Caixa de Pandora

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Arte Contemporânea: novas linguagens - reflexões



Arte Contemporânea: novas linguagens

Sônia Maris Rittmann

“Desconfia daqueles que te ensinam
Lista de nomes, fórmulas e datas e que
Sempre repetem modelos de cultura
Que são a triste herança que aborrece.

NÃO APRENDE APENAS COISAS
Pense nelas
E constrói sob teu desejo
E imagens que rompam a barreira que asseguram
Existir entre a realidade e a utopia:

Vive num mundo côncavo e oco,
Imagine como seria uma selva queimada,
Detém o movimento das ondas nas arrebentações,
Tinge o mar de vermelho,
Segue algumas paralelas até que te devolvam
Ao ponto de partida,
Coloque o horizonte na vertical,
Faz uivar um deserto,
Familiariza-te com a loucura.”

 José Agustín Goytisolo

Trabalhar com educação é estar sempre se reinventando e aprendendo coisas novas. Com a prática de estágio II não foi diferente. Nossa experiência anterior é extremamente válida na hora de planejar e organizar as seqüências didáticas, mas de pouco valem se na hora de por em prática não conseguimos perceber se as escolhas feitas estão funcionando para aquela turma em especial.

Trabalhar com artes visuais, muito especificamente, arte contemporânea foi uma experiência bastante especial. Primeiramente, pelo fato de que esse é um conteúdo que a professora de artes da escola dificilmente conseguia trabalhar, tanto por questões de currículo, como por questões de falta de entendimento de sua importância. Segundo, por que os alunos, nessa faixa etária - imersos em no mundo contemporâneo, sentindo-se muitas vezes incomunicáveis, em que a velocidade e o individualismo é quem manda, onde o mundo a sua volta causa estranhamento e espanto - estão mais do que prontos para enfrentar esse desafio.

Provocar os alunos a pensar e produzir arte como forma de desenvolver a sensibilidade e a expressão artística, fazendo com que eles pudessem experimentar os diferentes processos de criação no qual a ideia, a ação e o projeto é muito mais significativo do que o resultado final; levá-los a perceber que qualquer material pode servir para criar arte, que não precisamos de materiais caros e inacessíveis para expressarmos nossa criatividade; perceber como a arte pode estar conectada com a vida cotidiana de forma mais presente do que imaginamos.

A experiência proporcionada de leitura de imagens, pesquisa, apreciação, relacionando as obras com a vida cotidiana a partir das novas linguagens da arte contemporânea, do trabalhar coletivamente para um mesmo fim, das produções textuais que tinham por fim levá-los a pensar sobre a arte contemporânea possibilitou que os alunos se expressassem de forma mais livre e pudessem ver com outros olhos a arte contemporânea, tantas vezes incompreendida por falta de proximidade e desconhecimento de seus signos.  Muito mais do que adquirir informação, os alunos tiveram uma experiência ímpar para desenvolver sua percepção, observação, imaginação e sensibilidade para a arte contemporânea, através de exercícios de fruição, pesquisa e prática de forma contextualizada.

Arte Contemporânea: novas linguagens - seleção de imagens

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Modos de ver:diálogos com Berger 2


cena do filme Avatar



"Adultos e crianças possuem, às vezes, painéis nos quartos ou salas, em que pregam pedaços de papel: cartas, instantâneos fotográficos, reproduções de pinturas, recortes de jornal, desenhos originais, cartões-postais. Em cada painel, todas as imagens pertencem a uma mesma linguagem e todas têm ali mais ou menos o mesmo grau de igualdade, por terem sido escolhidas de uma maneira extremamente pessoal, a fim de combinar com a experiência vivida pelo habitante do quarto, ou expressá-la. Pela lógica, esses painéis deveriam substituir museus" (BERGER, 1999, p.32).


