Caixa de Pandora

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Conhecimento, Racionalidade e Historicidade

O pensador - Rodin


Conhecimento, Racionalidade e Historicidade


Sônia Maris Rittmann


A partir das leituras e análise da questão da racionalidade e da historicidade, proposta pelo texto de Bombassaro, e da apreciação do vídeo Epistemologia, tentaremos fazer a distinção entre “crer”, “conhecer” e “saber”; se é possível ou não apontar um processo de desenvolvimento das ciências e se existem critérios para definir o avanço do desenvolvimento das ciências.


Começamos pelo texto, que propõe uma possibilidade de considerar historicidade e racionalidade como categorias que definiriam a condição própria do conhecimento humano buscando explicações na forma como essa questão foi tratada por alguns pensadores da filosofia ocidental. O autor define racionalidade como uma característica exclusivamente humana, relacionada com a linguagem e a capacidade do ser humano de relacionar-se com o mundo que o cerca.


“É a capacidade do homem de ser razoável que o distingue das outras formas de vida”. Ao descobri-se racional, “um ser na linguagem”, o homem conscientiza-se da sua necessidade de coexistir, conviver, com o mundo que o cerca e os outros seres. E é nessa coexistência consigo mesmo, com os outros homens e com a natureza que o homem “cria padrões de comportamento, crenças e valores” que constituem a sua cultura. Chegamos então a questão da historicidade, que o autor define como uma relação desse homem com o tempo, a sociedade e a cultura em que vive.


“É no conhecer - processo pelo qual o homem compreende o mundo – e no conhecimento – conjunto de enunciados (formalizados ou não) sobre o mundo, que pode ser demonstrada a presença inseparável” da racionalidade e da historicidade. O conhecimento é, ao mesmo tempo, uma atividade intelectual através do que o homem pretende compreender e explicar o mundo e o resultado concreto de toda atividade humana seja ela individual ou coletiva.


Ao tentarmos distinguir saber de conhecer, começamos lembrando que para Platão saber era “uma opinião verdadeira, sempre acompanhada de uma explicação e por um pensamento fundado”. Já para a Filosofia da Linguagem, saber adquire dois significados básicos: o primeiro, a expressão ‘saber que’ (know that) revela uma forma de saber proposicional que pode ser verdadeira ou falsa, saber está ligado a ‘crer’ (ter por verdadeiro), não há necessidade de confirmação para aceitar algo como verdadeiro; o segundo, a expressão ‘saber como’ (know-how) ou ‘saber fazer’ indica uma ação, uma atividade (ex. saber cozinhar). Saber está associado a poder. Dizer que se sabe é o mesmo que dizer que se pode. Sabendo somos capazes de. Assim, saber é compreender.


“Embora saber e conhecer, em sentido primário, pressuponham a aceitação daquilo que é dito, o conhecer parece indicar uma convivência do falante com aquilo do qual ele fala”. Entre os diferentes tipos de conhecimento que surgiram ao longo da história e da filosofia, destacamos: o conhecimento sensível e o conhecimento inteligível, oriundos da interpretação dualista de Platão sobre as idéias; o conhecimento a priori e o conhecimento a posteriori em que Kant se debruçou; o conhecimento mediato e o imediato, que se baseia na distinção entre perceber e conhecer; o conhecimento por familiaridade e por descrição de Bertrand Russel; e hoje, temos o conhecimento do senso comum e o conhecimento científico; entre outros.


A historiografia da epistemologia do século XX aponta duas tendências distintas: a analítica e a histórica. A primeira, a tendência analítica, foi predominante na primeira metade do século e baseava-se na orientação teórica do empirismo lógico (Círculo de Viena e mais tarde K. Popper) que defendia que a “filosofia consistia, basicamente, numa atividade que deveria tornar claras as idéias, conceitos e métodos mediante a análise lógica da linguagem”. Já a segunda, a tendência histórica, emergiu no final dos anos 50 como crítica às concepções da tendência analítica. Dentro dessa tendência podemos destacar ao menos três garndes vertentes: os pensadores da “nova filosofia da ciência”; os pensadores que negavam radicalmente a tendência analítica e a Escola de Frankfurt, com Adorno e Habermas como principais pensadores.

De forma muito sucinta, podemos dizer que, as três vertentes estavam centradas na crítica à tendência analítica por julgarem a mesma simplista ao analisar “o conhecimento científico pelos enunciados lógicos e deixar de considerar a ação efetiva dos homens que faziam a ciência e o modo pela qual essa ação se realizava”. Criticavam a teoria empirista da percepção e afirmavam que “todas nossas percepções são significativas”. Outro ponto importante é a questão da mudança conceitual e do progresso teórico do conhecimento científico, no qual ocorreram mudanças radicais ao longo da história da humanidade. A partir da tendência histórica percebe-se a valorização da metafísica que fora expulsa da epistemologia pela tendência analítica.


Podemos arriscar uma possível conclusão que indica que, o autor do texto, ao distinguir as duas correntes, define a tendência analítica, positivista e lógica como sendo calcada na categoria da racionalidade, enquanto a tendência histórica estaria centrada na categoria da historicidade. O autor sugere ainda que a epistemologia deveria abolir essa dicotomia e tentar aproximar as duas vertentes, analítica e histórica, para benefício do desenvolvimento das investigações a cerca do conhecimento, possibilitando uma unidade analítica-histórica. Não nos parece que seja um ponto final. Pelo contrário, vislumbramos que a unidade entre história, ciência e filosofia, de forma crítica e não preconceituosa, parece-nos um caminho viável que possibilitará um entendimento de que homem, sociedade, cultura e natureza podem e devem andar juntos, respeitando-se mutuamente e descobrindo a cada momento novas formas de viver. Por que a história e a humanidade mudam, evoluem, avançam e retrocedem. Tudo muda. Conceitos que ‘ontem’ eram tidos como verdadeiros, hoje não o são. Ou como diz a moça do vídeo sobre epistemologia “eu sei apenas que eu sou, não tenho certeza sobre todo o resto. Você tem?”.


Bibliografia:
BOMBASSARO, Luiz Carlos. As Fronteiras da Epistemologia: como se produz o conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1992. Disponível em <
http://moodle.regesd.tche.br/file.php/135/O_contexto_como_Introducao.pdf > Acesso em 19/01/2010.
Vídeo “Epistemology”. Disponível em <
http://www.youtube.com/watch?v=LTvC6ReLw4g&feature=fvst > Acesso em 19/01/2001



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