Jarbas Jácome, Humano, Demasiado Humano
Pode
até parecer que não temos nada para fazer e que ficamos o dia inteiro
pesquisando na internet e que não temos vida própria, mas confesso,
muitas vezes as descobertas são pura obra de derivas por outras
paragens... Então, dando continuidade a nossa interlocução sobre arte, tecnologia e cibercultura, descobri
outro trabalho bem bacana do nosso artista escolhido.
Pensei em selecionar
apenas alguns fragmentos do material pesquisado sobre essa outra obra do
artista Jarbas Jácome, mas depois, pensando melhor, percebi que muito do que
ele propõe se perderia nessa “interpretação”.
Jarbas Jácome adora
Nietzsche, e eu também, talvez por isso a minha empolgação com a descoberta
desse artista, multi-talentoso, músico, cientista da computação, vencedor de vários
prêmios nas áreas em que atua, e que, diferentemente de muitos, disponibiliza
em seu site materiais: projetos, esquemas gráficos das montagens de suas obras,
teses, rascunhos, códigos free e fluxogramas para todos que se interessarem por
programação de computadores. Além disso, ainda desenvolve projetos de capacitação
e multiplicação arte-computação em escolas. Generosidade é mais uma das
qualidades dele. Ponto para a Humanidade.
Então, transcrevo
abaixo o que o próprio Jarbas diz sobre sua obra “Humano, Demasiado Humano” de
Jarbas Jácome:
“67. “Sancta Simplicitas“37 da virtude.
– Toda virtude tem privilégios: por exemplo, o de levar seu próprio
feixezinho de lenha para a fogueira do condenado.
(37) “sancta
simplicitas“: “santa simplicidade” – expressão atribuída a Johann Hus, o
sacerdote checo condenado por seu reformismo, ao ver uma velha senhora jogar um
pouco de lenha na fogueira onde estava sendo queimado, em 1415.
530. Gênio tirânico. –
Quando está vivo na alma um desejo invencível de se impor tiranicamente, e o
fogo é constantemente animado, mesmo um pequeno talento (em políticos,
artistas) torna-se aos poucos uma quase irresistível força natural.
566. Amor e ódio. – O amor e
o ódio não são cegos, mas ofuscados pelo fogo que trazem consigo.
570. Sombras na chama. – A chama não é tão clara para
si mesma quanto para aqueles que ilumina: assim também o sábio.
585. Pensamento mal-humorado. – Aos homens sucede o
mesmo que aos montes de carvão na floresta. Apenas depois de terem queimado e
carbonizado, como estes, os homens jovens se tornam úteis. Enquanto
ardem e fumegam, são talvez mais interessantes, mas inúteis e freqüentemente
incômodos. – De modo implacável, a humanidade emprega todo indivíduo como
material para aquecer suas grandes máquinas: mas para que então as máquinas, se
todos os indivíduos (ou seja, a humanidade) servem apenas para mantê-las?
Máquinas que são um fim em si mesmas – será esta a umana commedia?
604. Preconceito a favor das pessoas frias. – Pessoas
que rapidamente pegam fogo se esfriam depressa, sendo então de pouca confiança.
Por isso as que são sempre frias, ou assim se comportam, têm a seu favor o
preconceito de que são particularmente seguras e dignas de confiança: são
confundidas com aquelas que pegam fogo lentamente e o conservam por muito
tempo.
Os aforismos acima foram
selecionados de Humano, Demasiado Humano: um livro para espíritos livres; tradução
de Paulo César de Souza (2005). Título original: Menschliches,
Allzumenschliches. Ein Buch für freie Geister (1878, 1886), Friedrich Wilhelm
Nietzsche.
A instalação Humano, Demasiado Humano consiste em
uma sala escura com uma caixa de fósforo na entrada da sala. Espera-se que o
visitante pegue a caixa, entre na sala e risque o fósforo. O fósforo aceso
desencadeia imediatamente a execução de um vídeo de um galho de madeira
queimando projetado em uma das paredes da sala com o som amplificado.
Os materiais e técnicas
utilizados nessa instalação são: caixa de fósforo, webcam, projetor e
computador rodando GNU/Linux, Pure Data/GEM utilizando o objeto pix_blob para a
detecção da luz do fósforo ao ser aceso.
A idéia da instalação
surgiu em 2008 entre um encontro e outro com a artista plástica pernambucana
Juliana Notari, com quem primeiramente falei da idéia que tive na época e a
convidei para desenvolvê-la junto comigo, mas acabamos não tendo oportunidade
de fazê-lo. Acabei retomando a idéia para desenvolvê-la durante uma oficina que
fui convidado para mediar no Conexões
Estéticas, idealizado pela Professora Walmeri Ribeiro do curso de Cinema e Audiovisual da UFC. O
objetivo principal da oficina foi apresentar aos artistas residentes Camila
Vieira, Emilly Gama, Luciana Vieira, Nathália Araújo, Shirley Martins e
Tarcísio Rocha o software Pure Data/GEM, afim de que os mesmos pudessem depois
desenvolver suas próprias instalações interativas. Além disso alguns deles,
Luciana, Tarcísio, junto com a Luana Santos contribuiram para a gravação das
imagens do fogo utilizada na instalação que também contou com a ajuda
fundamental de Cesar Baio para operação da câmera e Shirley Martins para
captação do som, assim como Walmeri Ribeiro, Fernanda Gomes que também estavam
presentes e Jaime Vieira que cedeu a casa para a gravação do vídeo.
A gravação desse vídeo
de demonstração da instalação foi feita durante a abertura da exposição
Conexões Estéticas no Casa Alpendre (Rua José Avelino, 495 — Praia de Iracema —
Fortaleza/CE) no dia 13 de dezembro de 2010.
A montagem da obra para
esta exposição contou com a ajuda fundamental de César Baio, Tarcísio Rocha,
Luciana Vieira, Luana Santos e Walmeri Ribeiro e Dino e Alexandre ambos do Alpendre.
Referências:
vídeo no youtube:
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