Caixa de Pandora

domingo, 30 de setembro de 2012

AVA (ambiente virtual de aprendizagem)



 
Antes de aprofundar os estudos em Ambientes Virtuais de aprendizagem (AVA), temos que considerar que são sistemas computacionais disponíveis na internet, destinados ao suporte de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação, e que são amplamente utilizado nos meios acadêmicos por:

 “(...)educadores, comunicadores, técnicos em informática e indivíduos envolvidos com a interface educação e comunicação, mediados pela tecnologia das redes telemáticas de informação e comunicação. (...) Os AVAs priorizam a aprendizagem colaborativa, a construção compartilhada do conhecimento, a interatividade, a subjetividade, a autonomia e o desenvolvimento de uma consciência crítica nos estudantes”¹

Feita essa primeira leitura, passemos aos espaços que utilizamos atualmente e, por fim, aos que podemos agregar às nossas práticas como professoras de arte. No mundo contemporâneo não é mais possível pensar em arte e educação sem o uso da tecnologia. A cada dia somos brindados com os mais diversos aplicativos, online ou não, que podemos usar integralmente ou apenas de forma eventual para alguma atividade relacionada às nossas práticas diárias.
Impossível não pensar, primeiramente, nas ferramentas que já utilizamos, muito especificamente, nas facilidades que as redes sociais (facebook, por exemplo) nos possibilitam, na comunicação instantânea com que podemos estabelecer com nossos alunos, nas trocas de informação e conhecimentos, por intermédio de vídeos, textos, imagens, indicação de sites, jogos, e até através de discussões acaloradas em determinados grupos de discussão que podem ser criados. Indispensável ferramenta, que se bem utilizado pode render muitos benefícios aos seus usuários. Compartilhar é a palavra chave nesse tipo de ambiente virtual, a aprendizagem fica por conta da seleção feita para tais espaços. O ponto negativo que esse espaço pode ter seria a facilidade de se perder na navegação por outras “águas”... Porém, até essa “errância” faz parte do processo, pois afinal de contas, não foram as derivas que trouxeram os seres humanos  até os dias atuais?
Também, com muito espaço para criação e expressão, penso em blogs, fotologs e sites que podemos criar junto com nossos alunos, organizado por tema ou por área de interesse. Cada vez mais populares e de fácil manuseio, acredito que, se bem utilizado, pode ser um maravilhoso espaço de aprendizado. Nele, assim como nas redes sociais, podemos inserir vídeos, fotos, textos, criar fóruns de discussões temáticas, ou mesmo abrir janelas sincronizadas ao twitter, para comunicação instantânea.
Um pouco mais complexo e, talvez, com um caráter mais “educativo”, é o espaço MOODLE, utilizado por nós no curso de Artes Visuais, e que pode ser baixado gratuitamente² pela Internet, e adaptado para utilização tanto na escola de forma coletiva, como em algum curso ou atividade específico. Fácil de baixar e instalar, leve e adaptável às mais diversas necessidades, com espaços bastante didáticos e de fácil compreensão, possui todos os recursos necessários para um planejamento de médio ou longo prazo. A grande desvantagem que vejo nesse ambiente virtual de aprendizagem é que com o tempo, se mal utilizado, pode se tornar repetitivo e cansativo, o quê para quem trabalha com adolescentes, seres muito intensos e pouco afeitos às rotinas, pode ser fatal para qualquer projeto.
O mais interessante ambiente virtual de aprendizagem que utilizo em sala de aula, atualmente, é o Google ArtProject³, espaço colaborativo que reúne museus espalhados pelo mundo todo, oferecendo visitas virtuais em diversas das suas salas, podendo ainda visualizar algumas das obras de arte disponíveis em imagem de alta resolução. O sistema semelhante ao Street View possibilita a visualização de quadros, ilustrações, fotografias, esculturas, etc., um banco de dados com informações das obras, dos artistas e dos museus. De fácil navegação, seu acervo virtual não para de crescer, e a cada semana se têm notícias de mais um museu que adere ao projeto. Para acesso às obras o visitante pode escolher percorrer os museus virtuais por diferentes caminhos: coleções (mapa mundi), artistas, obras de arte ou ainda galerias dos usuários. Essa última opção, galeria de usuários, permite que você crie sua “coleção” particular de obras. O tour virtual é semelhante ao Google Street View, podendo o usuário mudar o ângulo de visão de cada sala visitada, circulando pelos ambiente de forma muito próxima do real.
De forma muito resumida e não querendo esgotar o tema, penso que todo e qualquer ambiente virtual de aprendizagem pode vir a ser utilizado em sala de aula como auxiliar do professor de artes visuais, desde que faça parte de um planejamento adequado ao tipo de conhecimento que o professor deseja trabalhar. Dito de forma acadêmica os Ambientes Virtuais de Aprendizagem “permitem integrar múltiplas mídias, linguagens e recursos, apresentar informações de maneira organizada, desenvolver interações entre pessoas e objetos de conhecimento, elaborar e socializar produções tendo em vista atingir determinados objetivos.”

