Meu nome é Sônia Maris, sou do signo de escorpião, o que por si só já explicaria muita coisa; sou casada com L. e moro, simultaneamente, em duas cidades: uma urbana, outra litorânea; tenho muito(a)s amigo(a)s em várias partes do planeta e cultivo-o(a)s com muito carinho; sou professora da rede estadual de ensino faz 25 anos e atuo na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Minha formação é em Letras com habilitação para lecionar Literatura, Língua Portuguesa e Redação. Amo literatura, cinema, fotografia, pintura... Faço e aprecio Arte por puro prazer. Sou muito crítica, como já devem ter percebido, mas, também, muito comprometida com tudo que eu faço. Penso que se estamos nos dispondo a fazer algo que seja intenso e significativo para todos.
Pensar as “transformações sofridas, absorvidas e reconstruídas por nós” que ocorreram durante esse período tão curto, dois anos apenas, me fez rememorar algumas coisas que já vinham me incomodando há bastante tempo e que de uma forma ou outra acabava não sendo verbalizada.
A primeira coisa que me vem à mente é que não somos uma tabula rasa, temos uma história e uma vida anterior à UFRGS. Cada uma de nós, por mais diversos que sejam os caminhos, tivemos uma caminhada até aqui, tivemos nossas próprias experiências profissionais, pessoais, políticas e culturais. Nunca fomos “somente professoras”.E é a partir desse nosso universo que as articulações com o que nos é novo serão constantemente reconstruídas.
A segunda, sem sombra de dúvida, é a velocidade com que estamos fazendo esse curso. Estamos sempre num ritmo alucinante: leituras, interpretações, produções diversas, trabalhos, prazos... Estamos submetidas diariamente a um volume imenso de informação e tendo pouco tempo para que essa informação, de fato, seja assimilada e se transforme em conhecimento significativo. O que permanece o mesmo e o que está mudando em nós? Estamos saboreando de fato esse curso em todo seu potencial ou apenas engolindo um fastfood?
Desafios são muito bons. Pressão funciona em algumas situações e apenas para algumas pessoas. Outras preferem saborear as descobertas, “experenciar” cada novidade, como nos disse, tão poeticamente, a Adriana Daccache. Ter “tesão” pela arte e pela vida, como nos disse a emocionada tutora de Gramado, que não lembro o nome, é o que nos faz levantar da cama todos os dias.
A terceira questão diz respeito ao culto exagerado à tecnologia. O necessário domínio das TICs foi marco divisório para grande parte das colegas. Confesso que já possuía algum conhecimento na área e utilizava a rede de computadores de forma menos intensa, porém efetiva, desde que o Bill Gates lançou os primeiros Windows em 1995. Faz tempo, hein? Desculpe-me quem pensa o contrário, mas dominar uma ferramenta, um software, por mais avançado ou complexo que seja, não é garantia de qualidade de trabalho, seja ele qual for. Conhecemos, todas nós, vários exemplos de pessoas que nunca viram um computador e que têm uma riqueza cultural, artística e pessoal que faz inveja a muito PhD. Tenho muito medo das generalizações. Crescemos, sim, ao dominar as tecnologias, mas não podemos pensar que “isso” fará de nós professores e pessoas melhores. Senti uma certa apreensão ao ouvir os depoimentos de algumas colegas que acreditam que o domínio tecnológico bastaria para que mudanças fossem efetivadas no seu ser professor(a). Espero ter entendido errado. Dominar as tecnologias é importante, mas não basta. Todo conhecimento deve estar a serviço de algo maior: a constituição de um ser humano melhor. Para isso todo professor além dos conhecimentos específicos de sua área deve ter consciência de seu papel político, cultural e social.
A quarta e última questão que gostaria de levantar é a do conhecimento. É inegável a ampliação do conhecimento em Artes Visuais que se deu através de tudo que fizemos ao longo desses dois anos: de visitas a museus, galerias, ateliês, bienais e outros espaços culturais; de cursos, seminários e viagens de estudo; das leituras; das experimentações em projetos com desenho, fotografia, pintura, modelagem... Não nego o valor de tudo isso que realizamos e ainda vamos realizar.
Penso, porém, que as inúmeras discussões coletivas e colaborativas em fóruns e fora deles, nos encontros presenciais ou virtuais, das trocas entre colegas, tutoras e professores foram, para mim, o que de mais importante se passou nesses dois anos de curso de Artes Visuais. Crescemos nessas trocas, exercitamos a convivência com o diferente de nós, que nos completa e nos desafia, ampliando nossa compreensão de mundo e da arte. Esse convívio paradoxal, ao mesmo tempo distante e próximo, somente foi possível graças ao Curso de Artes Visuais, no formato EAD. Sem ele não teríamos conhecido e convivido com essas pessoas “enlouquecedoramente” fantásticas que nos fazem ser o que somos. Tenho certeza que se não fosse pelo sentido de pertencimento a esse grupo, tão plurissignificativo, já teria abandonado o barco, em meio à travessia, e afundado nas águas do Aqueronte.
Namastê
Sônia Maris
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