"Relatividade" - Maurits Cornelis Escher
Tomando por base o texto do professor Bombassaro, que trata da produção do conhecimento, tentaremos descrever a relação entre hermenêutica e epistemologia, definir um conceito de racionalidade comunicativa e por fim, relacionar as diferentes visões epistemológicas com o saber e o agir na área de atuação do professor de artes visuais.
A título de revisão de alguns conceitos explicitados anteriormente, lembremos que, segundo o autor, o conhecimento constitui o lugar privilegiado da racionalidade e da historicidade, e que a distinção entre ‘conhecer’ e ‘saber’ são importantes para o entendimento do antagonismo que existiu, ou ainda existe, entre racionalismo e historicidade. Nas suas próprias palavras “ou se definia o conhecimento pela racionalidade e pouco – ou nada – se considerava sua historicidade, ou se definia o conhecimento pela historicidade e pouco – ou nada – se considerava sua racionalidade”. O autor ainda conceitua as duas principais tendências: a analítica, na qual o conhecimento era definido em função da racionalidade; e a histórica, na qual a historicidade é o elemento mais importante.
Lembremos também que o autor busca a convergência dos termos e em vista disso tece suas considerações, através do levantamento das diferentes concepções de racionalidade e, também, dos diferentes modos de compreender a historicidade na epistemologia atual. Cita Putnam, que aponta uma perspectiva de superação do dualismo entre historicidade e racionalidade e Lakatos, que aponta convergências e complementaridade entre racionalidade e historicidade. O autor aponta que nas últimas décadas “houve um emergir progressivo da historicidade nos debates epistemológicos. E que, alguns desses estudos apontam que “a epistemologia, por si só, é incapaz de mostrar efetivamente como a racionalidade e a historicidade se conjugam”. A epistemologia estaria presa a uma certa maneira de compreender o mundo como sendo produto da consciência, sem levar em conta as questões da temporalidade e da historicidade.
A mudança epistemológica só acontece na filosofia atual, que substitui “as teorias da consciência, ligadas a uma concepção metódica individualista, pelas teorias do mundo prático, onde se acentua o caráter dialógico e comunicativo da razão”. Estamos diante da virada pragmático-linguística, e essa mudança amplia os limites discussão epistemologia, indicando um movimento na direção da interdisciplinaridade, que privilegia a desfragmentação do saber, que até então vigorava. Trata-se agora de compreender as relações entre epistemologia e os demais âmbitos da reflexão sobra a questão.
É nesse contexto de ruptura que surgem, Karl-Otto Apel e Richard Rorty, dois pensadores que defendem que “a epistemologia pode ser complementada pela hermenêutica”. O termo “hermenêutica” provém do verbo grego “hermēneuein” e significa “declarar”, “anunciar”, “interpretar”, “esclarecer” e, por último, “traduzir”. Significa que alguma coisa é “tornada compreensível” ou “levada à compreensão”.As origens da distinção entre epistemologia e hermenêutica remontam a Escola Histórica Alemã que dizia que havia uma diferença metodológica fundada na distinção entre ‘saber’(erklären) e ‘compreender’(versthen). Ambos afirmavam que através da epistemologia somente podemos dar conta dos elementos normativos e metodológicos do conhecimento.
Apel afirmava que “a compreensão – característica básica do método hermenêutico – sempre se faz presente na elaboração da explicação nomológica-dedutiva da epistemologia. (...) e que essa mesma compreensão “é a condição de possibilidade da explicação histórica”. Apel elabora um projeto que ao trabalhar conjuntamente com hermenêutica, epistemologia e a crítica das ideologia, numa completaridade entre as ciências explicativas da natureza e ciências compreensivas do espírito, numa mediação dialética entre ‘explicação’ e ‘compreensão’”, em que ambas seriam as duas faces de uma mesma figura, um dependendo da outra. Para Apel a complementaridade entre explicação (epistemologia) e compreensão (hermenêutica) é o reconhecimento de uma comunidade de comunicação, onde ocorre a interpretação e a interação de ambas, visando um acordo intersubjetivo.
