Caixa de Pandora

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Fotografia: o olhar que olha para dentro e para fora


fotos dos alunos de Lea Miasato

foto Cristiano Mascaro

foto Vick Muniz

Apreciação crítica do relato Fotografia: olhar que olha para dentro e para fora”


“A produção de arte faz a criança pensar inteligentemente acerca da criação de imagens visuais, mas somente a produção não é suficiente para a leitura e o julgamento de qualidade das imagens produzidas por artistas ou do mundo cotidiano que nos cerca. (...) Temos que alfabetizar para a leitura da imagem. Através da leitura das obras de artes plásticas, estaremos preparando a criança para a decodificação da gramática visual, da imagem fixa e, através da leitura do cinema e da televisão, a prepararemos para aprender a gramática da imagem em movimento. Essa decodificação precisa ser associada ao julgamento da qualidade do que está sendo visto aqui e agora e em relação ao passado (1991, pp. 34-35).¹

Diante de tantos relatos interessantes de experiências de colegas/professores, no site Arte na Escola, qual escolher? Ao fazer minha escolha, já aponto uma predileção, seja pela temática, seja pela linguagem desenvolvida no trabalho, seja pelo nível de ensino contemplado na experiência.

Minha escolha recaiu sobre o relato de um trabalho desenvolvido em turmas de ensino Médio: Fotografia: olhar que olha para dentro e para fora”, de autoria de Lea Miasato. O projeto de trabalho de Lea desenvolveu-se a partir de uma proposta de trabalho do governo do estado de sua região, São Paulo, e contemplava a fotografia como linguagem artística a partir da leitura da obra de dois artistas-fotógrafos: Cristiano Mascaro e Vik Muniz.

O relato da professora aponta que o trabalho iniciou com a discussão da fotografia digital, tão acessível a todas as camadas da população, em comparação com os processos fotográficos antigos, caros e quase inacessíveis para boa parte da população. Por outro lado a discussão também envolveu as questões da banalização das imagens provocada por essa facilidade de capturar-se imagens em comparação com outra forma de fotografar, outra forma de olhar e perceber o mundo que nos cerca, nas palavras da professora, com “mais calma”.

Durante um mês, tempo que durou o projeto, os alunos foram levados a repensar a maneira como eles fotografavam até então e em como se apresentavam as imagens fotográficas. Foram analisadas as imagens dos fotógrafos citados e dos próprios alunos. Foi processo de idas e vindas, que envolveu pesquisa, experimentação e reflexão. Os alunos foram incentivados a exercitar o olhar de uma nova maneira, incomum, mais atenta, reflexiva, levando em conta questões estéticas da linguagem fotográfica, percebendo a fotografia como não apenas como um registro da realidade, mas também como “produtora de outras realidades como construção simbólica”²

A forma lúdica como foram proposta as atividades, ao utilizar a fotografia, uma coisa que todo adolescente utiliza cotidianamente, de uma nova maneira, como uma linguagem artística, a partir de um pensamento estético, alargou as possibilidades de representação de seu cotidiano, e surpreendeu positivamente a professora.

No desenvolvimento do projeto, foram contemplados o conhecimento da arte, através da história da fotografia, dos usos da fotografia em diferentes épocas e contextos; a apreciação da arte, através da análise crítica da imagens fotográficas dos fotógrafos e dos próprios alunos possibilitando o desenvolvendo o senso estético, através do conhecimento adquirido dos elementos da linguagem fotográfica; e, por fim, o fazer artístico, através da produção de sua próprias fotografias, experimentando os recursos expressivos da linguagem fotográfica em suas novas criações.

Penso que a proposta da professora Lea foi muito feliz em todo o desenvolvimento do projeto. Percebe-se em seu relato que a proposta triangular de Ana Mãe está implícita em todas as etapas. A etapa final, com a exposição dos trabalhos realizados pela turma e a abertura de um diálogo com os visitantes, através dos registros de suas impressões, privilegiou uma forma de construção artística que não se encerra em si mesma, mas que é processual, se constrói e amplia a cada novo olhar. O olhar de dentro, o olhar de fora, o olhar do outro.

Referências bibliográficas:

¹BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos São Paulo: Perspectiva: Porto Alegre: Fundação IOCHPE, 1991.

²Miasato, Lea. Fotografia: olhar que olha para dentro e para fora. Disponível em http://www.artenaescola.org.br/sala_relato.php?id_relato=165 Acesso em 03/04/2011.


2 comentários:

  1. Fico feliz por compartilhar o trabalho em arte educação com outros arte educadores..obrigada pela partilha!!!

    ResponderExcluir
  2. Oi, Léa!
    Obrigada pelo comentário tão carinhoso.
    Acredito que esse seja mesmo o nosso caminho: partilhar!
    Por falar em partilhar, quero deixar aqui registrado o endereço do teu blog: http://wwwdiariodeclasse.blogspot.com/
    Abraços, Sônia Maris

    ResponderExcluir