As transformações trazidas pelo capitalismo para a arte trazem impactos em seus processos desde a concepção até a recepção pelo público final. A arte, que antigamente destinava-se a uma elite intelectual, a partir das novas técnicas de produção (fotografia, cinema, reproduções...), passou a estar disponível para a massa, a qualquer tempo e em qualquer lugar, sendo deslocada de seu lugar original. Assim, a obra de arte, em sua nova formatação, passa a ter uma nova lógica de concepção. Antes dotada de unicidade e hiper-valorização passa a ter um valor “mistificado”. Essa transformação gera impactos na percepção e no comportamento dos grupos que as produzem e recebem.
São as novas técnicas de reprodução que deslocam a arte de seus ambientes originais, tornando-as acessíveis a todos em qualquer espaço e a qualquer momento por um número ilimitado de pessoas. A igualdade social é possível pela disseminação da informação e a arte e a educação atuam como transformadores sociais.
O mundo de imagens que alguns adultos e crianças trazem em seus paineis, formam um universo pessoal que traduz não apenas os gostos pessoais, mas também todo um contexto de vida e experiências que nos dizem muito sobre os seus proprietários. Penso em Bispo do Rosário e suas coleções. Cada imagem, ou objeto, servindo como forma de ordenar seu universo. Penso em Amélia Toledo com suas coleções de pedras.
Arte, vida, coleção, memória, tempo...Cada objeto-imagem coletado, selecionado, retirado de seu espaço original e (re)significado na constituição de seus paineis.
Penso ainda nos murais-virtuais que muitos jovens, e adultos também, produzem em suas redes sociais (orkut, facbook, blogs, etc.). Imagens de diferentes procedências e que compoem um mosaico, fragmentado, coleções de tudo um pouco, cheias de significação para seus colecionadores...Outros tempos, outras formas de colecionar.
Algumas possibilidades de leitura, produção ou recriação desse murais, coleções: públicas ou privadas? Temáticas? Formas? Cores? Materiais? Autoria? Compartilhamento? O que cada um traz de seu e do outro em seus murais? Música? Dança? Poesia? Artes Visuais? Fotografia?
Berger é quem nos diz: “Somos aquilo que olhamos. Olhar é um ato de escolha”. Com essa frase me transporto para um mundo distante, Pandora, não a da mitologia, a outra, do filme Avatar... Uma frase virou chavão no filme: “Eu vejo você!”. Perfeita analogia para o ver ser muito mais do que olhar; ver como sinônimo de sentir o que o outro sente, ver por dentro, ver a alma. Como diz a Jaque, estamos ficando muito poéticas, ou não. Talvez estejamos apenas enlouquecendo um pouco mais a cada dia. 

Referências:
 BERGER, John. Modos de ver. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Modos de ver: diálogos com Berger



 

prancha de imagens 
 
Modos de Ver
"Nunca olhamos para uma coisa;
estamos sempre olhando para a relação 
entre as coisas e nós mesmos"
(BERGER, 1999, p.11).


Acredito que ao fazermos nossas escolhas, seja em arte-educação seja na vida, levamos sempre em conta toda uma bagagem cultural construída por tudo que aprendemos e apreendemos em na relação com o outro. Experiências diferentes, vivência cultural, participação política, sentimento de pertencimento a determinados grupos, saberes profissionais e acadêmicos, afetos e desafetos, informação midiática, tudo nos (des)constrói cotidianamente. É uma jornada sem fim de (des)construções. Como bem o disse a colega e amiga Neusa Vinhas, ao fim do dia temos mais perguntas do que respostas. E, apesar do alerta dos sábios que nos dizem que nunca cruzamos um mesmo rio duas vezes, algumas memórias ficam impregnadas e não conseguimos (ou não queremos) nos desvencilhar delas. Dessa forma, ao mesmo tempo em que somos sempre diferentes e as relações que estabelecemos com os outros também o são, algumas coisas persistem em nos acompanhar ao longo de nossas vidas.  Coisas que nos comovem, nos inquietam, nos assombram, nos fazem parar para pensar ou que nos estesiam como diz a professora Umbelina. Creio que é dessa forma que construímos nossos mapas conceituais de Professor-Pesquisador-Curador, no Seminário Integrador, e que deram origem às pranchas de imagens, através de nossa capacidade de emocionar-se diante de algo, envolvendo-se de forma tão intensa que não se consegue explicar com palavras essa relação.

Referências:

BERGER, John. Modos de ver. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

sábado, 23 de junho de 2012

Objeto propositor: Jogo PORTO DAS ARTES


Objeto propositor: Jogo PORTO DAS ARTES
 Sônia Maris Rittmann
Justificativa do Jogo
A partir dos temas “Linguagem, Humanidade e Expressão”, presentes no verso da prancha desenvolvida na disciplina Seminário Integrador 7; na proposta triangular de Ana Mae Barbosa (apreciar, fazer e contextualizar); no Mapa Conceitual Professor-Pesquisador-Curador; no conceito de rizoma dos estudos desenvolvidos no curso de extensão (Re)Significando a Arte-Educação desenvolvido pela UFRGS, em pesquisas paralelas e no interesse pelo universo cultural da cidade de Porto Alegre, penso ser interessante a criação de um jogo que contemple além das obras de arte presentes na prancha, também o contexto histórico e cultural da cidade escolhida para o jogo.