Referências:
Maio, Ana Zeferina Ferreira. Da janela da alma ao ciberespaço: ambiente virtual de aprendizagem em artes visuais. Disponível em
²MOODLE. Disponível em
³Google ArtProject. Disponível em
Almeida, Maria Elizabeth Bianconcini. Ambiente Virtual de Aprendizagem. Wikipedia.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Jarbas Jácome, Humano, Demasiado Humano


Jarbas Jácome, Humano, Demasiado Humano

 


Pode até parecer que não temos nada para fazer e que ficamos o dia inteiro pesquisando na internet e que não temos vida própria, mas confesso, muitas vezes as descobertas são pura obra de derivas por outras paragens... Então, dando continuidade a nossa interlocução sobre arte, tecnologia e cibercultura, descobri outro trabalho bem bacana do nosso artista escolhido.
Pensei em selecionar apenas alguns fragmentos do material pesquisado sobre essa outra obra do artista Jarbas Jácome, mas depois, pensando melhor, percebi que muito do que ele propõe se perderia nessa “interpretação”.
Jarbas Jácome adora Nietzsche, e eu também, talvez por isso a minha empolgação com a descoberta desse artista, multi-talentoso, músico, cientista da computação, vencedor de vários prêmios nas áreas em que atua, e que, diferentemente de muitos, disponibiliza em seu site materiais: projetos, esquemas gráficos das montagens de suas obras, teses, rascunhos, códigos free e fluxogramas para todos que se interessarem por programação de computadores. Além disso, ainda desenvolve projetos de capacitação e multiplicação arte-computação em escolas. Generosidade é mais uma das qualidades dele. Ponto para a Humanidade.
Então, transcrevo abaixo o que o próprio Jarbas diz sobre sua obra “Humano, Demasiado Humano” de Jarbas Jácome:
“67.Sancta Simplicitas37 da virtude. – Toda virtude tem privilégios: por exemplo, o de levar seu próprio feixezinho de lenha para a fogueira do condenado.
(37) “sancta simplicitas“: “santa simplicidade” – expressão atribuída a Johann Hus, o sacerdote checo condenado por seu reformismo, ao ver uma velha senhora jogar um pouco de lenha na fogueira onde estava sendo queimado, em 1415.
530. Gênio tirânico. – Quando está vivo na alma um desejo invencível de se impor tiranicamente, e o fogo é constantemente animado, mesmo um pequeno talento (em políticos, artistas) torna-se aos poucos uma quase irresistível força natural.
566. Amor e ódio. – O amor e o ódio não são cegos, mas ofuscados pelo fogo que trazem consigo.
570. Sombras na chama. – A chama não é tão clara para si mesma quanto para aqueles que ilumina: assim também o sábio.
585. Pensamento mal-humorado. – Aos homens sucede o mesmo que aos montes de carvão na floresta. Apenas depois de terem queimado e carbonizado, como estes, os homens jovens se tornam úteis. Enquanto ardem e fumegam, são talvez mais interessantes, mas inúteis e freqüentemente incômodos. – De modo implacável, a humanidade emprega todo indivíduo como material para aquecer suas grandes máquinas: mas para que então as máquinas, se todos os indivíduos (ou seja, a humanidade) servem apenas para mantê-las? Máquinas que são um fim em si mesmas – será esta a umana commedia?
604. Preconceito a favor das pessoas frias. – Pessoas que rapidamente pegam fogo se esfriam depressa, sendo então de pouca confiança. Por isso as que são sempre frias, ou assim se comportam, têm a seu favor o preconceito de que são particularmente seguras e dignas de confiança: são confundidas com aquelas que pegam fogo lentamente e o conservam por muito tempo.
