Caixa de Pandora

domingo, 17 de abril de 2011

Níveis de Compreensão Estética

Ilustração 1

Ilustração 2

Síntese do texto Níveis de compreensão estética

Sônia Maris Rittmann

Pólo UFRGS POA 1

Pesquisas realizadas com alunos do ensino básico em Caxias do Sul demonstraram que há três tipos de pensamento estético, que, por apresentarem-se em ordem crescente de complexidade e sofisticação, são chamados de “níveis” de pensamento ou compreensão estética.

Compreendem-se níveis como conjuntos de ideias ou intuições que se relacionam por terem algo em comum. As ideias de nível III são mais abrangentes, refinadas e adequadas que as dos níveis anteriores. Porém, o aluno pode apresentar em uma mesma leitura diferentes níveis de compreensão estética, pois o mesmo não está em um nível determinado, mas faz uso de diferentes ideias para interpretar e julgar o que vê.

O Nível I

O Nível I define-se por características do pensamento concreto na leitura estética, que gera uma interpretação calcada na busca de coisas concretas apresentadas na imagem. O leitor vê seu mundo representado. Crianças da educação infantil e das séries iniciais, por terem, segundo Piaget, o pensamento concreto, possuem esse tipo de leitura. Porém, há muitos adultos que, principalmente pela falta de familiaridade com a arte, permanecem com esse tipo de leitura/compreensão.

A partir dos depoimentos dos alunos, cuja idade varia de 9 a 17 anos, sobre as imagens analisadas¹, percebe-se que, nesse nível, o leitor descreve o que ele vê, fisicamente, podendo algumas vezes passar à narrativa.

Não há, no Nível I, ideia da existência de intencionalidade do artista na utilização de símbolos e metáforas como forma de expressão de algo que não está posto. Não há como sair da concretude da imagem. No Nível I a leitura é mentalística.

A atribuição de sentido é expressa literalmente, como, por exemplo, na leitura da imagem do rosto em Lasar Segal, em que o leitor generaliza seus esquemas e interpreta-o como uma máscara.

O Julgamento no Nível I

O julgamento no Nível I forma-se pela ideia de que a qualidade das imagens é definida pela qualidade da cópia do mundo realizada pelo artista. Nessa lógica, o critério de julgamento passaria pela “copia fiel”, “realística” do mundo.

Ao associar ao mundo físico, concreto a responsabilidade pela natureza e valor da obra, o leitor no Nível I não faz distinção entre o julgamento estético e moral. Para esse Nível de compreensão, o ruim é feio e o bom é belo.

O Nível II

No pensamento de Nível II, como principal característica, temos a mudança de foco para o mundo interior do artista como principal responsável pela existência da obra. Não é mais o mundo físico quem dita as regras, mas o mundo subjetivo, particular do produtor, que determina a qualidade e a natureza da obra.

Nesse nível de pensamento, ao reconhecer a subjetividade do artista, temos uma ideia mais avançada do ponto de vista estético. Cognitivamente o aluno já percebe algo abstrato embora ainda associe esse sentimento a um estado de espírito do artista. Nesse caso ainda estamos diante de uma ideia realística, mesmo que seja a realidade interior do próprio artista que está sendo representada na obra.

O julgamento no Nível II

No Nível II o artista ainda é visto como um copista do real. Ainda percebe-se a fusão entre os julgamentos estético e moral. Ainda há o julgamento do tema e não da obra me si. Além do tema, esse nível de compreensão considera como critério de julgamento a criatividade e a cor relacionada a sentimentos.

No pensamento de Nível II o critério realístico começa a mudar. Ocorre aos poucos a depreciação do realismo fotográfico, que levará ao Nível seguinte, que tem como critério a expressividade da obra.

Assim, pode-se dizer que o Nível II, em que o sentimento representado é o do artista, é um nível intermediário entre o Nível I, em que a arte mostra o sentimento do personagem nela representado, e o Nível III, em que o sentimento é parte da obra em sua totalidade.

O Nível III

O Nível III é o mais abrangente e sofisticado encontrado na pesquisa. Nele, o leitor pode pensar em possibilidades, em função das habilidades das operações formais. Nesse Nível de compreensão a leitura transcende a concretude das coisas representadas na imagem. Os significados não são mais buscados no mundo como no Nível I, ou na interioridade do artista como no Nível II, agora, eles emergem das subjetividades, do artista e do leitor.

Em um primeiro momento, a responsabilidade pela existência da obra está nas mãos do artista. Pensa-se na intencionalidade do autor e depois nos significados dos elementos para o leitor da obra.

Em um segundo momento, através de sua consciência reflexiva, o leitor assume uma atitude mais ativa na construção de significados e percebe que as leituras possíveis são múltiplas e ele tem que lidar argumentativamente com diferentes hipóteses.

Segundo Parsons (1996) a origem do significado vem do mundo do observador somado ao mundo daquele que envia, o artista. Ao interpretarmos, buscamos juntar o significado que tinha o artista ao nosso mundo. O significado surge a partir da conexão entre esses dois mundos: o do artista e o do leitor.

O julgamento no Nível III

A interpretação no Nível III revela o sentido abstrato dos elementos da obra. Há nesse Nível de compreensão a predominância da expressividade da obra em si em detrimento dos atributos do mundo representado. Importa ao leitor se a obra tem uma mensagem, uma ideia que possibilite a reflexão sobre questões importantes.

Utilizando um termo de Freeman e Sanger (1995), o pensamento no Nível III é “mentalístico”. Essa consciência é possível na adolescência, mas não surge em todos os alunos. O pensamento abstrato não é garantia de acesso ao pensamento estético do Nível III. O que determina essa capacidade é a familiaridade com a leitura e a discussão estética.

Considerações finais

O termo “nível” não serve para caracterizar pessoas e sim pensamentos.Durante as pesquisas ficou claro que as ideias é que são classificáveis e não os alunos. A construção da compreensão estética oscilou entre ideias complexas e sofisticadas (mentalísticas) e outras ingênuas e limitadas (realísticas), do ponto de vista estético e cognitivo. Ou seja, mesmo apresentando um nível de complexidade em um depoimento, outros níveis podem aparecer.

Percebe-se assim a não linearidade do pensamento estético dos alunos, o que está de acordo com pressupostos das teorias cognitivas que afirmam que as formas artísticas de conhecimento “são menos seqüenciais, mais holísticas e orgânicas que as outras formas de conhecimento”. Assim, os três níveis podem ser entendidos como uma estrutura que explicita a natureza do desenvolvimento da compreensão estética visual de alunos do ensino básico.

Notas:

¹ Ilustração 1 - Lasar Segall, Rua de Erradias, 1956. Óleo sobre tela. Museu Lasar Segall, e Ilustração 2 - Cindy Sherman, Sem Título nº96, 1981. Fotografia em cores, 61 x 122 cm. Coleção Saatchi, Londres

Referências Bibliográficas:

Rossi, Maria Helena Wagner. Níveis de compreensão estética de alunos do Ensino Básico. Disponível em http://moodle.regesd.tche.br/mod/resource/view.php?id=14390

Acesso em 21/04/2011.

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