Caixa de Pandora

terça-feira, 17 de maio de 2011

Panorâma Histórico do ensino de Artes no Brasil




Panorama Histórico do ensino de Arte no Brasil

Podemos dizer, segundo Fusari e Ferraz, que duas são as vertentes para educação em arte: idealista liberal e realista progressista. Na tendência idealista liberal, a educação por si só poderia garantir a aconstrução de uma sociedade mais igualitária e democrática. São escolas dessa tendência: Escola Tradicional, Escola Renovada Progressista, Escola Renovada Não-Diretiva, Escola Tecnicista. Na tendência Realista Progressista, discute-se as contrubuições da escola para a conscientização do povo. São elas: Escola Libertadora, Escola Libertária, Crítico-Social dos Conteúdos.

Antecedentes históricos

A educação jesuítica, no período colonial, enfatizava mais a literatura do que as belas artes. No século XXI, no período imperial, com a chegada da missão francesa, e a instalação da Academia de Belas Artes, copiavam-se as escolas europeias e a proposta estética era neoclássica. Nesse período a aprendizagem era baseada na mimese, cópia de modelos, através de exercícios de repetição mecânica. O neoclássico surge no Brasil com o Barroco e o Rococó, através das esculturas de Aleijadinho. Enquanto na Europa o neoclássico surge em oposição ao Barroco e ao rococó, buscando inspiração na arte greco-latina e renascentista, no Brasil, o Barroco é tido como “menor” e o neoclássico como uma concepção burguesa.

Arte na escola tradicional

O marco de início da escola tradicional no Brasil é a República. Rui Barbosa, por influências estrangeiras, copiava e transcrevia modelos sem nenhuma preocupação com a cultura nativa. O desenho tinha um caráter utilitário e estava vinculado ao progresso industrial e a preparação para o trabalho. Havia o predomínio da concepção neoclássica e as cópias e exercícios de repetição eram comuns e visavam o aprimoramento e a destreza. Na escola tradicional a ênfase era no domínio dos conteúdos e o que importava era a produção e não o processo.

Arte na escola nova

A escola nova ou Ativa surge no Brasil em 1930 e sua disseminação se dá entre os anos 50-60. É o período que se valoriza a livre expressão, liberta da influência de cânones, padrões e modelos de arte. É um período bastante fecundo e muitos teóricos: Dewey, Lowelfeld, Cizek, Read, pensam a arte e criam teorias. Surgem as escolinha de arte. No Brasil, a arte se desenvolve em espaços extra-escolares, em algumas escolas que se baseiam na expressão da liberdade criadora individual e no papel do indivíduo na sociedade. A ênfase na auto-expressão e a criatividade, com influência dos paradigmas da arte moderna, da psicologia, da psicanálise, da antropologia. O princípio do desenvolvimento e o “aprender a aprender” são mais importantes do que os conteúdos. A aprendizagem pela descoberta, o aprender fazendo, a pesquisa, a solução de problemas. A educação é centrada no aluno e o professor tem a função de facilitador da aprendizagem.

Arte na escola tecnicista

A escola tecnicista surge nos EUA a partir de 1950, mas no Brasil surgiu entre 60 e 70, e tinha como principal função afinar os interesses da sociedade industrial à preparação dos alunos para esse mercado de trabalho. O behaviorismo, base psicológica da proposta, visava adequar o comportamento dos alunos às normas da escola através de estudos dirigidos, mecânicos e racionais. Nesse período a arte não era considerada uma disciplina, mas como “área generosa”. O forte da proposta era o “aprender a fazer”. Acreditava-se na neutralidade científica, com ênfase no uso de manuais, módulos, tecnologia industrial e auto-instrução. O professor responsável pela eficácia e eficiência tinha um papel técnico, “neutro”, “imparcial”.

Arte na escola libertadora

Seguindo as propostas da escola ativa, a escola libertadora: ações interdisciplinares em torno de um tema gerador, práticas não diretivas, conteúdos da arte popular com cunho político e social. Paulo Freire foi o grande nome dessa escola e defendia a conscientização do povo. A ênfase era de uma escola não-formal e crítica, buscando a transformação da sociedade. A postura do professor é de uma relação dialógica com os alunos. A aprendizagem se dava a partir da problematização que visava a tomada de consciência e a militância política.

Escola Libertária

A principal proposta da escola libertária era a autogestão e a não diretividade do processo educativo, com autonomia de professores e alunos. Os conteúdos são definidos pelas necessidades do grupo e o professor tem a função de conselheiro ou monitor. “O importante era crescer em grupo, conforme as próprias aspirações e necessidades, em práticas antiautoritárias.”

Escola crítico-social dos conteúdos

Final dos anos 70, retomam-se os estudos teórico-críticos, buscava-se uma escola pública e de qualidade para que os alunos tivessem acesso aos conteúdos fundamentais para sua formação. A escola crítico-social dos conteúdos “valida a experiência dos alunos com os conteúdos acumulados e em produção para a participação social e exercício para a cidadania”. O papel do professor está diretamente imbricada com sua atuação política e social. Proposta de Libâneo, o professor deve “saber, saber ser e saber fazer” pedagógico. O professor, autoridade competência, passa a ser um mediador entre a experiência do aluno e o saber, sendo responsável pelo processo de ensino-aprendizagem. Parte-se do que o aluno sabe para o saber sistematizado somado à prática social concreta.

Arte na escola construtivista

A partir dos PCNs, Arte passa a ser componente curricular obrigatório, em quatro linguagens: artes visuais, dança, música e teatro. Os eixos de aprendizagem significativa em artes são três: o fazer artístico, a apreciação e a reflexão sobre a arte como objeto sociocultural e histórico. Os temas transversais passam a ser trabalhados interdisciplinarmente. A aprendizagem é construída pela resolução e criação de problemas, interpretação, convívio com as dúvidas. “Construção, relativismo e interação são fatos da aprendizagem”. Conteúdos estão diretamente relacionados com sua utilidade social e formação para cidadania. Os conhecimentos prévios dos alunos servem de base para novas aprendizagens. A escola faz parte de uma rede em que outras instituições trabalham em parceria para uma educação inclusiva e participativa. O professor é responsável pela aprendizagem dos alunos, através de planejamentos de atividades, que desenvolvam o aluno integralmente visando o crescimento e aprendizagem significativas.

Considerações Finais

Acredito que todo professor, hoje mais do que nunca, precisa conhecer as tendências pedagógicas que influenciaram o ensino de arte ao longo da história da educação no Brasil, para que possa não apenas entender o passado, mas também relacioná-la com o presente, com o atual contexto da arte-educação, refletindo sobre o que mudou e o que permanece, visando, sempre, uma reflexão profunda que sirva para que tenhamos consciência do papel da arte no mundo contemporâneo e de suas possibilidades de contribuir para o desenvolvimento cognitivo de nossos alunos em um contexto em que se busca a transformação da sociedade em um mundo mais justo, igualitário e democrático.

Referências Bibliográficas:

¹IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores/ Rosa Iavelberg. – Porto Alegre; Artmed, 2003.



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