Os aforismos acima foram selecionados de Humano, Demasiado Humano: um livro para espíritos livres; tradução de Paulo César de Souza (2005). Título original: Menschliches, Allzumenschliches. Ein Buch für freie Geister (1878, 1886), Friedrich Wilhelm Nietzsche.
A instalação Humano, Demasiado Humano consiste em uma sala escura com uma caixa de fósforo na entrada da sala. Espera-se que o visitante pegue a caixa, entre na sala e risque o fósforo. O fósforo aceso desencadeia imediatamente a execução de um vídeo de um galho de madeira queimando projetado em uma das paredes da sala com o som amplificado.
Os materiais e técnicas utilizados nessa instalação são: caixa de fósforo, webcam, projetor e computador rodando GNU/Linux, Pure Data/GEM utilizando o objeto pix_blob para a detecção da luz do fósforo ao ser aceso.
A idéia da instalação surgiu em 2008 entre um encontro e outro com a artista plástica pernambucana Juliana Notari, com quem primeiramente falei da idéia que tive na época e a convidei para desenvolvê-la junto comigo, mas acabamos não tendo oportunidade de fazê-lo. Acabei retomando a idéia para desenvolvê-la durante uma oficina que fui convidado para mediar no Conexões Estéticas, idealizado pela Professora Walmeri Ribeiro do curso de Cinema e Audiovisual da UFC. O objetivo principal da oficina foi apresentar aos artistas residentes Camila Vieira, Emilly Gama, Luciana Vieira, Nathália Araújo, Shirley Martins e Tarcísio Rocha o software Pure Data/GEM, afim de que os mesmos pudessem depois desenvolver suas próprias instalações interativas. Além disso alguns deles, Luciana, Tarcísio, junto com a Luana Santos contribuiram para a gravação das imagens do fogo utilizada na instalação que também contou com a ajuda fundamental de Cesar Baio para operação da câmera e Shirley Martins para captação do som, assim como Walmeri Ribeiro, Fernanda Gomes que também estavam presentes e Jaime Vieira que cedeu a casa para a gravação do vídeo.
A gravação desse vídeo de demonstração da instalação foi feita durante a abertura da exposição Conexões Estéticas no Casa Alpendre (Rua José Avelino, 495 — Praia de Iracema — Fortaleza/CE) no dia 13 de dezembro de 2010.
A montagem da obra para esta exposição contou com a ajuda fundamental de César Baio, Tarcísio Rocha, Luciana Vieira, Luana Santos e Walmeri Ribeiro e Dino e Alexandre ambos do Alpendre.
Referências:
vídeo no youtube:

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Da cultura da página à cultura dos Dados


Fichamentos dos projetos_atualizado


CUBO

fórum "low tech e high tech" (continuação)



Duchamp e sua Monalisa


 Warhol e sua Monalisa




Caetano Veloso e o Parangolé do Helio Oiticica



 Lygia Clark - série Bichos

Amiga Neusa Vinhas!
Muitas das questões que levantas em tua postagem devem passar pelas cabeças de muitos de nós - professores-pesquisadores-curadores - diariamente. Algumas perguntas, talvez a maioria, sem respostas prontas, sem uma “única” resposta, sem uma resposta certa ou errada... Perguntas que servem para nos deixam cada dia mais vivos. Sinal de “estesia” como diz nossa professora e agora orientadora Umbelina. O que poderia nos parecer um diálogo de malucos, um diálogo solitário, é na verdade um diálogo “silencioso”, segundo nossa outra grande amiga Miriam Celeste Martins, nossos “socius internos”. Conversamos conosco, com nossas leituras, com nossas referências, com as pessoas – artistas, teóricos, amigos – que admiramos ou que apenas nos provocam a pensar, internamente, cotidianamente, e nos deixamos penetrar por seus conceitos, ideias, reflexões, de tal forma que muitas vezes é difícil saber onde começa um e termina outro.