Na epistemologia, tal acordo se dá através da comensuração e na hermenêutica, o acordo seria “resultado da conversação e da argumentação”. Sendo, portanto. Acordos diferentes. Na epistemologia, o importante seria o resultado que se chega após a conversação; já para a hermenêutica, o importante é o processo, que pode ou não levar a um acordo. Ou seja, para a hermenêutica apenas a conversação interessa. Trata-se o conhecimento como atividade discursiva realizada por uma comunidade de comunicação, lugar efetivo no qual se realiza toda a interpretação que o homem faz do mundo. Ao substituirmos o ‘eu penso’ pelo ‘e argumento’, estamos concebendo uma nova maneira de considerar o mundo, onde racionalidade e historicidade andam juntas e se completam, sendo assim, “próprias da existência humana”.
Levando em conta o que foi dito até aqui, podemos dizer que a racionalidade comunicativa privilegia a argumentação através do diálogo intersubjetivo e possibilita diferentes ações oriundas de uma reflexão crítica a cerca da sociedade em que vivemos. Dito de outra forma, através dos diferentes discursos comunicativos produzidos pelos seres que interagem na sociedade é que são produzidos os diferentes tipos de conhecimentos. É o ser humano, no mundo real, em interação com o mundo da vida, da cultura e da relação com o outro que, ao produzir seu discurso, vai se constituindo enquanto ser pensante e produtor de conhecimento. Relações estas que nem sempre são tranqüilas, que podem contemplar conflitos de interesses ou de relações de poder.
A maneira como isso se dá na escola, e mais especificamente no dia a dia dos professores de Artes Visuais, ou de qualquer outra área do conhecimento, vai depender de como professores e alunos se relacionam. Se de forma dialógica, democrática, autônoma, com interação entre as partes, valorização da realidade cultural do meio circundante, com possibilidade de crítica que possa questionar o poder estabelecido, com espaço para a reflexão e a crítica a partir de situações concretas vividas pelos profesores-alunos de forma responsável tanto histórica como política. Ou se de forma autoritária e arbitrária, antidemocrática, antidiscursiva, onde aluno e professor situam-se em espaços, físicos e sociais, de distanciamento e de hierarquia, em que os discursos não são possíveis de se estabelecer ou quando o são, revelam uma situação de assimetria das relações e de poder de um sobre o outro, em que a fragmentação do saber é a regra, onde não visão do todo, prejudicando qualquer possibilidade de diálogo e de construção do saber. Resta saber em que escola, nós estamos inseridos e a quem estamos servindo? A uma escola voltada para o desenvolvimento pleno da cidadania e da consciência autônoma de toda a comunidade escolar. Ou a uma escola onde a instrumentalização e a desumanização é a regra? Difícil responder.
Bibliografia:
BOMBASSARO, Luiz Carlos. As Fronteiras da Epistemologia: como se produz o conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1992. Disponível em < http://moodle.regesd.tche.br/file.php/135/Uma_Proposta_como_Conclusao.pdf > Acesso em 25/01/2010.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995. Disponível em < http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/convite.pdf > Acesso em 25/01/2010.
CRÍTICA: Revista de Filosofia. Hermenêutica. Disponível em < http://criticanarede.com/hermeneutica.html > Acesso em 25/01/2010.
WIKIPEDIA – A Enciclopédia livre. Hermenêutica. Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermen%C3%AAutica > Acesso em 25/01/2010.
Tomando por base o texto do professor Bombassaro, que trata da produção do conhecimento, tentaremos descrever a relação entre hermenêutica e epistemologia, definir um conceito de racionalidade comunicativa e por fim, relacionar as diferentes visões epistemológicas com o saber e o agir na área de atuação do professor de artes visuais.
