Caixa de Pandora

sábado, 2 de outubro de 2010

Leitura da imagem: Puberty, Edvard Munch


Edvard Munch. Puberty. 1894. Oil on canvas. 151.5 x 110 cm.
Nasjonalgalleriet, Oslo, Norway.

Leitura da Imagem segundo Feldmann

Descrição da obra:

A obra apresenta uma figura humana com longos cabelos, com as mãos cruzadas sobre os joelhos, em um ambiente interno, sobre uma superfíce branca-azulada que cobre um móvel escuro. A parede é amarelo-ocre. As pinceladas são aparentes e nas cores amarelo-ocre, castanhos, branco com nuances de azul.

Análise formal:

A figura humana nua apresentada na imagem ocupa o primeiro plano da tela, numa composição de cores claras que variam do amarelo claro, passando pelo amarelo Nápoles chegando muito próximo do branco, dando luminosidade à imagem. A figura humana está centralizada e apoiada sobre o móvel, que parece ser uma cama, com os braços para frente do corpo, cruzando-se a altura do sexo e as mãos postadas à altura dos joelhos, uma sobre a perna direita e outra pelo lado de dentro do joelho esquerdo. As pernas encontram-se juntas e levemente dobradas, os pés também juntos estão virados para frente, sendo que o pé direito está cobrindo levemente parte do pé esquerdo. A figura é magra, com braços finos e compridos em relação ao corpo, os ombros estão arqueados, um completamente visível e outro coberto levemente por alguns fios dos cabelos longos, escorridos e desalinhados. No rosto o que chama a atenção são os olhos abertos e escuros, além da coloração amarelada nos mesmos tons da parede.

A luz do ambiente incide da esquerda para a direita. Podemos observar isso pelas sombras que são visíveis no pescoço, na perna e nos braços da figura humana.

A seguir podemos observar que a imagem se divide em três faixas horizontais bem demarcadas:

Na parte de baixo da imagem uma faixa escura delimita a linha do chão, num castanho-escuro, e logo acima no móvel, em tons também castanhos, porém levemente avermelhados.

Na parte superior da imagem vemos parte de uma parede amarelo ocre, com alguns pontos escuros avermelhados e castanhos escuros. Além disso, uma mancha escura, grande e inclinada, que se projeta a partir da figura humana, em direção a parte superior direita da imagem, chama a atenção.

Cortando esses dois espaços, aproximadamente ao meio da imagem, temos uma faixa clara, branco-azulada, provavelmente os lençóis de uma cama, que atravessa toda a tela, dividindo os dois espaços: chão e parede. Nas bordas do fundo dessa faixa branca também aparecem sombras enegrecidas castanho escuro.

A mancha escura que se projeta a partir da figura humana em direção ao fundo da imagem, produz um contraste com a claridade da figura humana. As pinceladas marcadas e sobrepostas são tortas, disformes, contorcidas e formam um volume que desequilibra o restante da imagem.

Interpretação:

A partir da observação dos elementos visíveis na imagem podemos chegar a algumas hipóteses sobre a mesma. A nudez da figura humana associada à posição dos braços, mãos e pés, leva-nos a pensar em uma adolescente que ao mesmo tempo em que se mostra, através de sua nudez, no desabrochar da juventude, esconde seu sexo, numa atitude de certo pudor. A jovem, em sua magreza e claridade, no desalinho dos cabelos, no vacilar entre sair ou não da “cama”, cuja brancura pode representar sua pureza, parece ainda não estar pronta para a nova etapa, embora os olhos bastante abertos e escuros demonstrem que ela deseja isso.

As três faixas marcadas da horizontal podendo representar as etapas da vida: infância, adolescência e vida adulta, ou talvez, nascimento, vida e morte. Sendo que a jovem se equilibra muito precariamente sobre a faixa branca (infância) e já ensaia um passo na faixa escura (adolescência), com todos os seus mistérios e possibilidades, um mundo a ser desvendado, descoberto, amedrontador.

A grande mancha escura que se projeta a partir da jovem chama mais a atenção do que todo o restante da imagem, e pode representar a presença inexorável da morte, que nos acompanha desde o nascimento e que vai ficando cada vez mais próxima a cada dia que vivemos.

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