“Subitamente vemos que a obra do artista nos revela que captamos a nós próprios; e então compreendemos que toda a criação, todo o pensamento humano está contido em nós”.¹

Digo isso em função, principalmente do que levantas na questão da “autoria” da obra de arte. Não é de hoje que os artistas se apropriam de outras obras ou mesmo de partes de obras redimensionando e revolucionando o conceito de autoria. Basta lembrarmos das experiências de Duchamp ou Warhol nesse sentido. Lembremos também que nem ao menos a interatividade é uma questão nova em arte, pelo menos não desde Helio Oiticica com seus Parangolés e Lygia Clark com seus Bichos. Outros tempos, outras mídias, outras leituras.  Se nós, pobres mortais, usamos e abusamos da intertextualidade, que considero extremamente saudável, por que os artistas, seres humanos, como nós, não seriam da mesma forma afetados, influenciados e constituídos dessa maneira? Creio que é o conjunto de tudo que vemos, ouvimos, lemos e experimentamos ao longo de nossas vidas, através das relações que fazemos entre elas, que nos possibilita atribuir sentido de forma singular.

Bronowski, Jacob. In: Martins, Miram Celeste. Teoria e Prática do ensino de arte: a língua do mundo. São Paulo: FTD, 2009. (p.18)

Fórum "low tech e high tech" neusa vinhas




 
Buscando em nossas “ralas” pesquisas e numa compreensão  “minimalista” da cultura digital, nos deparamos com  alguns estranhamentos...São constantes e caminham com nossa condição de  professor e de estudante em  processo.
Nestas reflexões não estão presentes em nenhuma hipótese, a lamentação.
Percebemos esta dinâmica contemporânea que nos surpreende e  que  nos coloca em  algumas situações  de “alienação” como um fenômeno irreversível.Estas novas perspectivas , estas formas diferentes de criação artística  são surpreendentes ...
Mas...
 Quais meios digitais­  podem ser considerados arte?
Como podemos “perceber” os artistas?
Todos podemos ser artistas digitais?
O que caracteriza a arte digital?Basta usar meios digitais?
A arte digital é uma categoria diferente das artes?
Enfim...as questões  são diversas.
Não temos intenção de sistematizar  estas questões, mas nos aproximar de uma reflexão neste contexto  inédito.
O que é real e o que  é virtual? Nos importa esta “separação”? Compromete o sentido ou a linguagem?
“ O virtual é cada vez mais uma dimensão do real”, nos afirma  Giselle Beiguelman, curadora da exposição 3M Mostra de Arte Digital.Ela nos coloca sobre a realidade de nosso cotidiano  e  sobre as inúmeras instâncias do real que é mediado pelos meios digitais e pelas redes nas diversas manifestações.Este “ato cultural interativo” nos coloca em redes, é delocalizada, implica além de um para um, mas de milhares para milhares.A curadora nos remete também a reflexões sobre a estética possível ,sobre a efemeridade das obras e sobre o processo de interação.A interação, esta ação inovadora é real e irreversível onde os artistas procuram estimular formas de reflexão sobre “a cultura digital “no século 21.
Com as  investigações da colega Soniamaris  e nas suas importantes reflexões  imbricadas com um tempo de “Eu”,somos convidados  a pensar esta comunicação  instantânea , a conectividade global e nos aproximar deste “simulacro virtual”.
Fragmento da postagem da colega Soniamaris...
Nada de “passividades...”
“A obra nos faz pensar sobre nossa própria condição humana. Se por um lado a obra nos oferta a possibilidade de pensarmos sobre a nossa passividade frente às mídias e ao mundo e em quanto as mudanças dependem de nossa real atuação no mundo; por outro nos deixa também expostos à nossa própria imagem como protagonistas, centro do “universo”, pela forma exibicionista e egoísta com penetramos na tela, curtindo nosso momento de “celebridade” na telinha da TV, visualidade que se dá através de nossa voz. A arte e a vida se imbricando, literatura e arte, som e imagem, “integração estética entre o low e high tech e a ciência de ponta e a ciência de garagem”, tecnofagia.”Referências