A título de revisão de alguns conceitos explicitados anteriormente, lembremos que, segundo o autor, o conhecimento constitui o lugar privilegiado da racionalidade e da historicidade, e que a distinção entre ‘conhecer’ e ‘saber’ são importantes para o entendimento do antagonismo que existiu, ou ainda existe, entre racionalismo e historicidade. Nas suas próprias palavras “ou se definia o conhecimento pela racionalidade e pouco – ou nada – se considerava sua historicidade, ou se definia o conhecimento pela historicidade e pouco – ou nada – se considerava sua racionalidade”. O autor ainda conceitua as duas principais tendências: a analítica, na qual o conhecimento era definido em função da racionalidade; e a histórica, na qual a historicidade é o elemento mais importante.
Lembremos também que o autor busca a convergência dos termos e em vista disso tece suas considerações, através do levantamento das diferentes concepções de racionalidade e, também, dos diferentes modos de compreender a historicidade na epistemologia atual. Cita Putnam, que aponta uma perspectiva de superação do dualismo entre historicidade e racionalidade e Lakatos, que aponta convergências e complementaridade entre racionalidade e historicidade. O autor aponta que nas últimas décadas “houve um emergir progressivo da historicidade nos debates epistemológicos. E que, alguns desses estudos apontam que “a epistemologia, por si só, é incapaz de mostrar efetivamente como a racionalidade e a historicidade se conjugam”. A epistemologia estaria presa a uma certa maneira de compreender o mundo como sendo produto da consciência, sem levar em conta as questões da temporalidade e da historicidade.
A mudança epistemológica só acontece na filosofia atual, que substitui “as teorias da consciência, ligadas a uma concepção metódica individualista, pelas teorias do mundo prático, onde se acentua o caráter dialógico e comunicativo da razão”. Estamos diante da virada pragmático-linguística, e essa mudança amplia os limites discussão epistemologia, indicando um movimento na direção da interdisciplinaridade, que privilegia a desfragmentação do saber, que até então vigorava. Trata-se agora de compreender as relações entre epistemologia e os demais âmbitos da reflexão sobra a questão.
É nesse contexto de ruptura que surgem, Karl-Otto Apel e Richard Rorty, dois pensadores que defendem que “a epistemologia pode ser complementada pela hermenêutica”. O termo “hermenêutica” provém do verbo grego “hermēneuein” e significa “declarar”, “anunciar”, “interpretar”, “esclarecer” e, por último, “traduzir”. Significa que alguma coisa é “tornada compreensível” ou “levada à compreensão”.As origens da distinção entre epistemologia e hermenêutica remontam a Escola Histórica Alemã que dizia que havia uma diferença metodológica fundada na distinção entre ‘saber’(erklären) e ‘compreender’(versthen). Ambos afirmavam que através da epistemologia somente podemos dar conta dos elementos normativos e metodológicos do conhecimento.
Apel afirmava que “a compreensão – característica básica do método hermenêutico – sempre se faz presente na elaboração da explicação nomológica-dedutiva da epistemologia. (...) e que essa mesma compreensão “é a condição de possibilidade da explicação histórica”. Apel elabora um projeto que ao trabalhar conjuntamente com hermenêutica, epistemologia e a crítica das ideologia, numa completaridade entre as ciências explicativas da natureza e ciências compreensivas do espírito, numa mediação dialética entre ‘explicação’ e ‘compreensão’”, em que ambas seriam as duas faces de uma mesma figura, um dependendo da outra. Para Apel a complementaridade entre explicação (epistemologia) e compreensão (hermenêutica) é o reconhecimento de uma comunidade de comunicação, onde ocorre a interpretação e a interação de ambas, visando um acordo intersubjetivo.
