos artistas que participam das mostras, pela configuração em espaços geográficos sem a devida reflexão sobre a “arte como instância da representação geopolítica”, pelos números astronômicos (público, artistas, obras, curadores, patrocinadores, cifras, público), pelos temas que mais confundem do que auxiliam, do “palavrório” desmedido.

Como se pode perceber, as críticas são muitas, porém não podemos deixar de elencar as contribuições que o artigo nos traz. Ao apontar de forma tão eloquente os problemas enfrentados pelas Bienais de São Paulo o artigo levanta a questão do seu gigantismo, incentivado pelo Estado, como um dos principais obstáculos a sua fruição. Ao defender “Qualidade, portanto, ao invés de quantidade” leva em conta que se por um lado as Bienais democratizaram o acesso do público leigo à arte contemporânea, “ampliando o horizonte cultural das pessoas”, tirando a arte dos museus, por outro fez com que esse mesmo público muitas vezes se perca em sua imensidão e não consiga estabelecer as relações entre as obras, se houver. Além disso, essa proporção homérica deu à Bienal uma visibilidade no panorama artístico mundial.

O autor ao final do texto traz alguns questionamentos que julgo serem de extrema importância, pois apontam alguns caminhos possíveis, que poderiam ou não ser aproveitados nas Bienais subsequentes. Cito como exemplo a questão educativa, de formação de público, que é hoje uma das grandes preocupações da Fundação Bienal. Penso que o artigo serve como porta de entrada para a reflexão não apenas sobre a Bienal, mas sobre arte contemporânea, relações de poder, política e democratização do conhecimento. Cabendo sua re-leitura aprofundada e com, talvez, outros suportes.

Espetáculo ou não, o fato é que sem as Bienais de São Paulo (e acrescentaria aqui por minha conta as do Mercosul) a arte ainda estaria enclausurada dentro dos Museus, Salões ou em Mostras Particulares, com pouca visibilidade, quase sempre restrita aos cânones da arte, deixando de lado a produção de artistas contemporâneos, menos visíveis no cenário mercadológico das artes plásticas. Outra questão que deve ser levada em conta é que muitos artistas que são trazidos pelas Bienais, o “joio no meio do trigo”, talvez não estivessem ao acesso do grande público de outra forma. Triste realidade de nosso país, poucas pessoas frequentam os Museus e Pinacotecas. Diria que o espetáculo servindo a divulgação da arte, qualquer arte, cabendo a nós, professores de arte, proporcionar que esse espetáculo deixe de ser midiático e seja transformado em momento de fruição, de crítica e de discussão sobre arte, relações de poder e geopolítica. Embaçada ou não é uma janela, uma janela (im)possível, talvez.

Referências Bibliográficas:

¹A janela baça: A Bienal de São Paulo e seu formato recente. Revista Novos Estudos. Edição 52, ano 1998. Disponível em http://novosestudos.uol.com.br/indice/indice.asp?idEdicao=86#835

¹Bienal de São Paulo. Disponível em

http://entretenimento.uol.com.br/arte/bienal/ Acesso em 10/07/2011.

³Documenta de Kassel. Disponível em

http://www.dw-world.de/dw/article/0,,571335,00.html Acesso em 10/07/2011.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Documenta Acesso em 10/07/2011.

http://www.dw-world.de/dw/article/0,,2398013,00.html Acesso em 10/07/2011.

²Roberto Luis Torres Conduru. Disponível em

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do;jsessionid=6DAEF8D2DBC8BB63C2281EDB40D8AB13.node4 Acesso em 10/07/2011.

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