Se o espírito cibernética constitui a atitude predominante da era moderna, o computador é a ferramenta suprema que sua tecnologia tem produzido. Utilizado em conjunto com materiais sintéticos, pode ser esperado para abrir caminhos de mudança radical e invenção na arte. "

Roy Ascott

Considerando a obra que pesquisamos, e as informações que buscamos  em “ Crepúsculo dos Ídolos” de Jarbas Jacome, lendo as  buscas de outras colegas , torna-se impossível não pensar na paródia.Friedrich Nietzsche, fez paródia da obra de Wagner,Crepusculo dos Deuses, e o artista contemporâneo, com uma estética digital novamente nos remete a obra inicial.
Mas penso sobre “autorias”.Um olhar importante nas fotografias, nas músicas ,  na dança ou outras linguagens atuais  onde somos como nos diz Mirian Celeste Martins, “fabricantes de sentido”.
Que olhar é despido do outro?
Manipular, mexer, buscar outros textos...referenciar...quem é autêntico? Ou,   é relevante esta “originalidade”? Há “imagens de segunda mão”, ou  obras?
Um sinal contemporâneo seria, “subverter modelos e desarticular os referenciais?”
Poderíamos buscar Boltanski para “afirmar um certo  estado das coisas?”
Poderíamos “não” pensar em John Cage, o artista de maior influência na formação cultural digital como hoje entendemos segundo verbete da Wikipédia?
As práticas inovadoras de Cage – Silent Piece, de 1952 – abriu espaço para a interação e a multimídia?
As linguagens da arte são percebidas, apresentadas e “fruídas”  juntas, misturadas, inseparáveis...a música, a dança, o visual  e o cênico..
Estas linguagens “mescladas”,misturadas ou indissociáaveis, esta realidade  real ou virtual apresenta-se em muitas obras.
-Coreografia Digital – estudos para o corpo de silício – uma videodança de Sarah Ferreira

-Cubo – Uma brincadeira sobre o lado de dentro e o lado de fora inspirada nos conceitos de “A Lógica do Sentido”, de Gilles Deleuze e no universo  de Alice de Lewis Carrol.
Referências

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Crepúsculo dos Ídolos


“Crespúsculo dos Ídolos”












Sônia Maris Rittmann
Polo POA 01 UFRGS


“Pois o que é liberdade? 
Ter a vontade da responsabilidade por si próprio. 
Preservar a distância que nos separa.”
F.W. Nietzsche, In: Crepúsculo dos Ídolos, 1888 
(Tradução de Paulo César de Souza)

 “Crepúsculo dos Ídolos”, alusão óbvia a obra do filósofo Nietzsche, tanto pelo título como pela temática. Paródia da paródia: Nietszche parodia a ópera de Wagner, Crepúsculo dos Deuses, e em seu Crepúsculo dos Ídolos critica o culto aos ídolos, às “ilusões antigas e novas do Ocidente: a moral cristã, os grandes equívocos da filosofia, as idéias e tendências modernas e seus representantes”¹, para isso utiliza a metáfora do “martelo", presente no subtítulo, quebrando velhos dogmas, representados pelos ídolos que no fundo são ocos, vazios.
Crespúsculo dos Ídolos, de Jarbas Jácome, trata-se de uma instalação e é constituída de um ambiente com cinco TVs ligadas em um canal de TV aberta, uma câmera e um microfone à frente delas. A partir do momento em que o visitante produz algum som próximo ao microfone a imagem das TVs se distorce, variando a coloração de acordo com a intensidade e o tempo de duração do som produzido pelo visitante. As distorções evoluem seguindo algumas cores do crepúsculo: amarelo, laranja, vermelho, azul. Após passar pela cor azul, a imagem do canal desaparece e em seu lugar aparece a imagem do visitante com um efeito de brilho que também varia de acordo com a intensidade de sua voz. Enquanto o visitante produzir som, sua imagem permanece na TV. Quando houver silêncio as TVs voltam, aos poucos, a exibir a imagem do canal, como antes.
A instalação Crepúsculo dos Ídolos, de Jarbas Jácome, tem a intenção de proporcionar ao visitante uma experiência sensorial, nela deixamos de ser consumidores passivos e passamos a interagir com a obra. Somente a partir da interação é que a obra se materializa.
A obra nos faz pensar sobre nossa própria condição humana. Se por um lado a obra nos oferta a possibilidade de pensarmos sobre a nossa passividade frente às mídias e ao mundo e em quanto as mudanças dependem de nossa real atuação no mundo; por outro nos deixa também expostos à nossa própria imagem como protagonistas, centro do “universo”, pela forma exibicionista e egoísta com penetramos na tela, curtindo nosso momento de “celebridade” na telinha da TV, visualidade que se dá através de nossa voz. A arte e a vida se imbricando, literatura e arte, som e imagem, “integração estética entre o low e high tech e a ciência de ponta e a ciência de garagem”, tecnofagia.

