Caixa de Pandora

terça-feira, 20 de abril de 2010

Captura do vento





Ao assistir ao vídeo “Captura do vento” pensei em várias coisas, mas não pude evitar o pensamento em que cada gesto, cada “palavra”, cada ação está impregnada de múltiplos sentidos e que as escolhas que fazemos tem sempre uma intencionalidade, mesmo que não tão óbvias ou tão poéticas.

A publicidade faz isso há bastante tempo e com maestria. Utiliza-se das metáforas visuais ou sonoras para causar determinadas reações nos seus “públicos” alvo. Nós, professores, fazemos isso constantemente. No nosso trabalho, seja com jovens ou adolescentes, tentamos “vender” uma idéia, com palavras, gestos, olhares e imagens. A própria forma com que nos vestimos transmite uma idéia do que somos ou do que queremos que os outros pensem de nós. Um outro exemplo pode ser a maneira como organizamos nossos blogs, as cores escolhidas, as imagens selecionadas, tudo mostra quem somos e em que acreditamos. Mostra nossa identidade, nossa singularidade. Embora em alguns momentos possa parecer, nunca estamos sozinhos, sempre estamos nessa relação com o outro, nosso interlocutor. Lidamos o tempo todo com a relação entre o novo e o velho, o conhecido e o desconhecido, com algo que se sabe, algo que se desconhece, algo que se passa a conhecer. Vamos incorporando essas coisas a nossa vida e a vida daqueles que nos cercam, num eterno aprendizado.

O vídeo está repleto dessas imagens e as utiliza de forma belíssima. Os amplos planos com cenários de montanhas nevadas, riachos, animais soltos no campos, caminhos singelos de pedras nos remetem a um lugar bucólico, quase de sonho, longe das metrópoles poluídas em que não se pode mais “respirar” nem viver mais. A questão da energia limpa, ou renovável como é chamada, é abordada como uma solução, um “presente” que veio para dar mais “fôlego” a um planeta que precisa tanto de soluções ecologicamente sustentáveis e que substituíam as tradicionais formas de produção de energia. A resposta, como diria Bob Dylan (o estilo country e o tema da música fez lembrar dele), está sendo soprada pelo vento. A resposta vem das mãos de uma criança, metáfora do novo, da juventude, de renovação e é dada ao “avô” centenário. O “novo” e o “velho” em relação de encontro, de troca, de aprendizado, de mudança...

Cito um pequeno trecho de autoria do Juremir Machado da Silva, do livro “Aprender a (vi)ver” que tem uma relação direta com o que estamos (vi)vendo: “Quantas vezes deixamos de ir à janela, por indiferença, fitar a lua cheia sangrando acima dos arranha-céus? Quantos crepúsculos perdemos por falta de coragem de fechar o livro, desligar a televisão, interromper o trabalho ou apenas de espiar pelos olhos franzidos das nossas janelas? Quantas vezes perdemos o amanhecer, com seus cheiros, matizes e cores, por incapacidade de crer que é único na sua repetição? Quantas vezes deixamos de admirar a beleza singular do nosso pequeno universo particular por falta de visão de mundo?”

Penso que o vídeo “Captura do Vento” traz a tona essa possibilidade: de ver as coisas em sua essência, a sua “alma”. Apreciar as surpresas da vida, sejam elas boas ou ruins, simplesmente apreciar, viver, sentir...Aprender a (vi)ver. Disse em outra oportunidade que aprendemos mais com nossos erros do que com nossos acertos. Acho que esse caminho é uma possibilidade, experimentar as coisas sem medo, ou pelo menos com um medo saudável, testar sempre que possível, inovar, acreditar na renovação, na mudança... Creio que isso é uma das coisas que estamos aprendendo nesse curso de Artes Visuais: a quebrar paradigmas, a questionar as “verdades” absolutas... Como disse o Iberê Camargo “(...) Renovação é condição de vida (...)”. Isso é muito bom. Todos ganham.


Namastê, Sônia Maris

Um comentário:

  1. Sõnia Maris,

    A gente pode não se conhecer, mas a tecnologia tornou possível que eu descobrisse através da internet, uma pessoa com a capacidade de não apenas olhar, mas ver com profundidade e tamanha sensibilidade a beleza das coisas que nos cercam e chegam até nós.Parabéns, por conseguir enxergar num mundo tão nebuloso, as coisas em sua essência mais profunda.
    Abraços,
    Conce Almeida

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