Caixa de Pandora

sábado, 12 de maio de 2012

Objeto na bolsa- Portfólio (em processo)




Portfólio
O meu horizonte:
Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Vínicius de Moraes

Pensar o que me move, motiva, limita, inquieta, potencializa e defini-la em uma única palavra e registrar a materialização dessa palavra em uma imagem bidimensional fez com se revelasse todo um universo interno de desejos, sensações que estavam adormecidos ou, no mínimo, não manifestos concretamente.  A partir de uma lista de palavras que fui colhendo durante essa semana, pude perceber que o efêmero, o fugaz, o im-permanente, imperfeito, aquilo que escorre por entre os dedos diariamente, sem que se possa estendê-lo, é aquilo que tenho de mais valioso para a realização de tudo o que desejamos: O TEMPO. 
É esse o meu horizonte: o TEMPO, passado, presente e futuro. Espaço da memória, dos afetos, do que temos de mais superficial e mais profundo. 

As imagens que colhi para esse registro bidimensional do TEMPO:

 
O Objeto Tridimensional:
 
“(...)Se o espaço é infinito, estamos em qualquer ponto do espaço.
Se o tempo é infinito, estamos em qualquer ponto do tempo(...)”
Jorge Luis Borges
No final, acabamos sempre voltando a ideia inicial, ao começo de tudo, ao que deu origem ao processo, ao pensamento que gera, que cria, que potencializa toda criação humana. Tempo que não temos, tempo que nos aprisiona, que nos leva muitas vezes, por imposições cotidianas a fazer escolhas erradas, ou a priorizar coisas sem importância vital... Meu mundo é esse: literatura, arte, estudo, trabalho, alunos, família...Não necessariamente nessa ordem. Lembro a frase, mas não o autor: “sem tempo não há pensamento...”. Verdade. Fazemos mil coisas e pouco pensamos sobre elas. O mundo contemporâneo nos exige essa velocidade, esse excesso de informação mal digerida, mal assimilada, efêmera, fugaz, im-permanente, imperfeita...Como materializar esse tempo que nos aniquila, que se esvai, que escorre pelos nossos dedos e que não tem volta, que nos tritura e nos transforma muitas vezes em quem não somos em algo irreconhecível... Resto de humanidade. Metal, tecido, plástico, vidro e areia. Objetos do cotidiano re-significados, carregados de um simbolismo óbvio (ou não). Possibilidades que se juntam, que se aglutinam e que nos fazem voltar ao começo: tempo.


 Tempus Fugit, 2012

Projeto: Objeto na bolsa



 
“O tempo, o tempo é versátil, o tempo faz diabruras, o tempo brincava comigo, o tempo espreguiçava provocadoramente (...) o tempo, o tempo, o tempo me pesquisava na sua calma, o tempo me castigava (...) o tempo, o tempo, esse algoz às vezes suave, às vezes mais terrível, demônio absoluto conferindo qualidade a todas as coisas, é ele ainda hoje e sempre quem decide e por isso a quem me curvo cheio de medo e erguido em suspense me perguntando qual o momento, o momento preciso da transposição? (...) o tempo está em tudo; existe tempo, por exemplo, nesta mesa antiga: existiu primeiro uma terra propícia, existiu depois uma árvore secular feita de anos sossegados, e existiu finalmente uma prancha nodosa e dura trabalhada pelas mãos de um artesão dia após dia; (...) o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é; por isso, ninguém em nossa casa há de dar nunca o passo mais largo que a perna: dar o passo mais largo que a perna é o mesmo que suprimir o tempo necessário à nossa iniciativa (...)”

Raduan Nassar "Lavoura Arcaica”

Projeto Objeto Bolsa (em processo):




 Aracne - Gustav Doré 


 Penélope


Penso em linhas, como as que Penélope utilizava para bordar a espera de Ulisses na Odisséia de Homero. Penso em fios como os de Aracne, como na gravura de Gustav Doré na Divina Comédia de Dante Alighieri, exímia na arte de bordar, amaldiçoada pela inveja de Atena, condenada a tecer suas teias eternamente ao invés de tecidos. Marina Colasanti em o Risco do bordado, tecendo histórias de vida, tecendo o tempo...Penso em Édipo diante da Esfinge: “Decifra-me ou te devoro!”, falando da velhice, da memória, da vida...do tempo que se esgota. As influências são oriundas da literatura, o que não quer dizer que as artes visuais não tenham influenciado o pensamento. Penso, muito especialmente, no Horizonte Expandido, exposição de 2010, no Santander Cultural, em que pude apreciar obras de artistas que influenciaram grandemente a arte contemporânea; artistas que trabalham com as questões do limite, do tempo e, principalmente, com a preocupação voltada ao processo criativo, a interferência, o compartilhamento do pensamento com o público.


“Especialmente atento às transformações sofridas pela definição de arte na atualidade, Horizonte Expandido almeja suscitar indagações sobre os efeitos que essa mobilidade exerce nas relações entre arte e vida cotidiana, arte e outras áreas do conhecimento e, ainda, sobre arte e sistema de artes. Apostando na democratização dos meios de difusão da produção artística e, ao mesmo tempo, preservando seu conteúdo e densidade de informação, Horizonte Expandido estabelece-se como uma possibilidade de refletir, não apenas sobre questões caras ao terreno da arte, mas também sobre o conjunto do mundo humano – com suas linhas de desejo, suas polaridades afetivas, suas paisagens de sentido, suas redes móveis, seus ambientes mutáveis – que transforma as linguagens, os artefatos e as instituições sociais que pensam dentro de nós como uma espécie de inteligência a ser disseminada dentro da dimensão coletiva.” (Horizonte Expandido)



Algumas possibilidades de construção:

1-     Lãs ou linhas dispostas a partir do teto como móbiles (ou de uma armação de guarda-chuva) até o chão formando dois triângulos invertidos, como se fosse uma ampulheta, no meio uma parte da boneca usada no objeto tridimensional...Talvez entalada no meio da ampulheta, sem conseguir passar... Coberta de linhas (como nos objetos do Bispo do Rosário). Pensar na cor: vermelho, azul ou roxo. Outro material que poderá ser experimentado é o tecido fino (seda ou crepe) transparente formato a mesma figura anterior, uma ampulheta, a partir do teto, em direção ao chão...  Um cordão vermelho como representação da areia... Talvez a própria areia de praia, mais fina que a de construção... Fragmentos que se amontoam na base... Talvez escorrendo pra fora do objeto.
2-     A segunda possibilidade de construção do objeto seria fazê-lo com areia de praia empilhada em forma de  pirâmide no centro do espaço e a partir dali, um fio fino (areia molhada) segue em espiral, ocupando todo o espaço até sair sinuosamente em direção ao corredor, às escadas e descendo até o térreo...No centro dessa pirâmide de areia penso em colocar a mão da boneca, talvez não, ainda estou pensando...
3-     A terceira possibilidade de construção desse objeto seria a simplificação de todas as ideias anteriores, na busca de algo que eles tenham em comum e que possam resgatar de maneira sintetizada a ideia inicial da passagem inexorável do tempo e no quanto nós nos pautamos pela sua falta: penso em uma aranha (aracne) com cabeça de boneca e patas de arame (armação de guarda-chuva recoberto de fios de linha-lã) ou cabos USB, numa alusão à tecnologia tão necessária na atualidade e ao mesmo tempo tão escravizante. Em processo...


Esboço das possibilidades (em processo...)

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