Referências:

Vídeo no youtube

Blog da instalação:

Fotos da instalção:

domingo, 16 de setembro de 2012

O Universo das Imagens Técnicas: Elogio da Superficialidade



Ao ler os capítulos 3, 4 e 5 do livro “O Universo das Imagens Técnicas: Elogio da Superficialidade” escrito por Vilém Flusser em 1985, fiquei me imaginando há 27 anos atrás e em quanto o mundo e a sociedade mudou, para o bem e para o mal, nesse curto espaço de tempo, e em quanto teria esse texto de atual e relevante para o estudo da imagem e da tecnologia.
Vivemos, hoje, em uma época em que a imagem domina completamente nossas vidas, por mais que tentemos resistir. As inúmeras conquistas no campo da tecnologia e da imagem afetam o modo como compreendemos o mundo. Informação não é conhecimento, e todo esse bombardeio de imagens, processadas de forma superficial e sem reflexão pode levar a uma ilusão de que estamos “evoluindo”.  
Pensando nessas questões, selecionei um trecho do texto em que o Flusser nos diz:
“O fotógrafo e a câmera ‘querem’ provocar em nós determinadas vivências, determinados conhecimentos, determinados valores (...) O pretenso significado dessas imagens técnicas não passa de um imperativo a ser obedecido. (...) Em termos mais adequados: as imagens técnicas significam programas e visam programar os seus receptores. As cenas técnicas são métodos de como programam a sociedade”.  
Compreender a intenção, nem tão oculta assim, dos criadores de imagens parece ser um dos desafios a que devemos nos propor, como cidadãos, como professores, como seres pensantes. 
 
A imagem que selecionei para ilustrar o fragmento foi uma propaganda, premiada com o Leão de Ouro em Cannes 2012, da mundialmente conhecida Benetton, que tem como marca registrada a “polêmica” a cada nova campanha publicitária. Minha intenção ao selecionar essa imagem é mostrar que pouco importa se a imagem é ou não falsa, mas sim, o fato de que ela aponta uma direção e nos faz pensar no mundo em que vivemos e na forma como lidamos com ele. Fotógrafo - Oliviero Toscani - ao criar uma imagem tem uma intenção: provocar uma reação nos seus receptores. Ponto para eles. 

Imagem em:
Sobre a polêmica:  
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/11/111116_benetton_polemica_cc.shtml
Flusser, Vilém. Universo das imagens técnicas. Disponível em
 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Dicionário Crítico de Artes (online)



Exemplo do que você pode encontrar lá:

Figura Humana

Ana Rodrigues

No âmbito da História da Arte Ocidental, a representação da Figura Humana tem sido um dos temas centrais das Artes Visuais (desde a pré-História até aos nossos dias). A vontade e, ao mesmo tempo, a necessidade do homem de se representar a si mesmo, de se imitar a si mesmo, e de guardar memória de si mesmo, fez com que deixasse de se remeter apenas para a esfera das formas, ultrapassando-as largamente, situando-se assim na questão mais vasta da visão do mundo e da sua representação, devendo esta para tal ser entendida como um processo de reflexão sobre a origem e a evolução da própria humanidade. 

