Caixa de Pandora

domingo, 23 de outubro de 2011

Acordes Dissonantes


Acordes Dissonantes: Projeto de Intervenção

Tá lá o corpo

estendido no chão

Em vez de rosto uma foto

de um gol

Em vez e reza

uma praga de alguém

E um silêncio

servindo de amém..."

João Bosco

O desafio de pensar sobre o nosso entorno, sobre o que observamos ao nosso redor, quando andamos (ou corremos) de um lado para o outro, o que se tornou rotina e o que não percebemos se não paramos um minuto e olhamos com bastante atenção, o que para cada um de nós é importante e aquilo em que nunca pensamos, o que nos afeta diretamente, o que afeta toda uma comunidade, são apenas algumas das questões que surgiram durante o processo. Pensando nessas questões e em outras que foram se agregando, trago para o foco das atenções as relações entre o ser humano e o ambiente, de uma forma muito específica: o conflito entre o homem e a máquina. A fragilidade e finitude da vida em contraponto a emergência da automação e da velocidade.

A ideia do projeto Acordes Dissonantes surgiu da observação de um problema que ocorre no lugar onde moro boa parte da semana: uma praia, próxima à cidade, que tem, normalmente, uma população bastante pequena - composta basicamente de aposentados e alguns profissionais liberais que trabalham em casa - e a população flutuante que migra para o litoral aos finais de semana, se multiplicando de forma desordenada e enlouquecida devido à atração da Plataforma de Pesca e a prática do surfe.

A questão central é o trânsito na orla e os perigos que esse aumento de fluxo traz aqueles que vivem de forma quase bucólica durante toda a semana. O contraste entre o silêncio durante a semana em que ouvimos tão somente o som das ondas quebrando e dos pássaros - gaivotas, bem-te-vis, corujas, carruíras, quero-queros - e o barulho ensurdecedor dos carros que passam acelerando seus motores, como se fosse o último final de semana da vida deles. A pressa é tanta que freqüentemente temos casos de atropelamentos e xingamentos de ambos os lados, freadas bruscas, buzinas... Pedestres e motoristas não se entendem. Dois sons distintos se observam, sem que haja harmonia entre eles. Falta tolerância, falta educação, falta gentileza e respeito para com a VIDA.

Para tentar chamar a atenção para essa situação, pensei em fazer uma instalação (ou seria interferência?) na paisagem que obrigasse os observadores, tanto os pedestres quanto os motoristas (“monstroristas”, como ouvi outro dia) a lançar um outro olhar sobre o espaço e quem sabe, refletir sobre a forma com que ambos estão agindo nele. Como? Pensei em desenhar um corpo morto estendido no chão, aos moldes de uma cena de crime, para forçar o olhar para o chão e para a possibilidade não tão remota assim de que realmente um corpo possa ser atropelado e morto naquele espaço de guerra. Ainda não sei se usarei as fitas de isolamento (preta e amarela) por que isso impossibilitaria que os carros passassem por sobre o “corpo”. Ainda está em processo, mas a ideia já está alinhavada...

Sônia Maris Rittmann

Pólo UFRGS POA 1

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