Na epistemologia, tal acordo se dá através da comensuração e na hermenêutica, o acordo seria “resultado da conversação e da argumentação”. Sendo, portanto. Acordos diferentes. Na epistemologia, o importante seria o resultado que se chega após a conversação; já para a hermenêutica, o importante é o processo, que pode ou não levar a um acordo. Ou seja, para a hermenêutica apenas a conversação interessa. Trata-se o conhecimento como atividade discursiva realizada por uma comunidade de comunicação, lugar efetivo no qual se realiza toda a interpretação que o homem faz do mundo. Ao substituirmos o ‘eu penso’ pelo ‘e argumento’, estamos concebendo uma nova maneira de considerar o mundo, onde racionalidade e historicidade andam juntas e se completam, sendo assim, “próprias da existência humana”.
Levando em conta o que foi dito até aqui, podemos dizer que a racionalidade comunicativa privilegia a argumentação através do diálogo intersubjetivo e possibilita diferentes ações oriundas de uma reflexão crítica a cerca da sociedade em que vivemos. Dito de outra forma, através dos diferentes discursos comunicativos produzidos pelos seres que interagem na sociedade é que são produzidos os diferentes tipos de conhecimentos. É o ser humano, no mundo real, em interação com o mundo da vida, da cultura e da relação com o outro que, ao produzir seu discurso, vai se constituindo enquanto ser pensante e produtor de conhecimento. Relações estas que nem sempre são tranqüilas, que podem contemplar conflitos de interesses ou de relações de poder.
A maneira como isso se dá na escola, e mais especificamente no dia a dia dos professores de Artes Visuais, ou de qualquer outra área do conhecimento, vai depender de como professores e alunos se relacionam. Se de forma dialógica, democrática, autônoma, com interação entre as partes, valorização da realidade cultural do meio circundante, com possibilidade de crítica que possa questionar o poder estabelecido, com espaço para a reflexão e a crítica a partir de situações concretas vividas pelos profesores-alunos de forma responsável tanto histórica como política. Ou se de forma autoritária e arbitrária, antidemocrática, antidiscursiva, onde aluno e professor situam-se em espaços, físicos e sociais, de distanciamento e de hierarquia, em que os discursos não são possíveis de se estabelecer ou quando o são, revelam uma situação de assimetria das relações e de poder de um sobre o outro, em que a fragmentação do saber é a regra, onde não visão do todo, prejudicando qualquer possibilidade de diálogo e de construção do saber. Resta saber em que escola, nós estamos inseridos e a quem estamos servindo? A uma escola voltada para o desenvolvimento pleno da cidadania e da consciência autônoma de toda a comunidade escolar. Ou a uma escola onde a instrumentalização e a desumanização é a regra? Difícil responder.
Bibliografia:
BOMBASSARO, Luiz Carlos. As Fronteiras da Epistemologia: como se produz o conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1992. Disponível em < http://moodle.regesd.tche.br/file.php/135/Uma_Proposta_como_Conclusao.pdf > Acesso em 25/01/2010.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995. Disponível em < http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/convite.pdf > Acesso em 25/01/2010.
CRÍTICA: Revista de Filosofia. Hermenêutica. Disponível em < http://criticanarede.com/hermeneutica.html > Acesso em 25/01/2010.
WIKIPEDIA – A Enciclopédia livre. Hermenêutica. Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermen%C3%AAutica > Acesso em 25/01/2010.
Prefiro definir a Epistemologia como o último degrau deo conhecimento racional em determinada época. É evidente que a racionalidade não é autônoma, portanto, é incapaz de dar conta da verdade absoluta. Mas não vejo como possível analisar o conhecimento de outra foerma, sem um parâmetro que sintetize tudo o que foi acumulado ao longo da história. A aplicação do conhecimento nas atividades humanas obedece a contextos e tendências (a ephistemé de nosso tempo) conforme as exigências dos grupos dominantes. A epistermologia precisa valer-se da racionalidade e historicidade para constituir-se em elemento-chave na descoberta da subliminaridade contumaz do dircurso comum, fragmentado e tendensioso...
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