Portfólio
O meu horizonte:
Poética
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Vínicius
de Moraes
Pensar o que me move, motiva, limita, inquieta, potencializa e
defini-la em uma única palavra e registrar a materialização dessa palavra em
uma imagem bidimensional fez com se revelasse todo um universo interno de
desejos, sensações que estavam adormecidos ou, no mínimo, não manifestos
concretamente. A partir de uma lista de
palavras que fui colhendo durante essa semana, pude perceber que o efêmero, o
fugaz, o im-permanente, imperfeito, aquilo que escorre por entre os dedos diariamente,
sem que se possa estendê-lo, é aquilo que tenho de mais valioso para a
realização de tudo o que desejamos: O TEMPO.
É esse o meu horizonte: o TEMPO, passado, presente e futuro.
Espaço da memória, dos afetos, do que temos de mais superficial e mais
profundo.
As imagens que colhi para esse registro bidimensional do TEMPO:
O Objeto Tridimensional:
“(...)Se
o espaço é infinito, estamos em qualquer ponto do espaço.
Se
o tempo é infinito, estamos em qualquer ponto do tempo(...)”
Jorge
Luis Borges
No final, acabamos sempre voltando a ideia inicial, ao começo de
tudo, ao que deu origem ao processo, ao pensamento que gera, que cria, que
potencializa toda criação humana. Tempo que não temos, tempo que nos aprisiona,
que nos leva muitas vezes, por imposições cotidianas a fazer escolhas erradas,
ou a priorizar coisas sem importância vital... Meu mundo é esse: literatura,
arte, estudo, trabalho, alunos, família...Não necessariamente nessa ordem.
Lembro a frase, mas não o autor: “sem tempo não há pensamento...”. Verdade.
Fazemos mil coisas e pouco pensamos sobre elas. O mundo contemporâneo nos exige
essa velocidade, esse excesso de informação mal digerida, mal assimilada,
efêmera, fugaz, im-permanente, imperfeita...Como materializar esse tempo que
nos aniquila, que se esvai, que escorre pelos nossos dedos e que não tem volta,
que nos tritura e nos transforma muitas vezes em quem não somos em algo
irreconhecível... Resto de humanidade. Metal, tecido, plástico, vidro e areia. Objetos
do cotidiano re-significados, carregados de um simbolismo óbvio (ou não).
Possibilidades que se juntam, que se aglutinam e que nos fazem voltar ao
começo: tempo.
Tempus Fugit, 2012
Projeto: Objeto na bolsa
“O tempo,
o tempo é versátil, o tempo faz diabruras, o tempo brincava comigo, o tempo
espreguiçava provocadoramente (...) o tempo, o tempo, o tempo me pesquisava na
sua calma, o tempo me castigava (...) o tempo, o tempo, esse algoz às vezes
suave, às vezes mais terrível, demônio absoluto conferindo qualidade a todas as
coisas, é ele ainda hoje e sempre quem decide e por isso a quem me curvo cheio
de medo e erguido em suspense me perguntando qual o momento, o momento preciso
da transposição? (...) o tempo está em tudo; existe tempo, por exemplo, nesta
mesa antiga: existiu primeiro uma terra propícia, existiu depois uma árvore
secular feita de anos sossegados, e existiu finalmente uma prancha nodosa e
dura trabalhada pelas mãos de um artesão dia após dia; (...) o equilíbrio da
vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a
quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca
o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é; por isso, ninguém
em nossa casa há de dar nunca o passo mais largo que a perna: dar o passo mais
largo que a perna é o mesmo que suprimir o tempo necessário à nossa iniciativa
(...)”
Raduan
Nassar "Lavoura Arcaica”
Projeto Objeto Bolsa (em processo):
Aracne - Gustav Doré
Penélope
Penso em linhas, como as que Penélope utilizava para bordar a
espera de Ulisses na Odisséia de Homero. Penso em fios como os de Aracne, como
na gravura de Gustav Doré na Divina Comédia de Dante Alighieri, exímia na arte
de bordar, amaldiçoada pela inveja de Atena, condenada a tecer suas teias
eternamente ao invés de tecidos. Marina Colasanti em o Risco do bordado, tecendo histórias de vida, tecendo o tempo...Penso
em Édipo diante da Esfinge: “Decifra-me ou te devoro!”, falando da velhice, da
memória, da vida...do tempo que se esgota. As influências são oriundas da
literatura, o que não quer dizer que as artes visuais não tenham influenciado o
pensamento. Penso, muito especialmente, no Horizonte Expandido, exposição de
2010, no Santander Cultural, em que pude apreciar obras de artistas que
influenciaram grandemente a arte contemporânea; artistas que trabalham com as
questões do limite, do tempo e, principalmente, com a preocupação voltada ao
processo criativo, a interferência, o compartilhamento do pensamento com o
público.
“Especialmente atento às transformações sofridas pela
definição de arte na atualidade, Horizonte Expandido almeja suscitar indagações
sobre os efeitos que essa mobilidade exerce nas relações entre arte e vida
cotidiana, arte e outras áreas do conhecimento e, ainda, sobre arte e sistema
de artes. Apostando na democratização dos meios de difusão da produção
artística e, ao mesmo tempo, preservando seu conteúdo e densidade de
informação, Horizonte Expandido estabelece-se como uma possibilidade de
refletir, não apenas sobre questões caras ao terreno da arte, mas também sobre
o conjunto do mundo humano – com suas linhas de desejo, suas polaridades
afetivas, suas paisagens de sentido, suas redes móveis, seus ambientes mutáveis
– que transforma as linguagens, os artefatos e as instituições sociais que
pensam dentro de nós como uma espécie de inteligência a ser disseminada dentro
da dimensão coletiva.” (Horizonte Expandido)
Algumas possibilidades de construção:
1-
Lãs
ou linhas dispostas a partir do teto como móbiles (ou de uma armação de
guarda-chuva) até o chão formando dois triângulos invertidos, como se fosse uma
ampulheta, no meio uma parte da boneca usada no objeto tridimensional...Talvez
entalada no meio da ampulheta, sem conseguir passar... Coberta de linhas (como
nos objetos do Bispo do Rosário). Pensar na cor: vermelho, azul ou roxo. Outro
material que poderá ser experimentado é o tecido fino (seda ou crepe)
transparente formato a mesma figura anterior, uma ampulheta, a partir do teto,
em direção ao chão... Um cordão vermelho
como representação da areia... Talvez a própria areia de praia, mais fina que a
de construção... Fragmentos que se amontoam na base... Talvez escorrendo pra
fora do objeto.
2-
A
segunda possibilidade de construção do objeto seria fazê-lo com areia de praia empilhada
em forma de pirâmide no centro do espaço
e a partir dali, um fio fino (areia molhada) segue em espiral, ocupando todo o
espaço até sair sinuosamente em direção ao corredor, às escadas e descendo até
o térreo...No centro dessa pirâmide de areia penso em colocar a mão da boneca,
talvez não, ainda estou pensando...
3-
A
terceira possibilidade de construção desse objeto seria a simplificação de
todas as ideias anteriores, na busca de algo que eles tenham em comum e que
possam resgatar de maneira sintetizada a ideia inicial da passagem inexorável
do tempo e no quanto nós nos pautamos pela sua falta: penso em uma aranha (aracne) com cabeça de boneca e patas de
arame (armação de guarda-chuva recoberto de fios de linha-lã) ou cabos USB,
numa alusão à tecnologia tão necessária na atualidade e ao mesmo tempo tão
escravizante. Em processo...
Esboço das possibilidades
(em processo...)
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