Caixa de Pandora

terça-feira, 24 de maio de 2011

Ensino de Artes Visuais na Contemporaneidade (28/05/2011)

Elida Tessler - "Dubling"

ENSINO DE ARTES VISUAIS NA CONTEMPORANEIDADE


Sônia Maris Rittmann

Pólo UFRGS POA-1

As práticas educativas, no âmbito das artes visuais ou não, sempre surgem das relações entre o contexto histórico, social e cultural e o envolvimento das pessoas, seja através de mobilizações sociais, filosóficas, artísticas ou pedagógicas. Para compreender melhor a arte na contemporaneidade, faz-se necessário ter clareza de que qualquer análise do período deve levar em conta que estamos “vivendo o momento”, a arte contemporânea está acontecendo agora, está em processo, não temos o distanciamento histórico para que possamos perceber claramente o que estamos realmente vivendo e muito menos um acervo teórico já consolidado que possa dar conta desse período. Nesse sentido diria que fazendo parte da sociedade somos parte do movimento cultural e educativo e que, como tal, parte da dinâmica que influencia e é influenciada pelos acontecimentos.

Se por um lado seria muito mais tranqüilo ser aquele professor de artes visuais que sabe todas as respostas, que conhece os movimentos e os artistas, suas biografias, sua produção, como acontece com a arte clássica ou moderna, por outro lado, o professor de artes visuais hoje, por estar inserido no momento mesmo de produção da arte contemporânea, pode explorar outras formas de compreender a arte, que por estarem em processo possibilitam leituras capazes de gerar experiências mais autônomas e emancipatórias.

Penso que hoje, embora ainda tenhamos alguns ranços oriundos das tendências pedagógicas tradicional, escolanovista e tecnicista, boa parte de nossa formação se deu a partir dos anos 60 com o trabalho de Paulo Freire e da escola libertadora. É a ele que devemos boa parte de nossa consciência política e crítica, o método dialógico, a percepção dos movimentos populares, o olhar mais apurado para com as classes menos favorecidas, o papel da escola frente às transformações sociais e históricas, e, principalmente nosso engajamento e compromisso com as transformações sociais que desejamos para a sociedade.

Nesse ponto, fica claro que a escola, sendo espaço de transformação da sociedade, com professores que trabalham “conteúdos vivos, concretos, ligados às realidades sociais” está mais propensa a trabalhar a arte contemporânea da mesma forma, a partir da ação direta, contextualizada, reflexiva e crítica. O conhecimento trazido pelo aluno, sendo respeitado e somado ao que ele ainda não sabe, tendo o professor como um mediador, que re-elabora essas experiências trazidas pelo aluno de forma dispersa somadas ao novo conhecimento adquirido, significativo, e relacionado com o mundo atual, promovendo as rupturas e continuidades próprias da sociedade em que vivem, que possibilite o “exercício de uma cidadania mais consciente, crítica e participante”.

Desta forma, o professor de artes visuais na contemporaneidade, deve valer-se de métodos que estimulem a autonomia e iniciativa dos estudantes, que propicia o que favoreça o diálogo com o “outro”, respeitando e valorizando as diferenças, levando em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem, sem se descuidar dos conteúdos cognitivos, através de conhecimentos sistematizados e ordenados gradativamente. Nunca esquecendo que essas escolhas não são aleatórias, mas sim, reflexo do que pensamos. Vivemos em um mundo em que pululam imagens de toda ordem (reais e virtuais) em mídias as mais diversas, com diferentes intencionalidades e que fazem parte do universo multicultural em que tanto professores quanto alunos estão inseridos e que os constituem.

“Ensinar Artes, no Brasil, pressupõe que se dialogue com uma diversidade de culturas, etnias, religiões, saberes informais e, também, com toda a inserção de artefatos de consumo e produções midiáticas que atravessam as subjetividades contemporâneas. Essa multiplicidade de forças, discursos, práticas, hábitos, crenças, estéticas e gostos faz do Brasil um país sincrético, onde coexistem e justapõem-se “elementos considerados incompatíveis ou conceitualmente ilegítimos”, como observou o antropólogo Canevacci (1996, p. 22) em seus estudos sobre nosso país. Portanto, pensar o ensino de Artes no Brasil presume uma abordagem intercultural, onde múltiplas culturas e a pluralidade de suas manifestações interagem.” ZORDAN¹

É a partir desse quadro que partimos para a constituição do que entendemos ser um professor de artes visuais na contemporaneidade. Um ser que deixou de ser o detentor da verdade absoluta e passou a ser um investigador-pesquisador que compartilha suas dúvidas e experiências com os alunos; ciente de que o processo é o mais importante; que para ensinar-aprender artes visuais não há uma receita pronta; ensinando ao mesmo tempo em que também aprende; pensando, praticando, apreciando, ciente da “incompletude” que está posta e que deve servir de sinalizador do que se pretende buscar; interrogando muito mais do que respondendo ou “decorando” conceitos que de pouco valerão para a compreensão da arte contemporânea.

Referências bibliográficas:

¹ZORDAN, Paola. Concepções didáticas e perspectivas teóricas para o ensino das Artes Visuais. Disponível em .... Acesso em....(sorry! perdi o link...fico devendo)


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