“Pina” de Wim Wenders
Sônia Maris Rittmann
“As coisas mais belas
quase sempre estão escondidas. É preciso apanhá-las e cultivá-las e deixá-las
crescer bem devagar”.
Pina Bausch
Pina Bausch
O filme “Pina”, de Wim Wenders,
originalmente chamado de Ein film für Pina
Bausch. é uma homenagem à coreógrafa, dançarina, pedagoga de dança
e diretora do balé Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, localizada em Wuppertal,
naAlemanha.
Wenders, cineasta que muito admiro, tem
uma capacidade especial de nos colocar frente a frente com situações que
oscilam entre o sonho e a realidade, nos colocar dentro da cabeça dos
personagens de seus filmes, como em Paris,
Texas, em Alice das Cidades, ou
ainda no maravilhoso Asas do Desejo.
Em Pina não é diferente, o cineasta nos aproxima de tal forma da vida-obra de
Pina Bausch, que quase passamos a ver a dança-teatro com os seus olhos.
A proximidade do espaço, Wuppertal, em
que Pina Baush viveu ao longo de muitos anos, em que ela criou e dirigiu seus
espetáculos, nos torna quase seus cúmplices. Andamos pela cidade e pelo palco
juntamente com seus dançarinos-atores. Vivemos de forma avassaladora as
sensações de vida e morte, tristeza e alegria, paixão e liberdade que seus
dançarinos-atores sentem. Esse é ao meu ver um dos grandes méritos do trabalho
de Pina, esse romper com a forma tradicional de dança e utilizar a experiência
de vida de seus bailarinos, de muitas nacionalidades diferentes, com
experiências de dança também diferentes, como parte, inspiração, composição de
suas coreografias que eram sempre re-criação, re-invenção, ruptura, movimento
de abertura ao novo, ao improviso.
Ao mesclar os depoimentos dos bailarinos
sobre Pina com cenas de dança-teatro, Wenders aproxima o público da vida da
coreógrafa. Passamos a compreender quem foi essa grande mulher para a história
da dança, para quem a vida e a dança se fundiam de maneira indissociável. É a
própria Pina quem nos diz: “Tem coisas que nos deixam sem palavras. E tem
coisas que as palavras não dão conta de dizer. É aí que entra a dança”.
Impossível falar da cenografia do filme sem falar do responsável por boa
parte das montagens do Tanztheater Wuppertal desde 1980: o cenógrafo Peter
Pabst, diretor de arte também da produção cinematográfica. É ele quem nos dá as
pistas para compreensão do documentário ao afirmar: "Cruzar a fronteira
entre o palco e o espectador é uma parte importante da coreografia. Os
dançarinos estão constantemente envolvidos com o público, até mesmo fisicamente
descendo do palco. Este foi sempre um ponto crucial para Pina Bausch, que suas
peças fossem completas em primeiro lugar na cabeça, olhos, coração e nos
sentimentos do público”. A cidade de Wuppertal e seus arredores serviram de
cenário para os dançarinos da Cia e complementam a trama quase que como se
fossem um personagem do documentário. Por mais de 35 anos, essa cidade serviu
de casa e inspiração para Pina Bausch, criar e montar seus espetáculos. A
composição visual dos espaços, internos e externos, nos arredores da cidade, na
própria cidade de Wuppertal ou no palco, ajudam na aproximação com a vida e o
pensamento de Pina Bausch.
O filme-documentário começa no teatro em
que Pina montou seus principais espetáculos. Logo de início os dançarinos nos
mostram uma das fontes de inspiração: as estações do ano: primavera, verão,
outono e inverno. Os elementos da natureza, terra, ar, água, folhas,
misturam-se ao cotidiano da cidade em que viveu Pina Bausch para nos contar um
pouco sobre a dança e a vida da coreógrafa. O espaço da rua levado para dentro
do teatro, uma pedra gigantesca, água que cai sobre a cena, dançarinos sobre as
águas...A rua, os trilhos do trem aéreo, fábricas abandonadas, cruzamentos de
ruas, transparências de vidros e portas se alternam com cenas no subsolo, em um
túnel escuro em que a única luz é do cenografista que ilumina os grafites dos
Gêmeos e a própria Pina que surge dançando sobre um carrinho de trilhos como um
fantasma... Cenas plásticas belíssimas se alternam com outras que nos oprimem
de forma aniquiladora. Tudo contribui para a impressão que Pina-Wenders querem
nos dizer. É Pina quem nos alerta assim por acreditarmos que seja a maneira
certa. Não estamos aqui apenas para agradar, devemos desafiar o espectador”.
Um último movimento, Pina projetada no palco do Teatro que ela tanto
amou, vazio, escuro e última frase, o adeus de Pina e um alerta soturno:
“Dance, dance, senão estamos perdidos”.
Referências:
Pina.
Filme de Wim Wenders. 2011.
Site oficial do Filme:
Reportagens
diversas sobre o filme Pina de Win Wenders. Disponíveis em
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