Caixa de Pandora

domingo, 15 de maio de 2011

História e Memória 01 - Dewey



“Nós lembramos daquilo que amamos”


Ivan Izquierdo


Nossas leituras da memória podem ser diferentes das leituras da história. A leitura da história, pretensamente pautada pelo conhecimento científico, pela verossimilhança, esquece que é foi escrita a partir do olhar de alguém, um indivíduo, sujeito às interpretações algumas vezes errôneas do olhar, da sua memória, construída pelo olhar, pelo discurso do outro, também um indivíduo, único, subjetivo. Essa interação entre os sujeitos nos remete ao ponto em questão: o que lembramos e o que esquecemos? Na arte não é diferente. Nossas narrativas são realizadas a partir de nosso olhar em relação ao olhar do outro, em interação, em processos de troca que não são as mesmas para todos os envolvidos.


Pensamos hoje o modernismo, as influências, o que houve de positivo e de negativo e nossas lembranças nos traem. O que resgatamos dessa experiência ficou registrado na história e na memória de algumas pessoas, que nos trazem as suas interpretações do que foi essa experiência.



Ana Mae Barbosa em "Entre Memória e História", primeiro texto de seu livro "Ensino da Arte: Memória e História", afirma que o desenvolvimento do modernismo no ensino da arte deu-se sob a influência de John Dewey.


Dewey pensava a arte a partir da estética pragmatista, reflexão-ação, centrada sobre o conceito da experiência. Para esse autor, “a experiência se coloca como um todo vivido, experiência-vida, que une pensamento e atitude, provocando experiências reflexivas.”¹ Experiências estéticas que têm um caráter educativo, transformador e de formação humana; que entende e acredita no ser humano, que “experiencia” o mundo, buscando encontrar as relações de sentido entre seus pensamentos e ações. Podemos dizer que essa experiência estética aliada à reflexão é uma das contribuições importantes trazidas por Dewey para a arte-educação na contemporaneidade. Experiência consumatória que, para Dewey, “é pervasiva, ilumina toda a experiência, não apenas seu estágio final”². Experiência que deve levar em conta o trajeto percorrido, as mudanças que aconteceram no percurso, às diferentes interações e aprendizagens que ocorreram. Infelizmente, constatamos que uma interpretação errônea dessa experiência fez com que muitos professores utilizassem o desenho como recurso didático para reforçar uma aprendizagem em uma última etapa exploratória, finalizando alguns trabalhos, em diferentes áreas do conhecimento, tanto na “escola nova”, quanto em algumas escolas “que se dizem trabalhar por projetos”².


Muita ainda há que se falar sobre as contribuições de Dewey, não apenas para a arte mas, principalmente, para a educação. Lembrando a palestra de Ana Mae, que esteve em Porto Alegre, no Seminário de Arte Visuais sobre História e memória, alguns fragmentos parecem estar ligados a essa leitura e veem à minha memória: a importância do resgate da história como alavanca par a consciência política e cultural do professor de artes visuais, nossa responsabilidade enquanto educadores para com a cultura e a criatividade, a questão do “desempoderamento” do professor. Nossas experiências fazendo de nós melhores professores e melhores seres humanos, no que para Dewey seria reflexão-ação, e para nós uma tomada de consciência de nosso papel frente às necessidades do mundo contemporâneo.




Referência Bibliográficas:



¹ PESSI, Maria Cristina Alves dos Santos. Experiência Estética: constituindo-se professor de arte. Disponível em http://www.casthalia.com.br/periscope/ano4/mariacristina_pessi/experienciaestetica.htm



² BARBOSA, Ana Mae (org.). Ensino da Arte: memória e história. São Paulo: Perspectiva, 2008. Disponível em http://moodle.regesd.tche.br/mod/resource/view.php?id=14686


Um comentário:

  1. Sonia!
    Gostei muito de seu comentário, achei bem interessante no momento em que colocas que o professor traz na história a base de seu conhecimento e sua criatividade. Pois é na realidade o que estamos fazendo em nossas aulas, resgatamos toda uma história até politica para darmos um rumo em nosso objetivo maior que é o nosso aluno.
    Sol

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