Caixa de Pandora

domingo, 14 de outubro de 2012

Dilemas da arte/educação


  "Relatividade" M.C. Escher - 1953

Nos últimos anos estamos vivendo uma transformação tecnológica radical. Essa transformação, que alguns chamam de revolução tecnológica, afeta a todos os segmentos da sociedade, e, certamente, a educação e a arte. O texto de Ana Mae faz um recorte bastante significativo e traz a tona uma discussão extremamente pertinente sobre arte, educação, mediação cultural e tecnologias contemporâneas. A partir de um breve histórico dos conceitos modernistas e pós-modernistas de arte e de educação, da constatação do preconceito que cerca a arte/educação no Brasil, através de exemplos de instituições e museus que utilizam diferentes abordagens expositivas com foco na educação, as críticas à abordagem de muitos dos CD-ROMs e sites de instituições, ela chega ao que se entende como a visão contemporânea de mediação em arte, utilizando a tecnologia não apenas como um meio de transmissão de informações, mas um meio “interativo” (pouco estudado em seus efeitos, segundo ela) de apreciação e experimentação em arte.

Creio que o exemplo mais significativo que Ana Mae nos traz é o de Nicholas Serrota, diretor do Tate Gallery e Tate Modern, que propõe a organização das exposições de arte em que enfatiza a experiência da recepção do apreciador e não como era feito até então com ênfase na obra ou no produtor. Ao propor o diálogo entre diferentes movimentos, épocas e estilos, mudam os paradigmas, mudam também o entendimento sobre a arte, a educação, a mediação.

“A tecnologia não apenas transforma as práticas cotidianas, mas também os modos de produção intelectual e dilui os limites entre compreensão e certeza”

A tecnologia é uma realidade presente em nossas salas de aula. Poucos alunos ainda utilizam dicionários de papel, a maioria pesquisa diretamente nos seus celulares conectados a WEB, em sites nem sempre confiáveis, mas extremamente rápidos. Cada palavra e ação nossa em sala de aula é imediatamente jogada na Internet, em sites como youtube, facebook, twitter, ou outro que venham a inventar enquanto digito esse texto. Rapidamente nossos alunos aprendem a utilizar ferramentas como editores de texto, imagens, vídeos, áudio... Por que não aproveitar essa disposição para o ensino da arte, para pensar arte, produzir arte e contextualizar arte?

“Percepção, memória, mimeses, história, política, identidade, experiência, cognição são hoje mediadas pela tecnologia.(...) Participação, representação, desejo, criação, expressão são conceitos transformados pela ação da tecnologia”.

Creio que é nessa brecha que podemos agir. Questionar, provocar, instigar alunos, colegas, pais a repensar a utilização da tecnologia seria um primeiro passo, perder o medo da tecnologia e usá-la a nosso favor é uma opção quase que obrigatória, sob o risco de ficarmos falando sozinhas em sala de aula, enquanto nossos alunos apreciam qualquer outra coisa que esteja no formato “digital” em frente aos seus olhos, ouvidos e cérebros.

Cabe aqui destacar que as colegas do curso de artes visuais contribuíram significativamente para a discussão trazendo suas impressões sobre o texto, e que fiquei particularmente tocada pelas colocações da colega Claudia Tedesco (do fórum do polo Gramado) por também compartilhar de algumas das dúvidas que ela tão bem enumera:
“Pois quem tem cultura tem poder.
E quem tem educação tem o quê?
A quem interessa que o povo não tenha cultura?
Será que é por isso que as escolas que possuem bons laboratórios de informática não possuem internet?
As escolas que possuem a internet não possuem monitores para atender aos alunos?
E as que possuem tudo e os laboratórios permanecem fechados para que os materiais não estraguem?
Os professores que utilizam vários recursos tecnológicos como vídeos e data show, são vistos pelos como “matões” e não ministram os conteúdos previstos?
Tecnologias contemporâneas: como usá-las como instrumento de mediação cultural?
Como inserir a produção dos alunos com o espaço virtual? Não basta jogar na rede é preciso contextualizar diante das diversas realidades.
Como formar um público que pesquise, analise e formule e reformule suas próprias considerações?
Como inserir o aluno neste espaço de forma a desenvolver sua criatividade e imaginação?”(TEDESCO)

Como de costume, temos muito mais dúvidas do que certezas, mas fico feliz em saber que não estamos sozinhas nessa caminhada, que estamos, mesmo que distantes fisicamente, separadas por vários quilômetros, tão próximas, virtualmente, devido aos interesses, pensamentos e “dilemas” sobre arte, educação, mediação, tecnologia, política e vida. 
 
Referências:
BARBOSA, Ana Mae. Dilemas em arte/educação como mediação cultural em namoro com as tecnologias contemporâneas. Disponível em:
Acesso em 14/10/2012.

TEDESCO, Claudia. Disponível em
Acesso em 14/10/2012.

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