Entendendo o jogo como uma proposta de aprendizado interdisciplinar, significativa e lúdica, envolvendo diversas áreas do conhecimento: Arte, Cultura, Patrimônio Histórico, etc., o objetivo primeiro do jogo seria o enriquecimento cultural e artístico dos jogadores-alunos, através de uma atividade que além de lúdica, proporciona o desenvolvimento de habilidades de socialização; interação; comunicação e expressão; apreciação de obras de arte, de espaços culturais e do patrimônio histórico da cidade de Porto Alegre, 

 Cartões Postais
Componentes do jogo:
Mapa da Cidade (ilustrado) – serve de tabuleiro do jogo;
Cartões Postais (das obras de Arte, da Cidade e dos Espaços Culturais);
Cartões-Descritivos (dos artistas, das obras, dos espaços...);
Cartões-Atividades (teatro, cinema, artes visuais, dança, fotografia, café...)
Peões coloridos– representam os jogadores;
Bolas numeradas (ocultas em um saco de tecido);
Envelopes Coloridos;
Dados

 
O Jogo: Porto das Artes (Porto Alegre - Cidade das Artes)
Porto das Artes pretende ser um jogo de tabuleiro (Mapa) em que os participantes (alunos-jogadores) trilharão diferentes percursos a partir do marco zero da cidade, desvendando, conhecendo, revendo, descobrindo, explorando a Arte presente em cada canto da cidade de Porto Alegre, nas suas variadas linguagens, formas e locais.

Objetivo do Jogo:
Entendendo o jogo como uma proposta de aprendizado interdisciplinar, significativa e lúdica, envolvendo diversas áreas do conhecimento: Arte, Cultura, Patrimônio Histórico, etc., o objetivo primeiro do jogo deve ser o enriquecimento cultural e artístico dos alunos-jogadores, através de uma atividade que além de lúdica, proporciona o desenvolvimento de habilidades de socialização; interação; comunicação e expressão; apreciação de obras de arte, de espaços culturais e do patrimônio histórico da cidade de Porto Alegre.

Postais MARGS acervo permanente


Postais Ibere Camargo acervo permanente

Regras/ Procedimentos:
Abre-se o Mapa-tabuleiro em uma mesa ou no chão de acordo com a preferência dos participantes;
Os participantes podem escolher seus parceiros de equipe.
Definidas as equipes, cada uma delas será representada por um pião de uma cor diferente.
As equipes posicionam seus peões no Mapa-Tabuleiro, exatamente no marco zero, na Fonte Talavera*, em frente a prefeitura de Porto Alegre-RS, do Mapa-tabuleiro.
O jogo inicia com um sorteio da ordem de jogo das equipes participantes, através do jogo de dados. A equipe que tirar a maior soma numérica dos dados começa a jogar e assim sucessivamente.
A cada jogada, as equipes devem retirar do saco de tecido, uma bola numerada que indicará o local para o qual deverá deslocar seu peão. (Ex. número 89-Fundação Iberê Camargo*)
Chegando ao local indicado, a equipe deverá, pegar o Cartão Postal do envelope correspondente ao local, que trará informações e imagens do local; E uma Ficha de Atividades que indicará o que a equipe deverá fazer e apresentar na próxima rodada. Ou seja, a equipe tem uma rodada para estudar sua tarefa, definir quem apresenta, como será essa apresentação, etc... (Ex. Na Fundação Iberê Camargo*, escolher uma das obras do acervo permanente e apresentá-la aos demais participantes do jogo; ou Falar sobre o Projeto arquitetônico do prédio; ou falar sobre o Projeto Pedagógico da Instituição);
As opções de atividades podem variar de acordo com o nível de compreensão estética ou os estudos que o professor propositor queira desenvolver.
As informações estarão nos Cartões Descritivos, que ficarão à disposição dos participantes para pesquisa.

Outras possibilidades para o jogo:
1) O jogo pode prolongar-se por muitas aulas, e pode também sofrer modificações conforme as necessidades do propositor e dos jogadores, acrescentando-se, ou retirando-se, Cartões Postais, Cartões Descritivos, Cartões de Atividades, ou mesmo um novo Mapa, que pode ser criado coletivamente pelo grupo.
2) O jogo pode ter um caráter mais real, se as atividades das equipes forem “concretas”, como por exemplo, uma que contemple a visitação a um dos espaços e fotografá-lo ou criar um vídeo no local, com a presença física dos participantes, tornando o jogo mais interessante ainda. Basta que o propositor e os alunos-jogadores percebam que isso seja possível e organizem-se de forma a estender o jogo para além-muros...

* Cada espaço, obra, artista, conceito terá seu Cartão Descritivo para que os alunos ampliem seus conhecimentos nas diferentes áreas e linguagens, que ficará a disposição dos mesmo para pesquisa.




Referências:
Leituras da Cidade. Disponível em  http://www.ufrgs.br/leiturasdacidade/oprojeto.php
Jogos antigos. Disponível em http://www.jogos.antigos.nom.br/jmod.asp
Rizomas. Curso (Re)Significando a arte-educação... Disponível em http://moodle.cinted.ufrgs.br/moodle/course/view.php?id=241