Caixa de Pandora

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mídia e Educação: conexão e transformação



Somos seres eminentemente sociais. Não vivemos isolados em “uma ilha”. Tudo o que nos cerca nos afeta e nos constitui, para o bem e para o mal, e faz de nós o que somos e um pouco do que gostaríamos de ser. A mídia, seja ela em que formato se apresentar, é um desses elementos que nos influencia diariamente através veiculação de mensagens nem sempre claras, mas muito eficazes.

Diariamente, somos expostos, através da televisão, do rádio, do jornal impresso e da internet a um volume de informação, muitas vezes de qualidade e relevância duvidosas, e que pautam o nosso dia de forma quase que escravizante. Difícil se sentir parte de um grupo quando esse quer discutir a cena de ontem de uma novela ou as notícias de crimes transformados em espetáculo, ou ainda sobre a vida íntima das celebridades instantâneas. Quando nos recusamos a falar a respeito, parecemos, muitas vezes, alienígenas.

Se não nos comportamos, vestimos ou pensamos de conformidade com a “maioria”, somos excluídos e, automaticamente, transformados exceção. De uma forma muito perversa, somos levados a acreditar que todos têm obrigação “ser felizes”, vinte e quatro horas por dia, como nos “comerciais de margarina” da televisão. Somos bombardeados com imagens que vinculam a felicidade com o consumo de determinados bens materiais. Esse é um processo ilusório, que vende uma imagem fantasiosa e bela, como sendo resultado de uma “necessária” aquisição material.

A mídia manipula de forma muito hábil as ferramentas de coerção e nos faz crer que aqueles sentimentos e desejos seriam os nossos. As estratégias utilizadas pela mídia apelam aos sentimentos mais básicos dos seres humanos: segurança, bem estar, saúde, prazer, felicidade... Valores são manipulados e vinculados a produtos. O mercado é a nova religião. Ter passou a ser mais importante do que ser. Começa na mais tenra idade, com os pequenos, expostos as propagandas televisivas, exigindo dos pais brinquedos de determinadas “marcas”. Depois esse “desejo” por determinadas marcas passa, na adolescência, a ser um símbolo de identidade grupal, de pertencimento a determinada classe social, de inclusão através do uso de determinados produtos. Passamos a agir de forma massificada, deixamos de ser cidadãos para sermos consumidores, para quem o mais importante é possuirmos.

Um belo exemplo de como a mídia nos influencia pode ser visto nas propagandas televisivas. Uma propaganda, em específico, trago para análise e comprovação do quanto somos manipulados, através da exploração de nossos sentimentos e desejos. Trata-se de uma propaganda, criada pela África e conta com TV, mídia impressa, internet, PDV e endomarketing da empresa de telefonia móvel Vivo.

A propaganda em questão: “VIVO– O amor nos conecta” tem a duração de um minuto e tem como tema a música “One Love”, do Bob Marley, o que por si só já cria uma imensa empatia com quem está assistindo a propaganda. O texto, mesmo em inglês, é de fácil compreensão, além de ser muito conhecido entre os jovens. O músico, além de um grande compositor, foi durante toda sua vida, adepto de uma cultura de não-violência e de promoção da paz e do amor entre todos os povos. As pessoas que participam da propaganda são representantes, de maneira bem pouco sutil, das diferentes raças, gêneros, idades. A empresa publicitária foi muito feliz na escolha dos biotipos, que dão uma idéia de perfeita integração entre as diferenças. Adultos, crianças. Adolescentes, idosos, brancos, negros, asiáticos, indígenas, gordos, magros se revezam e formam palavras (amor, conexão, transformação, aprender, cuidar, torcer, criar) com as letras inscritas em suas camisetas brancas, clara alusão a cor representativa da paz em contraste com os fundos coloridos e diversificados tanto do ponto de vista arquitetônico como social. Os cenários, que se sucedem, vão do urbano ao litorâneo, do nordeste ao sul do país, da praça à biblioteca... Na cena não aparecem conflitos, tudo está em harmonia, aparentemente conectados.

A frase final é emblemática “O amor nos conecta, a conexão nos transforma”. Todas as diferenças e conflitos se dissipariam através da conexão. Conexão que significa tecnologia digital, internet, celulares, iphones, tablets...Conexão pela “Vivo”, por que, afinal de contas, é para isso que as propagandas são feitas, para vender. Ou alguém duvida disso? Por acaso, alguém lembrava ao assistir a propaganda que o objetivo final era vender produtos? Sim, caros consumidores, se é para vender, quanto maior o nicho de mercado melhor. Investe-se pesado em pesquisa de mercado, em técnicas de venda, na criação de um perfil da empresa, em semiótica, tudo isso para que os produtos tenham a “cara” do consumidor. Se esse consumidor tem um perfil amplo, diverso, multicultural é lá que estará o foco das campanhas. Se, as pessoas ficam mais propensas a consumir quanto motivadas, emocionadas e embaladas por uma bela música, uma bela imagem ou por se verem “retratadas” na propaganda é isso que a mídia vai mostrar.

Cabe a nós, como cidadãos e professores, mais ou menos conscientes da manipulação pela qual passamos constantemente, tentar desmistificar as propagandas, trazendo a tona os elementos que as constituem, as intencionalidades explícitas e implícitas, os juízos de valor embutidos em cada uma delas, o que é dito e como é dito. Abordar a mídia e, principalmente, a propaganda em sala de aula de forma aberta, discutindo sem pré-conceitos, ouvindo os alunos, trocando idéias, informações, desconstruindo conceitos e discursos que representam determinados grupos sociais, penso ser um caminho a ser percorrido. Pensar de uma maneira mais crítica, questionando as “verdades” que nos vendem através da mídia, significa não se deixar levar pelas aparências e construir uma transformação efetiva no modo como nos relacionamos no mundo real, com pessoas reais, em conexões verdadeiras e significativas. A sala de aula passaria a ser um espaço em que nos perguntaríamos por que somos o que somos e como nos tornamos o que somos. Espaço em que nos daríamos conta de que somos moldados por várias instituições (escola, família, igreja, mídia...) e que reconhecer todas essas influências é uma forma de construir nossa autonomia.

Referências Bibliográficas:

FISCHER, Rosa. Educação, subjetividade e cultura nos espaços midiáticos.

http://aidarosadieguezsabio.pbworks.com/f/3educa%C3%A7%C3%A3o+subjetividade+e+cultura.doc

“Vivo - O amor nos conecta”. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=YhPOhhUAooo

“One Love”, Bob Marley. Disponível em

http://letras.terra.com.br/bob-marley/441576/traducao.html

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