Palavras chave: arte da pré-história, representação visual, corpo (...)




sábado, 8 de setembro de 2012

Estéticas tecnológicas






“Qualidade, luz, cor, profundidade
Que estão só diante de nós,
Aí só estão por que despertam eco em nosso corpo,
Por que este lhes dá acolhida.”
Maurice Merleau-Ponty

Ao refletir sobre a cultura visual contemporânea, impossível escolher outro vídeo que não fosse o da apresentação do Roger Waters com participação especial de David Gilmour para comentar. Cresci ouvindo Pink Floyd. Acredito que muito de minha bagagem estético-musical tenha sido forjada por influência de bandas que faziam  o que se chamava na época de “rock progressivo”. 
Aliar música a elementos visuais e tecnológicos não é novidade para Roger Water, cérebro da banda, que sempre teve uma postura de vanguarda. Sua criatividade e inventividade vai desde pendurar porcos infláveis gigantes em fábricas desativadas, para o lançamento do álbum “Animals” até o a idealização-produção de filmes que se tornaram lendas da contra-cultura como o “The Wall”.  Interessante perceber que Roger Waters, ao contrário de boa parte dos músicos de sua geração, não para de ousar e a cada show que promove é sempre uma explosão de som, luz e tecnologia.
A sua mais recente turnê, que passou por Porto Alegre em março desse ano, contou com um público bastante expressivo de todas as faixas etárias, é um exemplo do uso das imagens no contexto das estéticas tecnologicas para produção de efeitos deslumbrantes “capazes de acionar a rede de percepções sensíveis do receptor, regenerando e tornando mais sutil seu poder de apreensão das qualidades daquilo que se aprensenta aos sentidos”¹.
Roger Waters utiliza a linguagem artística, sonora e visual, de um modo muito singular, articulando e mobilizando todos os sentidos de seus expectadores, sem deixar de lado sua capacidade de dizer o que pensa, de forma poética, que nos leva a refletir sobre nosso lugar no mundo. Realidade e ficção misturam-se, barreiras (muros) se estilhaçam, um mundo cinza se torna multicolorido e fragmentado. O poder da linguagem artística, simbólica, manipulada, enriquecida pelas diferentes mídias, espandida através de uma outra dimensão, e re-significada pelas mãos do artista, metáfora, talvez de um mundo em ebulição permanente, sem fronteiras, sem respostas prontas...


Referências:
¹SANTAELLA, Lucia. As imagens no contexto das estéticas tecnológicas.
Acesso em 05/09/2012.
Vídeo Roger Waters and David Gilmour: Comfortably Numb. Live. 02 Arena 2011.
Acesso em 05/09/2012.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Derivas...Errâncias...


Wladimir Kush


Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

Alberto Caeiro

sábado, 1 de setembro de 2012

Minha Orientadora do TCC


Possui graduação em Artes Plásticas / Habilitação Desenho e Pintura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1978), mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1994) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2008). Atualmente é Professora Adjunta, nível II, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Artes Visuais, com ênfase em Desenho e Pintura, atuando principalmente nos seguintes temas: Ensino e Pesquisa da Linguagem do Desenho, Pesquisa da Linguagem da Pintura e Ensino e Pesquisa em Semiótica Discursiva. Atua na Educação à distância, Coordenando o Curso de Licenciatura em Artes Visuais. Desenvolve pesquisa relacionada a Estudos Curriculares de Cursos de Formação em Artes Visuais, Graduação e Pós-Graduação, tendo participado da elaboração do Projeto Pedagógico de Curso de Artes Visuais da UFRGS, e coordenado a elaboração do Projeto Pedagógico de Licenciatura em Artes Visuais modalidade EAD da UFRGS - REGESD - PROLICEN 2 sendo atualmente Coordenadora do Curso de Artes Visuais presencial e à distância na UFRGS. Realiza pesquisa na área de Semiótica, Filosofia da Arte e Epistemologia da Arte.