Caixa de Pandora

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Leitura e Releitura


Leitura e releitura: estabelecendo relações

Para entender as releituras dos estudantes é importante que compreendamos que ela depende da compreensão que o estudante construiu da imagems/obra lida. Essas leituras não são as mesmas e revelam os diferentes níveis de complexidade cognitiva e de pensamento estético de cada estudante, além de sua familiaridade ou não com arte.

O texto, Leitura e releitura: estabelecendo relações, de Rossi e Demoliner, nos apresenta algumas diferenças entre a leitura apresentada por crianças e adolescentes, a partir de uma pesquisa realizada em uma escola de Caxias do Sul.

As crianças interpretam e julgam as imagens a partir de conceitos e valores aprendidos em interações sociais. Vendo na obra apenas aquilo que está fisicamente representado na imagem:

“A leitura da criança das séries iniciais enfoca o real, o concreto, o fisicamente representado na imagem. Para ela, a arte é literalmente a representação do mundo, das coisas que existem ou acontecem. O papel do artista é apenas transferir as características e as qualidades do mundo para a obra. Sendo o artista um copiador do mundo, deve submeter-se a ele tal como é. Em outras palavras, o artista não tem autonomia para “manipular”, para “maquiar” o mundo que quer mostrar, visando à adequação às suas necessidades de expressão.” (ROSSI)¹

Sua releitura seria no mesmo sentido e se relacionaria às coisas e situações concretas, partindo de suas experiências e referenciais visuais. Porém, se os estudantes têm familiaridade com arte, desde as séries iniciais, demonstram uma ampliação de significados, mesmo que ainda misturem o julgamento estético com o moral.

A partir da adolescência, os estudantes têm consciência de sua capacidade reflexiva, “o pensamento formal permite maior abrangência de significados”. Caso já possuam familiaridade com a leitura estética, já pensam em possibilidades, em hipóteses.

“O adolescente vive em um mundo de ideias, conceitos e proposições, e não mais de objetos concretos. Nesse mundo de abstrações, a leitura prioriza a expressividade da obra, revelando sentidos subjetivos. O importante agora é uma mensagem, uma ideia que permita a reflexão sobre questões relevantes.” (ROSSI)

Os estudantes neste nível conseguem afastar-se do que está representado concretamente na imagem e construir sua interpretação de forma subjetiva. Também na releitura, os estudantes são capazes de se ater a um aspecto da obra e estruturar um novo texto. Podendo até ir além, sendo capazes de ressignificar elementos da obra lida a partir de suas visões de mundo, descontruindo e construindo sua própria obra.

“As possibilidades de leitura e releitura não param aqui. Há ainda a leitura que é impregnada da apreciação crítica que o mundo da arte faz sobre a obra, situando-a em um contexto históricocultural. Com essa leitura sofisticada, o aluno não tem interesse em dar continuidade ao que já foi dito sobre a obra. Sua releitura acontece no nível da transgressão, da paródia. Nesse nível, a releitura é “um processo de liberação do discurso.”(ROSSI)

Infelizmente, em função da educação estética não ser uma prioridade em nossas escolas, a maioria dos nossos estudantes, hoje, não ultrapassam esses dois níveis de compreensão e leitura estética. Mesmo no ensino médio, eles apresentam “uma leitura e releitura que enfocam o tema no sentido estritamente físico”.

Não se trata de julgar uma leitura ou releitura melhor que a outra, trata-se de compreender que existem níveis diferentes de compreensão que vão do mais simples, concreto, objetivo ao mais complexo, subjetivo, sofisticado. E que essas construções, interpretações mais abrangentes e subjetivas vão depender de uma maior familiaridade com a leitura estética. Nosso papel como arte-educadores seria o de familiarizá-los com a leitura de imagens, procurando, através da observação, perceber quais os níveis de leitura de nossos estudantes, quais os seus referenciais, seus pontos de partida para a releitura.

Referências Bibliográficas:

ROSSI, M.H. Wagner; DEMOLINER, Isadora. Leitura e Releitura:estabelecendo relações. REVISTA PÁTIO Ano VII - Nº 27 - Dilemas Práticos dos Professores - Agosto a Outubro 2003.

Disponível em: http://www.revistapatio.com.br/numeros_anteriores_conteudo.aspx?id=343 Acesso em 11/05/2011.


Nenhum comentário:

Postar um comentário